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O Cavaleiro Destemido - Maria Verônica Azevedo

 



O Cavaleiro Destemido

Maria Verônica Azevedo


            Jonas é conhecido por aquelas paragens como o cavaleiro misterioso. Nunca houve alguém naquela vila que contasse tê-lo visto sozinho sem o seu companheiro Faísca.

            Faziam os dois longas caminhadas em busca de um lugar onde se fixar. Tinham saído da velha cidade onde Jonas nasceu, mas que não oferecia oportunidade para uma vida melhor. É verdade que ele aprendera alguma coisa com o pai, pioneiro que desbravara aquela terra inóspita com muito esforço, mas sem conseguir progredir. Faísca era o único amigo de Jonas.

            O cavalo estava sempre por perto mesmo quando Jonas descansava da lida diária com a manutenção do sítio, dormindo na rede armada na sombra do grande salgueiro. Aquela sim era uma sombra preciosa naquela terra tão quente.

            A vida corria em paz até que um dia chegou a notícia trazida pelo sacristão da vila que entrou correndo na casa de Jonas. O rapaz estava deveras apavorado. Os olhos arregalados e a respiração ofegante testemunharam aquela aflição.

            ¾ Socorro, Dom Jonas! O vigário foi assaltado. Um bandido mascarado com revólver e tudo entrou berrando na igreja. Levou todo o dinheiro da coleta. E ainda deu um empurrão no monsenhor que se estatelou no chão.

            Jonas não pensou duas vezes. Montou no faísca e ainda puxou o sacristão pela gola da camisa para que subisse na garupa. Saíram os dois em disparada rumo à igreja. O sacristão, visivelmente amedrontado, se agarrava na crina do cavalo. Ao se aproximarem da encruzilhada não repararam no carro de bois. O desastre inevitável aconteceu. Com o susto, Faísca empacou jogando o sacristão na estrada barrenta. O pobre homem demorou para se dar conta do que tinha acontecido. Sentado ali na beira da estrada, todo sujo de lama, não tinha ânimo para se levantar. Jonas, que a essa altura já tinha dominado o Faísca, amarrou o cavalo ao tronco de uma árvore e acudiu o sacristão. Fez de tudo para convencer o sacristão a subir de novo no lombo do Faísca, mas não teve sucesso. Então continuaram caminhando pela estrada os dois homens lado a lado seguidos pelo cavalo. A noite já ia se aproximando. Quem passava pela estrada, voltando para casa depois da lida diária, estranhava aquela cena: no escuro do começo da noite, um cavalo bem fagueiro acompanhado de dois homens cansados e desanimados  andando ao seu lado. Houve quem sorrisse diante daquela situação insólita. Afinal, para que serviria um cavalo tão folgado?

 

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