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Antologia 2024: PARTIDAS E CHEGANÇAS. - Sobre criar histórias e publicá-las. - FOTOS

 


(Antonia, Dr Braga, Malina, Adriana, Suzana e Dr Oswaldo. A Silvia e o Gustavo saíram mais cedo e não aparecem nesta foto.)



OBRIGADA, ESCRITORES DO ESCREVIVER!

Sobre criar histórias e publicá-las.

Sobre a Antologia 2024: PARTIDAS E CHEGANÇAS.

 

 

É sempre um prazer enorme dividir com vocês a alegria de vocês ao publicar um livro.

Uma tarde de autógrafos é sempre um marco especial para cada um. Foi assim com o lançamento da obra PARTIDAS E CHEGANÇAS, livro escrito por aqueles que tiveram coragem de transformar sonhos em palavras e palavras em histórias. Sim, precisa de coragem para criar, precisa de coragem para se despir da realidade e criar a ficção.

Aos nossos queridos alunos de escrita, todos eles, de hoje e de sempre, e em especial aos autores da antologia 2024 PARTIDAS E CHEGANÇAS, quero dizer que esta é uma conquista que carrega mais do que páginas preenchidas; carrega esforço, criatividade e a vontade de compartilhar mundos que só vocês poderiam criar.

Como já foi dito um dia, vocês não são apenas escritores, são tecelões de ideias, sentimentos e imaginários que agora ganharam vida.  Cada linha escrita reflete um pedaço de vocês, um esforço genuíno de dar forma ao fantástico, e isso nos dá muito orgulho.

Também dedicamos nossa gratidão ao CLUBE ALTO DOS PINHEIROS, ao DEPARTAMENTO CULTURAL e sua DIRETORIA, que oferece o espaço para aprendizado, inspiração e crescimento. O espaço escolhido para o evento do lançamento foi o Bar Baríssimo, um lugar acolhedor, espaçoso, muito bem mobiliado. E a música do saxofonista Carlos abrilhantou o evento. Todos os detalhes estavam perfeitos. Parabéns ao Departamento Cultural pelos preparativos.

Saibam que a OFICINA DE ESCRITA CRIATIVA ESCREVIVER desde o ano de 2012 fica na sala de cursos na Biblioteca, lugar apropriado para leitores e escritores. E, do EscreViver sou coordenadora desde o começo, do que muito me orgulho.

Não imaginam como é prazeroso ver os nomes que estiveram conosco hoje no lançamento, o mesmo prazer sentimos com os nomes que já passaram pelo EscreViver deixando linhas, rimas e histórias publicadas no blog e nos livros. 

Vejo com alegria os mais de 50 livros publicados pelos escritores nesse período, textos premiados, livros premiados que merecem destaque. Vejo o prazer nos olhos de cada um, a satisfação de contarem sobre suas criações e publicações, a aproximação com netos e amigos, a realização do novo…

O ESCREVIVER não agrega apenas incentivo literário, ou apenas fornece ferramentas necessárias para uma boa escrita, não somente isso. O EscreViver aproxima pessoas que buscam incentivo para prosseguir com prazer e realizar novas descobertas.

É graças ao ambiente acolhedor, aos recursos compartilhados e à paixão em promover o poder da escrita que tantos talentos têm florescido nos nossos livros.

O clube não é apenas um lugar onde se pratica esportes ou se reúne com amigos, é também onde se aprende, onde se vivem experiências inovadoras, onde as pessoas se encontram com elas mesmas.

E o ESCREVIVER é uma comunidade onde se sonha junto, onde as palavras se coordenam em eco e as histórias encontram um lar.

Todos os escritores do EscreViver saibam que suas palavras têm o poder de tocar corações, despertar mentes e inspirar o mundo.

Continuem escrevendo, dentro ou fora do ESCREVIVER, continuem a sonhar e nunca deixem de acreditar na força que cada história carrega. Nunca deixe apagar a chama da criatividade, do inesperado, do amor que os personagens carregam nas histórias e despertam na gente. 

A cada texto, a cada aula, vamos plantando sementinhas textuais, com isso, muitas páginas brilhantes ainda virão!

 

Parabéns, autores:


Adriana Frosoni

Antonia Marchesin Gonçalves

Dr. Fernando Braga


Gustavo Kosha

Maria Luiza Malina


Dr. Oswaldo U. Lopes

Silvia Villac


Suzana da Cunha Lima




ESPAÇO RESERVADO PARA FOTOS DO EVENTO:








Nove Anos de Silêncio - Yara Mourão

 




Nove Anos de Silêncio

Yara Mourão

 

Um nascimento é uma festa, uma agitação. Um renascimento também.

Só que a espera é uma sensação e a esperança é um sentimento.

Se esgueirando pelas portas abertas, a vida quer acontecer de qualquer forma. Ainda que perturbando a ciência e glorificando os céus.

Bento é como um baú enterrado com mensagens para serem lidas no futuro, quando forem descobertas. E, também, é uma testemunha do tempo. De qual tempo? Desse que passa célere e impiedoso, queimando memórias e roubando vivências.

