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A floresta de Grofis - Ledice Pereira

 



A floresta de Grofis

Ledice Pereira

 

René adorava se embrenhar naquele bosque que havia na cidade onde costumava passar férias, na casa de seus avós.

Ali, ficava solto, livrando-se das ataduras do seu condomínio na cidade grande.

Sentia-se livre, independente no alto dos seus oito anos.

Rubens, seu amigo de férias era vizinho dos avós, bem mais velho, conhecia tudo por ali.

O bosque ficava a quinhentos metros de lá. Não havia perigo.

Após o almoço, dirigiram-se para o lugar. René sabia de cor o que encontraria ali, os balanços, as árvores tombadas que adorava escalar, o vendedor de sorvetes e o da pipoca doce...

Uma coisa, entretanto, chamou a atenção do menino. Um mato estranho que crescia entre as folhagens. Aquilo era novo para ele. Tinha uma cor escura e parecia ter pernas ou fios que se enroscavam em toda parte.

— São grofis, disse-lhe Rubens. Cuidado para não enroscar nas suas pernas. Surgiram por aqui há uns quatro meses e crescem descomunalmente. Não adianta cortar, nem tentar arrancar, pelo contrário, quanto mais cortam ou arrancam, eles parecem crescer mais. Está vendo aqueles caras de boné, lupa e ferramentas? São biólogos e estão estudando a origem dos grofis. Um deles, aquele mais alto, ficou com as pernas presas nos fios e foi um custo para o tirarem dali. Vieram até os bombeiros.

René deixou Rubens ali entretido e foi saindo bastante assustado, ao mesmo tempo que curioso e intrigado. Falava consigo mesmo:

— Essa, preciso contar pro pessoal lá em São Paulo. Eles não vão acreditar. Amanhã vou pedir pro vovô me emprestar o celular pra eu poder fotografar. Que planta mais estranha! Tá louco.

No dia seguinte, sem a companhia de Rubens, René munido do celular do avô, dirigiu-se para o bosque. Queria registrar tudo. Achava que ninguém acreditaria na história dos tais grofis. Iriam rir dele.

Lá chegando, aproximou-se do local, sem perceber que as folhagens estavam mais espalhadas do que no dia anterior. Distraído com o celular, tentando fotografar, foi alcançado por aqueles fios e sentiu-se deslocando-se sem que tivesse força pra se equilibrar. O celular caiu de suas mãos, perdendo-se no emaranhado de talos, e quanto mais ele tentava alcançá-lo, mais sentia que não comandava suas pernas. O menino entrou em desespero.

Pessoas que chegavam ali não tinham como socorrê-lo.

Rubens, que fora chamá-lo após o café da manhã, ao saber que ele já havia se dirigido para o bosque, correu para lá, pressentindo que o amigo poderia estar em apuros. Ao chegar, vendo aquele amontoado de gente, gelou.

Ao ver René, desesperado, tentando escapulir daqueles fios que pareciam ter vida, gritou com toda a força de seus pulmões:

— Socorrooooo!  Por favor, chamem os bombeiros!

Com o grito desesperado do garoto, aquele monte de gente parada, olhando sem nada fazer, acordou. Uns passaram a ligar para a Polícia, outros para o Corpo de Bombeiros, até que uma viatura parou ali, trazendo ferramentas que pudessem salvar o menino que já perdia as forças, soluçando desesperado.

A notícia correu a cidade pequena, chegando à casa dos avós de René, que imediatamente ligaram para o socorro e dirigiram-se para o local.

Ao ver os avós, René que começava a ser socorrido, desmaiou no colo do bombeiro.

O celular com as fotos, ficou perdido no meio dos grofis.

 O caso foi assunto da reportagem do jornal local, cujos exemplares o avô comprou vários, para que a aventura jamais fosse esquecida.

Os pais, que deveriam vir buscá-lo somente no final do mês, sabendo do acontecido, anteciparam a vinda.

Passado o susto, René, que nem quis mais voltar ao bosque, teve que contar e recontar a história inúmeras vezes, sentindo-se uma espécie de herói, embora, intimamente, ainda tremesse de medo pelo que poderia ter acontecido.    


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