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A arriscada vida de um girassol - Maria Verônica

 





A arriscada vida de um girassol

Maria Verônica

 

O girassol é uma flor que se relaciona com o Sol de um modo especial, diferente das outras plantas.

É o que acontece com o Solício um girassol que está brotando no jardim de Antonieta. É uma surpresa para ela e para o neto, Tadeu. 

Tadeu costuma brincar no quintal onde há muitas plantas bem cuidadas. Nota-se o carinho com que são cultivadas e podadas, oferecendo à casa um visual paisagístico encantador.

Tadeu é tido como um menino peralta, talvez por ser muito ativo, ousado em suas façanhas. Coisa de menino. Ele se interessa em brincadeiras que desafiam sua capacidade de vencer. Gosta de empinar pipas e disputar com outros meninos a façanha de “derrubar” a pipa do amigo. Tadeu já tinha compreendido a ação do vento para içar a pipa para muito alto, girar ou retroceder. Trocava muitas conversas com o avô sobre física e ação do vento. Lógico que era tudo brincadeira, mas havia muito aprendizado que Tadeu ainda não levava em conta.   

E foi numa tarde de especial ventania, quando, no quintal da vovó Antonieta, ele fazia a pipa subir, produzindo inúmeras acrobacias no ar, até que o sol faiscou sua vista, e ele invadiu o canteiro sem perceber. Tinha o olhar fixo na pipa que estava bem alta, e vez ou outra desviava os olhos do sol. O brinquedo titubeava no céu e era astuciosamente, levado daqui para lá e de lá para cá.

Conforme se movimentava com atenção no voo da pipa, ele não percebia onde pisava:

— Cuidado onde pisa! Você está me machucando.

Era um pungente grito de protesto que não poderia ser ignorado. O menino olhou para baixo e procurou, até que descobriu o girassol. Era ainda minúsculo, as folhas tenras não pareciam firmes, as pétalas surgindo devagar. Tadeu estava desconfiado “será mesmo que foi esta plantinha que falou comigo? ”, afinal, jamais tivera conversa com plantas:

— Quem está aí?

Então, ele ouviu novamente o protesto do girassol:

— Estou aqui, quase embaixo do seu pé, menino! Você vai me esmagar se pisar em mim. Cuidado, não se mova!

O garoto confirmou que a voz era da plantinha que vicejava ainda frágil se esticando para buscar a luz quente do sol. Abaixou para vê-la melhor, era um gracioso girassol, mas ainda tão pequeno que mal se enxergava.

Não, Tadeu não queria pisar as flores, ele tinha ajudado a cultivá-las, tinha até ferramentas com seu nome. Pensando em quão arriscado é ser uma plantinha, ele foi aos poucos, bem devagar, recuando, recuando. Quando se viu fora do canteiro, suspirou. É claro que sua avó não gostaria de ver o jardim pisado daquela maneira. Sentiu-se até envergonhado por dar mais atenção à pipa, do que ao jardim.

Foi quando notou os olhos firmes da avó apreciando sua decisão de recuar em segurança do girassol. Ela estendeu os braços, e Tadeu correu para aproveitar aquele abraço carinhoso.


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