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Filía, a formiguinha corajosa - Adriana Frosoni

 


Filía, a formiguinha corajosa

Adriana Frosoni

 

Num jardim cheio de folhas, flores e cheirinhos gostosos, vivia uma formiga muito especial: Filía. Ela era uma formiga batedora, aquela que ia à frente procurar comida para todo o formigueiro. E olha... isso não era tarefa para qualquer uma! Filía tinha um faro afiado, patinhas rápidas e um coração do tamanho do mundo.

Ela adorava explorar. Enquanto suas amigas formigas preferiam ficar perto de casa, Filía queria ver o que havia além das pedras, além da cerca, além do mundo que conhecia.

Certo dia, bem cedinho, Filía sentiu um cheiro diferente no ar… doce e delicioso. Era um pêssego maduro caído no quintal do vizinho. Só que o pêssego estava longe, muito longe. Mesmo assim, Filía nem pensou duas vezes. Saiu em disparada, deixando seu caminho marcado com feromônio — um perfume mágico que as outras formigas entendem como um “siga por aqui!”

Quando Filía chegou ao pêssego, ficou com os olhinhos brilhando. Era enorme, dourado e suculento. Ela deu uma pequena mordida e quase dançou de alegria!

Mas… quando tentou voltar para casa… cadê o caminho?

Uma criança havia pisado, sem querer, justo em cima do seu rastro! O cheirinho que mostrava o caminho de volta havia sumido completamente.

Filía ficou parada, com as anteninhas tremendo. Estava sozinha. Muito longe de casa. E pela primeira vez… teve medo.

Então, ela lembrou-se da voz de sua mãe:

— Filía, ser corajosa não é não sentir medo. É seguir em frente mesmo assim!

E foi aí que Filía teve uma ideia brilhante: se ela não podia voltar, que tal chamar as amigas até lá?

Então ela começou a andar em círculos, soltando um aroma — diferente do primeiro — que significava:

“Venham! Achei um tesouro! Estou aqui!”

E não é que funcionou?

Logo, uma linha de formiguinhas apareceu! Vieram seguindo o cheiro da Filía e, juntas, carregaram pedaços do pêssego de volta para casa.

Nesse dia, Filía virou heroína. Mas ela não ficou parada para ouvir os elogios. No dia seguinte, antes mesmo do sol acordar, lá foi ela de novo:

Nariz empinado, o passo apressado e um sorrisinho de conquista escondido.

Afinal, ser batedora é isso: ter coragem de ir aonde ninguém foi — e nunca esquecer o caminho de casa, nem os conselhos da mamãe.




Cabelos perfumados - Ledice Pereira

 




Cabelos perfumados

Ledice Pereira


 

Aquele cheiro de cabelo lavado invadia o ambiente. Tudo ali cheirava a xampu. Mas, onde andaria Gabriela? Procuraram por todos os cantos. Vasculharam cada centímetro do quintal, do ateliê, que ficava no fundo, das ruas de terra, adjacentes. Nada.

Há alguns dias, Gabi não respondia aos chamados telefônicas da família. Estavam todos preocupados. Os rastros de pé molhado indicavam que ela havia saído do banho em direção à porta que ficara semiaberta.

Todos se perguntavam aflitos o que teria acontecido. Cada grupo saiu para uma direção à procura de sinais que levassem a alguma direção.

Aquele perfume os levaria a algum lugar.

A família se perguntava por que não tinha impedido a jovem de se enfiar naquele fim de mundo cercada de floresta por todos os lados.

Os cheiros de mato se misturavam. Eucaliptos, Pinheiros, Manacás, Bromélias, Capim Cidreira, tudo fazia com que os cães farejadores pudessem se perder na procura daquele perfume molhado dos cabelos de Gabi.

Estavam a perder a esperança quando deram com aquela figura que vinha trôpega em sentido contrário. Não se parecia com a jovem cheia de vida que todos conheciam. Ao vê-los, deixou-se cair sem sentidos.

