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O despertador eficiente - Adriana Silva Frosoni

 


O despertador eficiente 

Adriana Silva Frosoni


        

O despertador eficiente

 

Adriana Silva Frosoni

 

        Na época da revolução industrial surgiu uma nova profissão entre os ingleses e irlandeses: o despertador humano ou knocker-up.  Eles usavam varas longas e leves para bater nas janelas mais altas ou um tipo de zarabatana, estas para atirar ervilhas ou bater nas janelas mais baixas. Era executada, em sua maioria, por artesãos idosos que não eram aceitos para trabalhar na indústria devido à longa jornada e às condições sub-humanas.

Pedro era um dos que não havia sido aceito na indústria local em função de sua idade, mas não se conformava em ficar em casa parado, isso feria o seu brio de artesão e arrimo de família que sempre fora. Então decidiu começar nessa nova função e era considerado muito responsável, até se permitia cobrar uns poucos centavos a mais que outros.

Essa tarefa não costumava dar problemas, a menos que aparecesse algum dorminhoco cabeça dura.

— O senhor tem que cumprir o combinado e me acordar! Não está fazendo o seu trabalho direito, mas para cobrar é muito eficiente. — Esbravejou um senhor empertigado.

        — Eu tentei acordá-lo e não foi uma vez só! Mas o que posso fazer se o seu sono é pesado? — Respondeu Pedro, o despertador humano, com todo respeito que é devido a quem lhe garante o pão de cada dia. Mas diante do cenho franzido do cliente mal-humorado, continuou. — Todos acordam apenas com uma batida da vara na janela, mas o senhor não! Não acorda de jeito nenhum! Preciso ir para a próxima casa, senão os outros perdem a hora!

        — Agora a culpa é minha porque meu sono é pesado? Resolva isso de uma vez por todas, a culpa será sua se eu perder meu emprego por chegar atrasado!

        No dia seguinte, Pedro, que já estava farto do dorminhoco, foi preparado para não falhar. Não só porque precisava muito do dinheiro, mas também porque queria descontar a bronca imérita do dia anterior. Deixou para acordar o cliente insatisfeito por último e não sairia de lá até ter certeza do dever cumprido.

        ­— Mas o que é isso? Uma guerra? — Saltou o dorminhoco ainda em ceroulas, quase arrancando a maçaneta ao abrir a porta balcão do seu quarto. — Porque está tentando explodir minha janela?

        — Bom dia, senhor! Só queria garantir que estava realmente acordado!

        — Mas isso não é maneira de acordar um sujeito! Você jogou uma bomba na minha janela?

        — Sim, mas primeiro bati com a vara. Como não ouvi reação, atirei ervilhas com a zarabatana, mas ainda assim não surtiu efeito. — Nesse momento Pedro já começava a se retirar, pois começava a ficar difícil não rir da cara de assustado do reclamão. —Então pensei que se eu jogasse uma bomba, seria mais efetivo, e realmente foi!

        Daquele dia em diante, o dorminhoco nunca mais deu trabalho para acordar, o dorminhoco pulava da cama já na primeira batida na janela e logo sinalizava ao senhor despertador que estava de pé.

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