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SE PASSANDO POR BOM MOÇO - Ledice Pereira

 


SE PASSANDO POR BOM MOÇO

Ledice Pereira


As tantas passagens pela prisão por furtos, tráfico de drogas e tentativa de assalto a Banco, tornaram Gerson expert na arte de ludibriar.

Aqueles anos entre as grades serviram para que ele se especializasse ainda mais.

O bom comportamento, entretanto, reduziu o tempo determinado a princípio.

O danado do rapaz era simpático. Sabia usar a técnica de seduzir.

Foi assim que, passados alguns meses, começou a frequentar as festas de grã-fino, ajudado por alguns velhos amigos que acreditavam na sua reabilitação.

 Para isso, haviam conseguido para ele, trabalho numa mecânica onde Gerson estava se saindo muito bem, ganhando a confiança do dono, que o admirava por sua capacidade e inteligência. Sem contar que os fregueses faziam questão de que ele fizesse o serviço.

Com sua lábia costumeira o jovem conseguia tudo que queria. Até terno, com direito a camisa, gravata e um belo mocassim. Do amigo barbeiro ganhou um corte moderno.

Todos acreditavam que ele só necessitava de uma nova chance. Afinal, na escola havia sido um dos primeiros da classe. Tinha uma memória de elefante, saía-se muito bem em todas as matérias, principalmente, matemática e português. Desconfiavam que ele tivesse um QI alto.

A festa corria animada. Seu porte atlético e elegância chamou a atenção de umas garotas que ensaiavam alguns passos, tentando acompanhar o ritmo que enchia o ambiente.

O rapaz não passou despercebido por Ivone, uma das jovens, que, depois de alguns minutos fez um sinal, convidando-o para fazer parte do grupo.

Assim, iniciou-se uma paquera, que com o passar do tempo evoluiu para namoro e consequente noivado. A família aprovava feliz o relacionamento da menina que tinha certa dificuldade de arrumar namorado, o que começava a preocupar. Logo, ele passou a fazer parte daquela família. Aquilo era mais do que ele havia sonhado. Um futuro sogro banqueiro...

A história contada sobre sua família comoveu a todos. Era fruto de uma família de classe média, do Norte, mais especificamente do Pará, de onde tinha vindo sozinho, para trabalhar e poder ajudar o pai que havia perdido toda sua fortuna numa sociedade infeliz. Nem gostava de falar no assunto que lhe trazia tristes recordações. Ivone respeitava seu silêncio.

O casamento aconteceu com todas as pompas, sem a presença dos familiares do noivo e a lua de mel foi em Salvador – Bahia, a pedido do noivo, que não podia sair do país. Dizia que era seu sonho conhecer o lugar onde teria nascido a avó materna. A noiva que sonhava em ir para a Grécia, concordou com o pedido tão fofo.

Ao voltarem da viagem, o sogro o convenceu a trabalhar em seu banco, que necessitava de um diretor de toda confiança.

E Gerson, em pouco tempo, conseguiu realizar seu sonho de consumo como diretor de um grande banco.

Estar ali, diante de tanta facilidade, dava-lhe comichão que o acompanhara a vida toda e, para não despertar suspeitas, ele começou por desviar pequenas quantias, que enviava para um paraíso fiscal. Aos poucos, não se contentava mais com pouco e passou a retirar valores consistentes, que chamaram a atenção do diretor financeiro.

Em reunião particular com o dono do banco, o diretor financeiro revelou suas suspeitas, levando-os a realizar uma auditoria interna, sigilosa.

A auditoria revelou não só o desvio de importantes quantias mas chegou ao autor do mesmo com todo seu passado revelado.

Gerson surpreendeu-se quando lhe foi dada voz de prisão.

Ivone não podia se conformar de como havia sido enganada.

Seu pai, que nunca havia passado por uma situação como aquela, achou que estava na hora de se aposentar e deixar que o filho mais velho assumisse o controle do banco.

Como havia se deixado iludir pela lábia do rapaz?

O casamento foi desfeito e Ivone amargou sua decepção indo para onde sempre desejara, as Ilhas Gregas. Lá, encontrou  um belo e rico rapaz brasileiro que a cortejou. Mas, como o gato escaldado tem medo de água fria, contratou um detetive particular para se informar sobre o pretendente.  Se vai dar certo, só o tempo dirá.

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