No hospital, para onde a levaram, passou por exames. Havia marcas de amarras em seus punhos, seu corpo estava marcado por picadas de insetos, os cabelos estavam emaranhados, embora ainda exalassem aquele perfume adocicado que direcionaram os cães, e as roupas rasgadas revelavam sinais de agressão. Teriam que aguardar que ela saísse do coma para se inteirar do acontecido.

Só sabiam que não permitiriam mais que ela vivesse ali isolada.

 

 

 

 

Cheiros e Lembranças

 

Ainda hoje posso sentir aquele gosto amanhecido de pãozinho francês, que me remete aos momentos de infância passados na casa dos meus avós.

Fecho os olhos umedecidos pela saudade e enxergo a figura do meu avô, lépido e baixinho, preparando com amor o lanche da tarde.

Era ele que passava o café que perfumava o ambiente atravessando o cômodo e atraindo-nos para a cozinha.

Como esquecer aqueles momentos tão simples, tão sinceros?

Saudade de uma infância com cheiro de carinho.

 

Com Netuno não se brinca - Sérgio Dalla Vecchia

 



Com Netuno não se brinca

Sérgio Dalla Vecchia

 

Lua de mel, período marcante para os casais, momentos felizes com muito amor e novas experiências, normalmente vividos em terras além-mar por noivos mais afortunados.

Bruno e Cintia casaram-se, sendo agraciados com uma viagem para a Europa bancada pelos pais.

Primeiro Lisboa, depois Madri e finalmente Paris, foi a rota escolhida.

Já em Paris, alugaram um automóvel e rumaram para a Normandia, região litorânea dos ventos incertos, fortes, grandes marés e lindas falésias escarpadas.

Cenas de guerra, naufrágios e os imponentes faróis convidaram o casal a conhecê-los in loco.

Após serpentearem pelas pitorescas estradas, chegaram à cidade de Étretat. Lá se encontraram com falésias, que erodidas pelo mar por anos a fio formaram diversas grutas e também praias paradisíacas.

Empolgados, pisavam na branca areia, carimbando-a com as solas dos pés, enquanto rodopiavam de alegria em abraços unissos.

Assim, fotografando, fazendo poses, caminharam até chegarem a uma gruta.

Curiosos transpuseram a apertada boca de entrada, reclinados com água nos joelhos.

O que viram foi deslumbrante! Havia uma piscina natural azul, que, contrastando com a incidência dos raios solares, formavam uma aura singular.

Radiantes penetraram mais a fundo, singrado o azul da piscina salgada, de onde tiraram mais fotos, trocando beijos e carinhos intermináveis.

Assim, o tempo foi passando e a maré subindo.

O casal só se deu conta do ocorrido quando se desenroscou dos carinhos e resolveu retirar-se da gruta. Era tarde demais, não havia mais saída, a maré recheou por completo a entrada.

O desespero aflorou. O que fazer! Martelava nas cabeças dos jovens.

Então Bruno, observador que era, notou vestígios deixados pela maré nas pedras, e a que lhe pareceu mais segura para se protegerem das águas foi uma rocha grande mais ao fundo. Rápido, tomou a esposa nos braços e para lá se dirigiu.

Já sobre a pedra, desceu a companheira, que, apavorada, não parava de gritar.

— Vamos morrer, socorro!

O marido, a muito custo, conseguiu acalmá-la, prometendo que não morreriam ali de forma alguma. Netuno não permitiria!

Assim, abraçados como nunca no topo da pedra grande, somente ouviam o som do mar raspando nas pedras acompanhado pelo bater acelerado dos corações.

Nada a fazer, apenas aguardar!

Flashes de momentos passados pipocavam o casal.

O início do namoro há cinco anos era o que mais pensavam:

A mão na mão, arrepios e logo mais o inesquecível primeiro beijo que selou o início do namoro.

O casamento parecia estar acontecendo naquela gruta, tamanha a lucidez dos noivos, acuados pelo destino incerto e abraçados tremendo de pavor, aguardavam a providência divina.

