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LIN, A CHINESA - Antonia Marchesin Gonçalves

 

 

LIN, A CHINESA

Antonia Marchesin Gonçalves

 

                Cada país tem suas tradições, a China não é diferente, pelo contrário, lá a cultura e tradição são mantidas com profunda fidelidade, passando de geração em geração, independente à época em que vivem. Apesar de que os jovens de hoje tentam exigir mais liberdade de expressão e liberdade.

                A família de Lin, com a queda da monarquia, sendo o seu pai alto funcionário do primeiro escalão do império resolveu vir para o Brasil, precisamente em São Paulo, junto também com amigos da mesma elite, com excelentes condições financeiras compraram casas de acordo com o seu padrão, continuando a manter todas as suas tradições, como por exemplo, casamento arranjado, foi o caso de Lin. Após concluir o colegial foi fazer faculdade nos EUA, ao terminar o curso os pais já haviam determinado o seu futuro, casaria com o filho de amigos do mesmo nível social.

                Alta, elegante, olhos amendoados, educada falando três línguas, acatou a decisão dos pais sem questionar e da mesma forma o noivo, por ser o primogênito da família, a sua obrigação era aceitar o casamento arranjado. Bonito, alto e porte elegante, formado engenheiro pela Poli, já rinha a sua independência financeira, apesar de ter namorado brasileira, não podia se casar tinha que respeitar a decisão de ambos os pais.

                 Lin voltou para o Brasil e preparou-se para se apresentar com o seu dote devido. O noivado, na casa do noivo, teve recepção com jantar típico e vários discursos nos dois idiomas, inglês e português por ter convidados que vieram dos Estados Unidos. A sala muito ampla decorada com vasos vindos do palácio e peças de jade encantadoras. Na semana seguinte foi o casamento religioso, a igreja lotada, ela linda num vestido creme todo de renda e seda, o véu preso por arranjo de flores, parecia uma princesa. Após a cerimônia religiosa, a festa ocorreu no primeiro restaurante chinês em S.P., o Golden Dragon, decorado no luxo máximo do mobiliário original, vindo da China.

                Ali acontece a cerimônia tradicional chinesa, ela vestida toda de vermelho e dourado longo e na cabeça um novo penteado e arranjo típico maravilhosa. Durante todo o jantar a cada prato servido e foram muitos, até finalizando com a sopa de barbatana de tubarão, ela trocava de vestido e penteado, com adornos diferentes, era a demonstração do dote que levava. Também manda a tradição o primogênito morar com os pais e ela cuidar e acatar à mando da sogra, assim foi. Após dez meses, nascem às primeiras filhas gêmeas, foi decepção familiar, a tradição novamente, era desejado o varão para manter a continuidade do nome.

                A segunda gravidez outra menina, a partir daí Lin passou a ser tratada com certo desprezo pela sogra que fazia questão de demonstrar o descontentamento, mas ela ali continuava e servilmente cuidando dos sogros.

 

                Na terceira gravidez a derradeira esperança, veio outra menina. A partir daí, a sogra a tratava como uma serviçal, não tendo nem carinho para com as meninas e muito menos com ela. Toda a semana tinha jogatinha na casa com amigos à noite toda e as crianças não podiam entrar na sala e Lin tinha que servir mantendo a alimentação para que se servissem. Totalmente desvalorizada aceitava a desonra de não ter estado à altura da tradição.

                Os anos se passaram e ela cuidou dos sogros até morrerem, as filhas se formaram, finalmente venderam a casa e foram morar num apartamento, e ela agora cuida do marido que devido ao derrame cerebral esta dependente de cadeira de rodas e dela, ao menos agora, não têm que abaixar a cabeça para ninguém.

               

 

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