Quando apareceram os primeiros sinais de que Bento acordaria de seu coma profundo, houve uma comoção enorme. Toda a família acorreu ao leito. Entre lágrimas e orações, os apelos de todos fizeram os olhos de Bento se abrirem, suas mãos tocarem outras mãos e ele balbuciou sons incompreensíveis.

Depois que todos se foram, Bento se deu conta de que existia.

Mas, ser um homem, o que seria? Seu corpo lhe era desconhecido; mexer qualquer coisa era estranho e doído. Enxergar luzes e sombras, grandes superfícies ou detalhes pequenos tudo era bem instável ainda. Mesmo perdido nessas sensações, ao menos estava feliz percebendo que ainda estava vivo.

E assim se passaram dias, semanas. Um pouco a cada dia Bento veio ao mundo. Ao mundo que ele não conhecia mais.

Não tinha lógica o que via nos jornais, ou na T.V. O idioma era quase outro, recheado de abreviações incompreensíveis. E aquela maneira silenciosa e interminável de comunicação pelo celular o incomodava bastante.

Bento nem gostava de lembrar de seus anos passados. Já tinha pudor de fazer perguntas, as pessoas se impacientavam com ele. Pois tudo lhe causava espanto e desilusão: “ Brexit? Como assim? Covid-19? O que é isso? A rainha morreu? Tsunami implacável?” Era uma jornada diária de sustos e decepções, o que levou Bento a crer que dormira mais de um século.

Começou a formar uma nova filosofia para a sua vida onde o tempo, ganho ou perdido, era apenas uma questão de perspectiva, e que ele não iria mais se angustiar com isso. Só queria viver.

Assim, seguiu a vida.

E um dia, cansado de tantas voltas que o mundo dá, chamou de lado o companheiro de sempre, e disse assim, meio ansioso: “Sabe, uma coisa eu gostaria muito de saber: será que nesse tempo todo o Corinthians foi campeão?”

Ai, Bento, essa não!

Na verdade, creio que por mais que se filosofe, uma coisa é eterna: o coração dos homens é uma caixinha de surpresas, e às vezes, mais vale uma pequena notícia do que uma grande revelação!

                                                                                                                                                                                                                  

FELÍCIO, O BOM VELHINHO - Antonia Marchesin Gonçalves

 




 

FELÍCIO, O BOM VELHINHO.

Antonia Marchesin Gonçalves.


    

Felício estava em paz naquele dia, havia acabado de enterrar sua mãe querida.

Era filho único, morando no sítio no interior de São Paulo, onde cresceu e desde bem pequeno ajudou os pais, convivendo com o dia-a-dia da agricultura.

Aprendeu a realizar todas as tarefas do preparo da terra, plantio, colheita, armazenamento e venda dos produtos.

Quando os pais envelheceram e adoeceram, ele cuidou deles. Primeiro o pai, e depois a mãe. Apesar do desolamento, via-se com a missão cumprida.

Meses depois, começou a sentir a casa vazia. Era natural o silêncio e arrebatamento com o avançar da idade. Mais tarde, o início de ansiedade e solidão. Foi quando pensou: não posso deixar que a depressão assuma minha vida, preciso fazer algo.

Felício, então, teve uma ideia que lhe parecia satisfatória. Ligou para a Prefeitura, pediu autorização para trazer, uma vez por semana, as crianças da creche ao sítio. Eram crianças de cinco a sete anos. Ele era um homem rico, não teria problema em financiar tudo, desde o transporte até a cozinheira. Teriam as crianças o café da manhã e almoço elaborados com frutas, legumes e verduras colhidas na propriedade. O lanche da tarde teria leite de suas duas vaquinhas.

A direção da escola considerou que seria um bom aprendizado a vida no campo e autorizou o passeio semanal das crianças. Seria uma atividade de mão-dupla, aprenderiam as crianças e fariam companhia para Felício, o bom velhinho.  Os professores, imediatamente, organizaram aulas semanais ao ar livre, onde aprenderiam a plantar, regar e colher. Com Felício aprenderiam, além de todas as tarefas de cultivo, a manter a casa em ordem, mesmo que estivesse sozinho.

Felício ficou muito feliz com a programação e trabalhava para que tudo fosse prazeroso para as crianças. Chegou a montar um playground completo na vasta área próxima à casa.  

Com o tempo, tudo virou uma encantadora realidade. Os seus gatos e cachorros se acostumaram com as crianças e interagiam felizes.

Certo dia, ele se sentiu muito mal e não conseguiu se levantar. Faleceu ali mesmo, entre os lençóis alvos e o cheiro da grama que entrava pela janela. Naquele dia, mais tarde, as crianças o encontraram morto. Para os pequenos, foi um susto muito grande, já estavam tão acostumados aos mimos de Felício.

O prefeito realizou um sepultamento digno de uma celebridade, a escola fechou para o enterro, as crianças totalmente desconsoladas foram dar adeus ao bom amigo Felício.

No testamento de Felício, o sítio foi doado para a creche como lugar de educação contínua sobre agricultura, resiliência, alimentação saudável e dedicação. Ficaria a responsabilidade de manter a tradição de passar um dia por semana, ou mais, cultivando seus próprios alimentos.

A uma semana do Natal, as crianças o apelidaram de Papai Noel, o bom velhinho.