Assim, lavando os pés dos jovens, a preamar atingiu sua cota máxima e passou o bastão da esperança para a baixa-mar, que a levou junto ao corpo até transpor a estreita saída para a vida.

Netuno não se arrependeu de salvá-los.

O amor prevaleceu!

 

 

 

Memórias de um tempero - Yara Mourão

 




Memórias de um tempero

Conto Sensorial: Olfato

Yara Mourão

 

O restaurante estava cheio. Muita gente falando alto, garçons apressados, tudo o que estraga um bom almoço de domingo.

Isso me causou um distanciamento do que estava à minha volta e tive uma fuga mental para bem longe dali. Na verdade, foi o tempero de um peixe assado que me transportou para lugares entre pessoas de outro tempo e lugar. Para um dia enfumaçado na memória, quando meu irmão chegou do Canadá com uma sacolinha de temperos estrangeiros. Ele comprou um peixe e, amigo e companheiro, veio em casa preparar o legítimo peixe assado canadense!

Mas que dia feliz!

Tudo começou no limpar o bicho ao som de Vivaldi; daí, temperá-lo com nobre esmero: sabores distantes, aroma de neve, capricho talhado no prazer de agradar.

Enquanto o peixe assava, ouvíamos as histórias daquele país longínquo, contado em detalhes amorosos por meu irmão, que sabia o quanto eu apreciava tudo aquilo.

E foi a fumaça mágica do forno e também o cheirinho estrangeiro que se insinuou pela casa, a música e o frio outonal, que marcaram um instante de imensa saudade na minha memória.

Embalada por esse quase sonho, fui retornando ao restaurante barulhento. Olhei à volta e nem me aborreci mais. O cheiro do tempero daquele peixe assado foi o melhor guia de sentimentos felizes num mero domingo, cercada de gente barulhenta, num almoço nada especial, mas que me trouxe um tesouro escondido de saudade sem fim.

 

UM ESPÍRITO INCOMODADO - Sérgio Dalla Vecchia




UM ESPÍRITO INCOMODADO

Sérgio Dalla Vecchia

 

João, é assim que irei chamá-lo. Poderia ser José, Antônio ou outro nome bíblico qualquer.

Yvette era a companheira e esposa. Poderia ser também Odette ou outra ette qualquer da bela época.

João e Yvette casaram-se, ele viúvo, e ela novinha nos seus dezessete anos, com uma vida pela frente.

Dessa união surgiram quatro filhos em intervalos de quatro anos cada.

O casal vivia muito bem, ela dona de casa exemplar e ele advogado sério e formal.

A harmonia existia naquela família até que, num certo feriado, o casal foi repousar após o almoço, quando do nada a porta do quarto se abriu e um só saiu do quarto em desespero. João ficou paralisado na cama por um AVC.

Ambulância, prantos, hospital e logo o funeral. Lá se foi o João. De cima, seu espírito incomodado observava a confusão.

Não entendia nada. Como pôde haver uma mudança tão brusca na sua existência? Da cama para o etéreo!

Deveriam ter me avisado de que morreria naquele feriado. Mas assim, de supetão, um advogado não pode aceitar. Vou impetrar na justiça e quero ver quem ganhará!

Assim o fez, mas Themis sobrecarregada com as causas do mundo, colocou o processo por baixo da pilha. Assim, João, enquanto aguardava o andamento, aproveitou para rondar os arredores da casa da família.

Observava o primogênito formado engenheiro já trabalhando na profissão.

Os outros filhos cursando também a faculdade de engenharia.

Isso o confortava muito. Missão cumprida enquanto vivo.

Mas a minha Yvette! Como está linda nos seus quarenta anos. Percebeu agora a diferença de idade de quatorze anos que havia entre eles. Isso doía.

Seu espírito se contorcia feito uma toalha molhada espremida, dela só vazavam ciúmes e ciúmes!

Yvette logo arrumou um namorado, que ainda por cima era médium.

