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Qual a comida mais marcante da sua infância? - Relembrar é umedecer os olhos

 

 




Qual a comida mais marcante da sua infância?

Relembrar é umedecer os olhos

 

Para mim, o recorte da existência chamado infância é um pedaço do céu.

As lembranças entremeiam a nostalgia, o tempo é meio nublado; mas quando é iluminado, a vida se enfeita e grande felicidade se instala no coração da gente.

Minha casa de infância, minhas pessoas, são a raiz que sustenta o melhor de mim.

Mãe e pai eram mineiros, raízes! No linguajar adorável, cheio de “uai, gente, né, não? Um tiquim de nada” e por aí vai. E na malemolência das ordens, dos carinhos, da aceitação incondicional de nossas birras e manias.

Fato importante era o comer. E comer bem, o que podia incluir arroz feito na banha, torresminho, coca cola, doce de leite e outros itens hoje jurados de morte.

Mas tenho especial carinho pelo prato que papai nos preparava, com calma e rigor quase acadêmico! A iguaria chamava-se mexido.

Primeiro de tudo era a preparação, quase um ritual. Mamãe já avisava, com um sorriso maroto, falando baixinho como se fosse um segredo: “Hoje seu pai vai fazer um mexido”. Era festa garantida!

O preparar os vasilhames, picar com esmero a cebolinha, o bacon, a linguiça, o tchisss do fritar dos temperos e o aroma salgadinho se espalhando impiedoso pela cozinha, eram a ante sala do paraíso. Pai só comandando o andamento, colher de pau na mão, um maestro e sua batuta! Vez por outra ouvíamos um “sai daí, menino, vai se queimar!”. Então corríamos rindo pela casa, à espera do jantar.

Pai tinha os gestos de um patriarca: calculados, fazia tudo com ar de grande mestre, esboçando um sorriso à toa, contando os “causos” de sua infância em Diamantina. Ouvíamos alegres. Tudo era bom, feliz, sem data pra acabar!

Que saudades, papai, de você, de seu sorriso e de suas histórias! E do mexido, claro. Não sobrava nem um tiquinho no prato. Mamãe brincava dizendo que não precisava nem de lavar, era só guardar.

E mais tarde, à hora de dormir, pai ficava no quarto com a gente, e a pedidos, recomeçava suas histórias que começavam sempre assim: “Uma ocasião lá em Diamantina…” Nem lembro como acabavam. Dormíamos felizes, de barriga cheia e coração quente!

 

 

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