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Avalanche de recordações - Adriana Frosoni

 



Avalanche de recordações

Adriana Frosoni

 

       Ana se sentou àquela mesa alta, de madeira, e o som familiar do ranger das cadeiras trazia uma avalanche de recordações. Ao redor, o jardim estava exuberante como sempre, mas ela sabia que o verdadeiro tesouro daquele lugar estava nas histórias que ele guardava.

       Aquele espaço do clube era o refúgio dela e dos amigos. Sempre depois das aulas, corriam para lá, largando as mochilas no chão de tijolos e se acomodando nos bancos altos. A mesa redonda testemunhou risadas, segredos sussurrados e sonhos compartilhados.

       Ela se lembrava particularmente de uma tarde de verão. O sol estava brilhando forte e o calor era quase insuportável, mas à sombra do quiosque ninguém se importava. Com um celular tocando suas músicas favoritas, eles se perderam na hora e na despreocupação própria da idade. Ricardo, o piadista do grupo, contava uma história absurda sobre uma aventura que ele alegava ter vivido, enquanto todos riam e o provocavam.     

       Luiza, sempre sonhadora, falava sobre seu desejo de viajar pelo mundo. "Vou conhecer cada cantinho deste planeta", dizia ela, com os olhos brilhando de determinação. Ana, por sua vez, imaginava-se como uma grande artista, com suas pinturas expostas em galerias renomadas. Cada um tinha seu sonho, e ali, sob as árvores e com o cheiro das plantas ao redor, tudo parecia possível. O tempo era infinito.

       Foi também naquele lugar que cada um experimentou o primeiro beijo e viveu seu primeiro amor. O que nenhum deles imaginava era que, depois de anos de futebol, festas de aniversário e brincadeiras na piscina, esse primeiro passo em direção à vida adulta os levaria ao afastamento.

       Com as brigas de ciúmes e os interesses cruzados, o grupo começou a se dispersar. Outras novidades começaram a ser percebidas. Ricardo foi estudar em outra cidade, Luiza realmente embarcou em suas viagens pelo mundo, Ana mudou de escola e Carlos também seguiu outra direção.

       Agora, de volta àquela mesa, Ana se sentia nostálgica e os momentos que viveu ali eram inesquecíveis. Olhando para as cadeiras vazias ao redor, ela podia ouvir as vozes de seus amigos e quase sentir o calor da presença reconfortante deles. Mas era tão real que ela olhou em volta e percebeu que um novo grupo de estudantes parecia ter se apropriado do lugar e chegava barulhentamente para passar uma tarde animada ali.

       Com um suspiro, Ana se levantou, dando uma última olhada ao redor. Ela sentiu a alma aquecida por perceber que mais de uma geração estaria sempre carregando um pedaço daquele paraíso juvenil no coração.

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