Certo dia, o namorado estava na sala sozinho, quando de repente surgiu João vindo em sua direção! O namorado médium entendeu que poderia ser um parente da Yvette e logo levantou-se para cumprimentá-lo. O encontro dos dois foi hilário. Se trombaram, o namorado querendo cumprimentar e o João, com o punho fechado, desferindo um violento soco na cara do rival. Ele, além de não sentir nada, confuso, viu aquele vulto saindo pela parede. Nem desconfiou que era a alma do marido.

Frustrado por perceber que alma não consegue dar soco, João voltou triste para o etéreo, mas conformado de que agora estava em outra vida e que sua passagem pela terra foi promissora.

Passaram-se alguns anos e o namorado da Yvette faleceu.

Não sei o que aconteceu quando encontrou João no plano espiritual.

Será que lá o soco pega?

 

 

 


A vida dá reviravoltas - Silvia Villac

 

 


A vida dá reviravoltas

Silvia Villac

 

 

 

— Papai esteve aqui? Perguntou Laura, tão logo abriu a porta de entrada.

— Você sabe que não! Respondeu sua mãe com uma voz meio exasperada. — Aquele homem jamais colocará os pés aqui novamente!

O perfume que Dr. Paulo sempre usara a vida inteira ainda estava impregnado nos ambientes do apartamento.

— Mamãe, temos que reformar e pintar tudo por aqui, para ver se conseguimos apagar essa maldita lembrança olfativa.

Após 33 anos de casamento, Dr. Paulo resolvera sair do armário e comunicou a todas — sua mulher e as duas filhas — que estava saindo de casa para viver com seu novo grande amor: o dentista da família!

O que era para ser um dramalhão acabou por se tornar a própria tragédia grega. O almoço que estava servido, cuja iguaria lembrava um típico bistrô francês, permaneceu intacto e só se ouviu o arrastar da cadeira quando ele se levantou e saiu pela porta da frente.

som da batida da porta ecoou como um estrondo de uma pedreira sendo dinamitada e, por alguns minutos, que pareceram horas, só se ouvia aquele silêncio perturbador tomando conta do ambiente.

Laura foi a primeira a se manifestar, dizendo ser o fim dos tempos. A mãe, visivelmente chocada, não conseguiu balbuciar uma única palavra sequer e foi Isabel, a filha mais velha, que tomou as rédeas da situação, informando a elas que aquele velho sem vergonha ia ficar sem um tostão: 

— Ele perde o dinheiro e nós perdemos o dentista!

 

Mar Aberto - Adriana Frosoni

 

 


Mar Aberto

Adriana Frosoni


Camila o sentiu antes de vê-lo. O perfume amadeirado e cítrico de Rodrigo, seu ex-amante, atravessou os três anos de ausência como uma flecha. No convés do cruzeiro, cercada pelo cheiro de sal e pela culpa, ela congelou. Henrique, seu marido, distraído entre os amigos, não percebeu.

Camila temia que um gesto em falso ruísse o frágil castelo de silêncio que sustentava seu casamento. À noite, enquanto fingia tranquilidade ao lado de Henrique no jantar, a fragrância de Rodrigo voltou a invadir o ar — e a memória. Ele surgiu com um blazer branco, sorrindo com a velha insolência. Era o mesmo: envolvente, descomprometido, devastador.

Mais tarde, sozinha na cabine, ela relembrou a noite em que tudo começara a desmoronar — um beijo ignorado por Henrique, a frustração silenciosa, o fim da intimidade do casal. Tudo isso culminou na entrada furtiva de Rodrigo em sua vida. As lembranças foram interrompidas por um bilhete deslizado por debaixo da porta:

“Cruzeiros são ótimos para encontros inesperados. Convidei o acaso e ele aceitou.”

Sem assinatura. Sem data. Sem remorso.

Na manhã seguinte, Camila subiu ao convés. O bilhete ainda pesava no bolso. Ela se apoiou na balaustrada quando sentiu o calor de uma presença atrás de si. Não se virou.

— Vá embora, Rodrigo. Você não sabe mais nada sobre mim.

