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TESTEMUNHA ACIDENTAL - Suzana da Cunha Lima

 




Primeira hipótese:

A fotógrafa está  a trabalho, fotografando uma desfile cívico na avenida e se deparou com uma cena de possível assassinato. Usando o zoom, identificou o provável assassino como professor da Escola Municipal situada numa rua transversal.

 

Segunda Hipótese

A fotógrafa está  a  trabalho, capturando cenas de monumentos históricos vandalizados, como evidências da negligência do poder público e para complementar um pedido de providências à municipalidade. Em dado momento,  percebeu um movimento suspeito num grupinho perto de uma bar e reconheceu um conhecido seu, aliás, seu próprio cunhado,  incitando a multidão ao vandalismo.  Que fazer? Mostrar as imagens à polícia que reforçariam seu pedido?

 

Terceira Hipótese

A fotógrafa estava  em sua hora de lazer, tentando filmar o novo jardim da pracinha em frente ao seu prédio, , resultado de uma coleta entre os moradores do local. Como estava à frente desta arrecadação, queria mostrar a todos que colaboraram, o resultado final.  Subitamente percebeu uns três indivíduos mal encarados  indo em sua direção, com o evidente propósito de lhe roubarem a câmera, seu instrumento de trabalho e que era bem cara. . 


TESTEMUNHA ACIDENTAL

Suzana da Cunha Lima

 

Sempre amei fotografar.  Minha primeira Kodak (eu tinha 12 anos) era uma gracinha e eu tirava fotos de tudo: formigas carregando folhas e até de banana amassada.  Meu pai me ensinou a revelar as fotos e quando casei , meu marido adotou minha paixão e instalamos  um pequeno laboratório em casa. Aos poucos fui aprendendo as manhas, até entrei num cursinho rápido para aprender mais sobre filtros, luz e cores.  Hoje já não existe nada disso,  em termos amadores. Os celulares possuem câmeras muito boas com excelentes recursos.  Mas lá pelos anos 80, as máquinas fotográficas, eram bem maiores, a minha tinha um zoom ótimo (e pesado) e se usavam muitos acessórios que tornavam as fotos muito boas e nítidas.

Uma tarde, fui buscar minhas crianças na escola uma hora mais cedo, porque eles iam desfilar na avenida pelo dia da Bandeira. Como ainda faltavam alguns minutos, fiquei ajeitando minha máquina, vendo os filtros necessários e experimentando o zoom. Queria pegar as carinhas de meus filhos bem de perto. Estava  meio escondida atrás de uma árvore, porque nunca gostei de foto posada, quando, sem querer, capturei a imagem de um casal saindo da lanchonete.

O que me chamou a atenção, na hora, foi a rude atitude do homem.  Ele passava o braço em volta dos ombros da moça e parecia murmurar algo em seu ouvido, que, parece, não a havia agradado. Cliquei tudo desde o início, pois me chamou a atenção o fato de parecer que ele a estava estrangulando, tipo “dando uma gravata”  pois logo a seguir, ele a empurrou, fazendo-a andar para  para uma rua  fora da praça e do movimento de pessoas e não os vi mais. Eu gelei. Já estava na hora da parada. Fiquei com medo que o  homem tivesse me visto ali com aquela máquina grande, seguramente com zoom e eu seria uma testemunha da ação dele, que nem sabia direito o que era.

Quando consegui revelar as fotos, era bem nítido o movimento do indivíduo apertando a garganta da moça. Fiquei atônita! De noite, no noticiário, anunciaram o assassinato de uma mulher, encontrada na calçada de um bairro chique da capital. Não havia pista alguma.  Estavam imaginando ser um crime passional. Mas quem seria o assassino?  E eu, lutando com minha consciência, porque nas fotos estava bem nítido o rosto do assassino. E eu o conhecia.  Era de meu cunhado, que lecionava naquela escola há muitos anos. O que fazer?

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