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AS IRMÃS GÊMEAS - Antonia Marchesin Gonçalves

 



AS IRMÃS GÊMEAS

Antonia Marchesin Gonçalves

 

             Desde que me conheço por gente ouço direto, “que gracinha, lindas”, idênticas, eu e minha irmã gêmea. Isso, com o tempo, foi me martirizando, e crescia dentro de mim um inconformismo de não respeitarem minha individualidade. Ao mesmo tempo, sempre fiz de tudo para ser diferente dela, não aceitava usar roupas iguais, mesmo assim, ninguém percebia, só olhavam a semelhança física.

             Meus próprios pais não enxergavam as diferenças, isso me magoava. Até os nomes eram parecidos, Mércia e Marcia, uma vogal nos diferenciava. Que falta de imaginação, credo! Eu fui me rebelando, odiando, a toda certinha, Marcia. Foi desenvolvendo dentro de mim muita raiva dela, a ponto de odiar até o tom de sua voz. A toda certinha, me embrulhava o estômago.

             Assim, fui ficando cada vez mais diferente. À medida que crescíamos, sentia necessidade de ser o oposto. Tornei-me dissimulada, exploradora da bondade alheia, nada que eu fazia era com boas intenções, pelo contrário, sempre com má-fé. E quando ela encontrou o namorado igualzinho a ela, cara de boa índole apaixonados, se casaram. O ciúme me corroía. Meus pais, orgulhosos, comentavam, você também vai encontrar a sua metade da laranja. E, o pior é que fiquei morando sozinha com eles, pegando no meu pé.

             Aonde você vai? Volta cedo? Cuidado com esses amigos, hein! O pior, controlavam o meu gasto. Ué, precisa de dinheiro de novo? Seja como sua irmã, economize para o dia de amanhã. Que ódio! Mas, dei um jeito, e morreram no acidente com o carro. Deu tudo certo. Mas, aí chega a gravidez da santinha, aquele barrigão e paparicada por todos, inclusive pelo tonto do marido que babava de felicidade. Nunca pensei que um parto fosse tão difícil, e para a minha surpresa ela não suportou o esforço, vieram as complicações e ela faleceu.

             Acredite, foi um baque para mim, senti como uma parte de mim veio a faltar, sentimento estranho que logo passou. Agora eu sou a dona de tudo! Era assim que pensava. Foi quando o meu cunhado reivindicou a sua parte da herança em nome do meu sobrinho. Indignada, confesso que pensei em outro acidente, mas como já estavam investigando a morte dos meus pais, me detive. Tinha que pensar em outra forma de eliminá-los.

Dominada pela ganância, esqueci que ele era um excelente advogado, com muita influência entre delegados e detetives, e foi o meu erro.

             Sim, ele conseguiu comprovar que fui a autora do assassinato dos meus pais. No julgamento, o veredicto foi de culpada. A sentença, por me considerarem com distúrbio de personalidade, foi de cinquenta anos de prisão.

E, essa é a minha história. 


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