— Sei o suficiente — disse ele, numa voz insinuante. — Sei que entre o desejo e a convenção, você escolheu o primeiro. Mas depois me enterrou como se eu fosse um erro.

Ela se virou de frente para Rodrigo:

— Quer saber? Conte ao meu marido, vá em frente! Faça deste cruzeiro um espetáculo. Não tenho medo de você, nem dele.

Rodrigo murchou. Ela, não.

Em passos firmes, Camila desceu para a aula de yoga.

Ao voltar para a cabine, Henrique despertava.

— Foi ver o nascer do sol?

— Fiz um pouco mais que isso — respondeu, serena.

E, naquela manhã clara, enquanto o navio cortava o mar, Camila descobriu uma liberdade que era só dela. Íntegra. Ancorada. Pronta para navegar, ainda que viessem tempestades.

PROJETO ESCRITORES NA PAUTA

PROJETO ESCRITORES NA PAUTA

A AULA É SUA!

Pesquise a vida e obra de um dos autores abaixo. Anote curiosidades. Veja a bibliografia dele. O gênero que mais aplicava nos textos. Observe o estilo literário. Leia uma obra, um poema, um conto do autor, e faça a análise do texto literário. Marque trechos da obra para os colegas conhecerem. Traga muitas curiosidades.

Será gratificante “descobrir” esses escritores:


Alô, EscreViver!

Escolha um dos escritores abaixo para explanar sobre

 a vida e obra dele:


GUIMARÃES ROSA:

João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, pequena cidade do interior de Minas Gerais, no dia 27 de junho de 1908. foi uma das principais expressões da literatura brasileira. O romance "Grandes Sertões: Veredas" é sua obra prima. E morreu em 1967.


EUCLIDES DA CUNHA:

Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em Cantagalo, Rio de Janeiro, no dia 20 de janeiro de 1866. Suspeitando que estivesse sendo traído por sua esposa, Euclides dirigiu-se para a casa do amante (que era oficial do Exército e atirador) e sem êxito tentou alvejá-lo, mas foi assassinado com três tiros que atingiram o coração e o pulmão. (Anos mais tarde, seu filho tentou uma vingança, mas teve o mesmo fim do pai).

Euclides faleceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de agosto de 1909.


ARIANO SUASSUNA:

Ariano Vilar Suassuna nasceu no Palácio da Redenção, na cidade de Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, capital da Paraíba, em 16 de junho de 1927, e morreu em 2014.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE:

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira de Mato Dentro, interior de Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902. Morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.


MONTEIRO LOBATO:

José Renato Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, São Paulo, no dia 18 de abril de 1882. Ao nascer. Era filho de José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Monteiro Lobato. Após a morte do pai fez alteração no nome para ficar igual ao pai, então passou a se chamar José Bento Monteiro Lobato.


GRACILIANO RAMOS:

Graciliano Ramos de Oliveira nasceu na cidade de Quebrângulo, Alagoas, no dia 27 de outubro de 1892, faleceu no Rio de Janeiro, no dia 20 de março de 1953, vítima de câncer de pulmão. Teve praticamente 20 anos de vida literária, mas suas obras ficaram para a história.


LIGIA FAGUNDES TELLES:

Lygia Fagundes Telles nasceu em São Paulo, no dia 19 de abril de 1923, e faleceu aos 98 anos em São Paulo em 3 de abril de 2022. Romancista e contista, membro da Academia Paulista de Letras, da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa.


CECILIA MEIRELES: 

Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no Rio de Janeiro no dia 7 de novembro de 1901. faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de novembro de 1964. Seu corpo foi velado no Ministério da Educação e Cultura.


JOÃO CABRAL DE MELO NETO:

João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife, Pernambuco, no dia 9 de janeiro de 1920. faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de outubro de 1999, vítima de ataque cardíaco.


CASTRO ALVES:

Antônio Frederico de Castro Alves nasceu na vila de Curralinho, hoje cidade de Castro Alves, Bahia, em 14 de março de 1847. Faleceu em Salvador, no dia 6 de julho de 1871, vitimado pela tuberculose, com apenas 24 anos de idade.




