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Uma viagem que não fiz. - Maria Verônica Azevedo



Grande Muralha da China: uma das Sete Maravilhas do Mundo | Ibrachina


Uma viagem que não fiz.
Maria Verônica Azevedo



        Tudo começou com um filme que assisti sobre o Tibet. Lançado em 1998, este filme trata de duas histórias: a aventura de um alpinista famoso tentando algo quase impossível que é escalar o Nanga Parbat, um dos picos mais altos do mundo e o fato de ele ser considerado inimigo durante a guerra por estar em domínio inglês.

        Refugiado no Tibet, depois de vários anos, o alpinista mudou radicalmente tornando-se uma pessoa generosa além de confidente do Dalai Lama.

        Este filme de rara beleza, não só pelas imagens, mas principalmente pela interação entre duas culturas me inspirou muito e despertou em mim a vontade de visitar a China. Pus-me a pesquisar sobre a cultura oriental.

        É estimulante conhecer a história e a geografia do país. Lembro-me que o assunto era tratado na escola com muita parcimônia. Quase não se falava da China. Apenas poucas menções nas aulas de História, quando alguns fatos, de uma forma ou de outra, faziam referência ao território chinês.

        Nós sabíamos ou achávamos que sabíamos alguma coisa pelos filmes de ficção que uma vez ou outra assistíamos no cinema.  

        Na China, embora durante muito tempo séries de televisão e filmes ambientados no passado imperial tenham sido um marco do entretenimento chinês moderno, atualmente estão sendo censurados pelas autoridades comunistas chinesas. Essas obras populares de época estão desaparecendo dos canais de televisão, dos sites de transmissão online e dos cinemas, no que parece ser outra medida enérgica de censura sem aviso prévio.

        A mídia estatal critica as histórias dramáticas, dizendo que elas distorcem a história. Parece que a proibição tem relação com preocupações e conflitos ideológicos dentro da indústria.

        Pelas notícias que nos chegam, a situação social atual na China está bem conturbada. As ruas congestionadas por milhares de bicicletas se tornaram intransitáveis. Têm graves problemas na manutenção da limpeza e na garantia da saúde pública. Ou seja, nada favorável ao turismo.

        Até hoje, muitos anos depois, tenho a sensação de que um dia irei lá. Não perdi as esperanças. Quando penso nisso me imagino imperiosa sobre as muralhas, visitando monumentos e caminhando entre uma profusão de bicicletas. Talvez não seja nada disso que encontraria lá, mas a imaginação também me transporta e me faz ter uma ideia de como seria a China, embora nunca tenha feito esta viagem.

TRIBUTO ÀS AMIZADES - DE OSWALDO ROMANO PARA OS COLEGAS





Há alguns dias nosso amigo Oswaldo Romano enviou para a turma um TRIBUTO Á AMIZADE, à amizade constituída firmemente em meio ao convívio do EscreViver. São anos de conversas, confissões, brincadeiras, sorrisos, lamentos, festas, e muitas histórias. Isso marca a alma da gente. E marcou a alma do Romano ao ponto de fazer uma declaração de amizade ao colegas. E foi exatamente em meio à quarentena, quando todos estamos confinados em casa, separados dos costumeiros risos dos amigos. Ei-lo!



TRIBUTO AOS COLEGAS DO ESCREVIVER AP

                       Oswaldo Romano

Deixar este manifesto para depois, certamente teria vencido parte da emoção sentida desde o momento em que os conheci.  

                                       
Tenho pressa antes que vença a data de validade de continuar participando do grupo, destes jovens, meninas e meninos.

Surpresa seria não ter contado com estas amizades de soberbas qualidades, pois, todos reconhecem também a capacidade ímpar de comando da nossa monitora Ana Maria Maruggi, em agregar conteúdo humano, no ensino dos meninos, nem sempre dóceis.

Vejo que posso contar ao mundo que o bom supera o mau, e que há pessoas que buscam concentração de união, como ela, e dispostas a abraçar acontecimentos inesperados como os que temos recebido.

Um respeitável e merecido tributo aos meninos, meus companheiros alguns surgidos como sentinelas à minha frente, acolhedores postados em sala, na espera de quem chega para recebê-los com saudosa alegria. Resolvi: que quero continuar chegando!

Isso é amor. Essa coisa maravilhosa que possuímos e que nos leva a uma só e grande paixão.  Paixão de realizar, escrever, conviver, pesquisar. Não sei se merecia tanta atenção, postadas na rede, notadas nas minhas faltas. Estava convalescendo, perdi festas, mas mereceram de mim muitas lembranças e algumas lágrimas provas de saudades, nascidas entre a dor e o conforto de um momento bem lembrado. E o amor, é o sentimento que possuímos.  Deixo aqui o meu tributo a esse especial e amado grupo, grupo que minha idade o tem não como o último e sim como mais um, composto de sensíveis e amados companheiros.









E os amigos receberam esta mensagem com carinho, vejam as respostas que ele recebeu:


Maria Luiza C. Malina



Boa noite Romano.

Sim. Estou desaparecida e saudosa. O "Tributo" deixou-me pensativa. Avalio se tudo o que realizei neste meio tempo, que em muito me engrandeceu, valeu a pena o afastamento do grupo. Assumimos responsabilidades passageiras, em que um vento forte passa em meio as tempestades, e tudo leva. Mais um projeto concluído. E daí! É assim que me sinto em relação ao tempo ausente do EscreViver, que não só engloba a Amizade a Alegria o Amor o Aprendizado mas a  Esperança de que no próximo encontro - todos, sem exceção - estejamos presentes com uma boa conversa na ponta da língua, antes do início da aula. Consigo ver a expressão no rosto, e ouvir a voz de cada um ao ler seu texto escrito em poucos minutos entre a expectativa de aprovação e risadas simultâneas ao final da leitura, dos colegas. Não é fácil, não é mesmo.

