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O importante é ser sociável - Sergio Dalla Vecchia




O importante é ser sociável

Sergio Dalla Vecchia

 

Orlando, funcionário público exemplar no cargo de chefe de seção, querido por todos os colegas, discreto nos modos e de olhar sincero.

Na hora do almoço, após a finalização com um indispensável cafezinho, participava da roda de colegas, onde saciados soltavam o verbo para assuntos dos mais variados. Política, casos, passeios e principalmente futebol. Não faltavam torcedores para os principais times rivais. Assim a digestão seguia descontraída e plena nos corpos felizes.

Cada raio da roda demonstrava características próprias ao se expressar. Havia o bravateiro, o tímido, o técnico infalível de futebol, o humorista, etc. Todos já com perfis definidos pelas histórias contadas.

Orlando, por sua vez, era o eixo da roda, onde todos os raios se conectavam, como uma roda de bike. Ele era crível, de fala mansa, perfeito nas descrições, nas figuras de linguagem e na oratória convincente.

Assim, por anos ele relatava seus casos interessantes, alguns sérios, outros divertidos para a plateia boquiaberta.

Certo dia iniciou um novo funcionário no departamento. No refeitório o quando viu Orlando, parou, mirou e veio eufórico em sua direção:

 É você Orlando? Que coincidência feliz nos encontrarmos nesse departamento após tantos anos. Que alegria rever meu amigo de adolescência, de tantas jornadas alegres lá na nossa cidade nas Minas Gerais.

Um longo abraço selou o reencontro dos amigos.

 Então vocês já se conhecem de longa data? O prazer é ainda maior por ser amigo do nosso querido Orlando, portanto receba nossas boas-vindas com muito apreço. – Disse um colega.

O novato feliz, repleto de entusiasmo, foi orientado como funcionava a roda e como estreante teria a honra de iniciar com uma história.

Ele, inibido, foi se desculpando pela inexperiência na arte de contar histórias, mas criou coragem e logo início:

 Éramos inseparáveis, nos gostávamos muito de pescar, mas não muito felizes com os tamanhos dos peixes. Isso não importava, pois Orlando com sua fluência, convencia os demais pescadores que pegava sempre o maior pintado, a piranha feroz com as próprias mãos, o dourado pulando nas corredeiras e assim por diante, com tanta serenidade e convicção que todos acreditavam. Assim éramos considerados os melhores pescadores da cidade.

 E aqui, Orlando também convenceu vocês com seus relatos?

Fez-se um silêncio total na roda, sentiam-se apenas as vibrações das flechas na direção dos olhos de Orlando.

A vítima desapontada engoliu em seco e com esforço sussurrou soltando um minerês enrustido:

Sou minero e pescado, ocêis qué que di eu sô!

Uai! 


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