São Paulo dos anos 40 – 50 - Ises Abrahamsohn

 

Belvedere Trianon nos anos 40

São Paulo dos anos 40 – 50

Ises Abrahamsohn 

 

       Irene descia a escada tentando enxergar a amiga Gisela em meio à multidão que se aglomerava no cais. O sol tropical quase a cegava, apesar dos óculos escuros. E o calor úmido sufocante… Ainda bem que lembrara de colocar seu chapéu de abas largas e o tailleur de linho. Muitas companheiras de travessia sufocavam dentro de seus pesados vestidos de lã, alguns com golas de pele.  A fila para entrar no armazém da alfândega era enorme. Era o mês de março de 1946. O navio vinha lotado. Após o final da guerra, um grande número de pessoas voltava da Europa para o Brasil. Assim como ela. A travessia demorara 24 dias. Dois a mais do previsto, culpa dos ingleses que, em Funchal, na Madeira, subiram a bordo à procura de criminosos de guerra. O militar inglês a olhara com suspeita por ser alemã. Teve que explicar que tinha família no Brasil e que vinha de Portugal, onde passou os últimos dois anos trabalhando. Sorte que era fluente em inglês. Afinal, tinha trabalhado vários anos como secretária na Ford e no Lanifício Pirituba, em São Paulo, antes de voltar para a Europa em 1932.

       Finalmente chegou sua vez na inspetoria da alfândega. Duas grandes malas de navio, a valise de mão para uso durante a viagem e a sua chapeleira, aquela mala especial para chapéus que tinha comprado em bom estado em Lisboa.  Os funcionários da aduana não a incomodaram.  Estavam com pressa, e ela, ao lhes falar em português, não era um alvo fácil de alguma falsa cobrança.


Sua amiga Gisela já estava a postos com dois carregadores de bagagens que as acompanharam até o automóvel. Era um Chevrolet 1946 preto básico, mas Irene se espantou. Não sabia que a amiga guiava e muito menos que possuía automóvel. Ela lhe explicou que sim, aprendera a guiar, mas que o automóvel havia sido emprestado do mecânico chefe, da General Motors, apenas por um dia.  Ela ajudara o homem em alguns assuntos bancários.

Irene estava cansada, mas ainda se maravilhou com a viagem pelo caminho do mar. A densa mata atlântica impenetrável, tão diferente das comportadas florestas europeias onde se podia caminhar entre as árvores. 

Finalmente chegaram a São Paulo. Irene ficou em um casarão na rua Peixoto Gomide, cuja proprietária alugava quartos e fornecia o café da manhã e um chá à noite.  Combinou com Gisela de se encontrarem no domingo no restaurante do Trianon. Iria aproveitar para datilografar seu currículo atualizado e se candidatar aos empregos de secretária executiva. Havia grande procura por pessoas capacitadas e que sabiam falar várias línguas. Ademais, as mulheres brasileiras de classe média raramente trabalhavam fora de casa, situação diferente da Europa e da América do Norte. Irene havia trabalhado em grandes companhias na Alemanha, antes de conseguir escapar para Portugal, onde passara os últimos anos da guerra como secretária da legação comercial em Lisboa.

No domingo, caminhou a pequena distância até a esplanada do belvedere do Trianon, acima do túnel da nova avenida nove de julho. De lá, a vista alcançava o verde de chácaras que pontilhavam a paisagem até o vale do Anhangabaú. Ao longe, no centro da cidade, via-se o imponente edifício Martinelli de 30 andares e os contornos do Mosteiro de São Bento.


Irene ficou a admirar como São Paulo havia se desenvolvido nos quase 15 anos em que esteve fora. Porém, era bom voltar… Queria deixar a Europa para trás, a guerra, os bombardeios, o racionamento e recomeçar uma nova vida.

