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OUTROS CARNAVAIS - Antonia Marchesin Gonçalves

 

 





OUTROS CARNAVAIS

Antonia Marchesin Gonçalves

 

 

                Minha primeira experiência com o carnaval foi quando ao chegar ao Brasil em 1951, após um ano de nossa chegada teve inicio a festividade do carnaval brasileiro, eu só com seis anos e morávamos no bairro de Pinheiros, especificamente na Teodoro Sampaio não tinha a menor idéia do que acontecia, mas tenho total lembrança do movimento e a multidão que ocupavam a rua e calçadas. O sobrado tinha uma bela varanda de frente para a rua. Lembro dos corsos, chamados assim os carros sem capotas, cheio de jovens fantasiados elegantes vestidos de marinheiros, as mulheres de odaliscas ou de baianas com turbantes cheios de frutas, pulseiras e colares coloridos, todos lindos.

                A rua ficava lotada de gente a pé, todos munidos de serpentina, confete e lança perfume, que eram jogados uns nos outros e todos cantando as marginhas carnavalescas num coro só, que são cantadas até hoje nos salões. Eram românticas com letras decorosas de amor, por exemplo, Bandeira Branca e outras. Depois fiquei sabendo que a concentração acontecia na Av. Paulista onde os carros saiam dos casarões que lá existiam e desciam a Teodoro, mas interessante não ficavam a noite toda, provavelmente subiam a Av. Rebouças até voltarem para o local de origem, continuando a festa em suas casas, acho eu.

                Não me lembro de ter visto nessa época tumulto ou brigas feias, eram três dias de união e alegria independente de cor ou nível social, só os casais de namorados que o homem ficava mais atento com seu par. Gostoso, pois eu e minha família assistíamos de camarote, até participando com o tempo, jogando confete e serpentina que meu irmão comprava. Minha mãe contava que em Veneza, nossa cidade de origem era diferente daqui, constatei isso quando voltei numa época de carnaval, as fantasias eram todas originarias ou novas imitando a idade media, e jogavam água perfumada e as mascaras escondiam todo o rosto, por ser uma festa mundana, a traição acontecia, sem saber com quem, após os três dias tudo voltava normal e voltavam a assistir a missa para expiar os pecados.

                Acreditem o que eu mais amava no carnaval eram os bolinhos fritos com uva passa dentro. Típicos de Veneza, chamados Friteles e aqui minha mãe continuou a tradição, todas as casas te recebiam com café, delicia.

               

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