Ao entrar no restaurante do Trianon logo avistou Gisela já sentada em uma mesa na companhia de duas amigas. A conversa se desenvolvia animada quando, subitamente, Irene emudeceu. Agarrou a mão da amiga e abaixou-se, escondendo o rosto.


Tenho certeza de que é ele, murmurou. É um homem muito perigoso e cruel. Não tenho certeza se me viu.


Sim, ele a havia visto e percebido que ela o havia reconhecido. Mas o semblante não se alterou e o homem estrangeiro se dirigiu ao fundo do restaurante.

 Irene, transtornada, rapidamente saiu do restaurante acompanhada pela amiga. No caminho, ainda abalada, explicou para a amiga. Ele era um dos grandes da cúpula do partido nazista, muito influente, e trabalhava junto ao pessoal da Gestapo, a polícia política.  Fazia investigações nas empresas que tinham contrato com o governo e foi assim que eu o vi em algumas reuniões da diretoria da firma onde eu trabalhava. Eu estava presente como secretária e devia taquigrafar as conversas para elaborar um relatório. Quando a reunião terminou, o sujeito, chamava-se Mencken, me puxou para o lado e colocou bruscamente a mão sobre meu ombro. Ordenou que apagasse todas as minhas anotações. E, antes de se afastar, mais uma vez apertou com força o meu ombro. Tive que relatar ao meu chefe o ocorrido. O tenente Mencken, era temido, cruel e investigava possíveis adversários do regime. Como vários outros, ele  deve ter escapado, disfarçado, ao final da guerra para a América do Sul e vive aqui sob outro nome. Certamente está na lista dos mais procurados.  Se ele me encontrar ou descobrir onde moro, vai me matar.

Irene estava apavorada. O certo era que não poderia mais circular por ali ou andar na cidade. Gisela resolveu levá-la para sua casa no afastado  bairro do Brooklin com a recomendação de não sair. Não adiantava ir à polícia. Muitos eram simpatizantes do nazismo desde o tempo da ditadura Vargas.

Gisela resolveu abordar seu chefe americano, Mr. Thompson, na General Motors. Ele não tinha sido combatente, mas servira no serviço de Inteligência dos aliados. O executivo propôs se encontrar com Irene dali a duas semanas na fábrica da GM em São Caetano.  Irene e Gisela, no dia marcado, foram de bonde até o centro e, na Estação da Luz, seguiram com o trem até São Caetano. Irene estava o tempo todo preocupada com algum possível perseguidor. Mr. Thompson acalmou-a e a fez sentar a uma grande mesa, onde abriu uma pasta contendo cópias de fotografias.


Estas são fotos de membros dos altos escalões do partido nazista que estão sendo procurados mundialmente. Eu consegui isto porque também aqui em São Paulo eles estão sendo procurados por policiais especiais. Peço para você examinar atentamente e, quando puder ter certeza, mostrar o homem que viu no Trianon.


Irene logo identificou a foto de Mencken na terceira folha do caderno.


— Sim. Aqui está. É ele mesmo. E o sobrenome está correto. O que vai acontecer?
Não sei, senhorita. Vou repassar sua informação e veremos o que vai acontecer. Enquanto isso, fique na casa de sua amiga e não circule pela cidade. Você vai saber.


Irene ainda teve que aguardar duas semanas. Numa terça-feira, um envelope marrom sem remetente chegou à casa de Gisela, onde, ainda escondida, continuava a morar.  Continha apenas um pequeno recorte tirado de um jornal de Nova York: “Conrad Mencken, importante dirigente nazista, foi apreendido e espera julgamento no III tribunal militar internacional em Nuremberg.”

Finalmente, Irene pôde voltar à sua vida normal. Logo conseguiu um excelente emprego na própria GM na diretoria de vendas. Ainda cruzou algumas vezes com Mr. Thompson no corredor, apenas trocando um bom-dia. Soube alguns meses mais tarde que ele fora indicado para um cargo na filial de Buenos Aires. O que fez Irene pensar qual de fato era a principal ocupação do americano Mr. Thompson .