Seu "Tributo" valeu-me como uma chinelada de saudade. Obrigada!

Um grande abraço. M.Luiza








Sergio Dalla Vecchia

Caro amigo de muitas datas.

Romano,

Sinto-me lisonjeado por fazer jus a esse tributo de tão nobre pessoa, como é a sua.

Emoções, ansiedades tudo vem à tona em tempos de incertezas políticas, econômicas e principalmente da saúde.

Além disso, ainda nos impingiram uma quarentena doída na alma.

Nos roubaram indiscriminadamente o aperto de mãos, o abraços e carinhos. Netos, filhos, esposas, mães, parentes e até a roda de amigos. Somos os encarcerados de cela sem porta, onde apenas a disciplina inteligente será a única carcereira à nos libertar. A fé em Deus e a gana de viver apontarão a luz no fim do túnel.

Portanto, paciência amigo!

Não falarei dos seus predicados, pois você é hors concours com a fantasia denominada Sucesso, no grande concurso de Vidas.
Certamente nos reencontraremos numa terça feira qualquer, no querido EscreViver, aquecendo nossas almas com o calor humano da turma completa. Todavia será tão logo alcancemos o fim desse túnel escuro, porém não extenso suficiente para que desistamos de percorrê-lo!

Abraço do seu amigo, tenista e escritor como você.

Sérgio Dalla Vecchia
09/05/2020





Mario Augusto Machado Pinto


Romano, Romaninho, Forza, forza que dá certo.

Escrever que você faz falta é óbvio ululante, por isso não aceito sua despedida. Encaro apenas como feita num momento de cansaço.

Lembre-se do tempo que todos nós tivemos juntos; imagine isso novamente. Você terá novas forças.

Afinal, o que é uma tormenta para um navegante como você? Nada!

FORZA, FORZA!
MELHORAS!
VOLTE PRA GENTE QUE ESTAMOS À SUA ESPERA.

Melhoras rápidas é o que lhe desejo.

Abraços saudosos (sem corona) do

Mario Augusto.
marioamp@terra.com.br




Oswaldo U. Lopes

Prezado amigo Romano (se me permite).

Não frequentamos o mesmo grupo, sou da quarta, mas frequentamos o mesmo amor, a mesma fraternidade, o mesmo carinho uns pelos outros. Dizem, e eu o creio, que a coisa mais valiosa da vida não é o que temos, mas quem temos. Você já sabe isso e já viveu isso. Sua sabedoria fica expressa em suas palavras.

Vivemos um momento conturbado e complicado. Lamento informar que a medicina e a ciência tem tido muito pouco a oferecer. Isto por vezes nos causa desânimo e agonia, mas vamos superar isso, outros países e lugares já o fizeram. Continuaremos a procurar a resposta e o caminho. Permita-me convidá-lo a marchar junto. Um abraço apertado, embora respeitando o distanciamento social.

Xará Lopes





Resposta: Oswaldo Xará Lopes

Claro que devemos marchar juntos. Foi o que sempre fizemos, só que as vezes sigo o norte e cruzo com você em direção ao sul. Puxa que inveja dos seus passos cadenciados e firmes. Firmeza não só nos passos, como sempre liderando os melhores contos do Escreviver. A Ana fica feliz ter “aluno” como você. Algum dia vou pará-lo no cruzamento. Quero aprender, aperfeiçoar o meu pisar.

Quanto mais pedras no caminho, mais alto é nosso pulo para um abraço a distância.

Então, vamos pular.
Grato pela atenção.

Romano





Antonia Marchesin Gonçalves


Aos queridos colegas e prof. Ana, a falta do nosso encontro semanal é monumental, muitas saudades de todos um grande abraço e que o retorno seja breve, um abraço apertado, bjos

Ah, lindo o seu tributo Romano parabéns e obrigada.

Antonia




Vera Lambiasi



Meus amigos escritores, vocês são muuuito bacanas!!!! Mil beijocas


Vera Lambiasi





Ledice Pereira


Que emoção, querido amigo Oswaldo Romano!

Nestes cinquenta e poucos dias em casa tem feito muita falta os encontros do Escreviver. E, embora não estando fisicamente com o grupo de terça-feira, tínhamos notícias sempre dos colegas e das atividades ali realizadas. Dessa forma sentíamos certa proximidade.

A Ana tem feito grande esforço para que a gente continue junto, ainda que virtualmente.

E isso é muito gratificante. Torna nossa distância um pouco menor e menos doída.

Fico feliz em saber que o senhor está bem de saúde. Se Deus quiser logo poderemos nos encontrar mesmo que mascarados. Grande abraço! Saudade!

Ledice








Caro amigo de tantos anos, tantas batalhas e desafios, tantas tardes tão gostosas e produtivas, de discussões e reflexões, nestes anos que estamos juntos no nosso encontro semanal do Escreviver.

Nunca imaginei em minha vida que ao levar esta Oficina ao clube, ia assistir ao desabrochar de tantos escritores (talentosos) e, principalmente, de tantas amizades boas, sólidas e extremamente prazerosas.  E mais ainda, entre homens, senhores com larga bagagem de vida e experiências  diversificadas. E sei que isso se deve também à sábia coordenação de Ana Maria Maruggi, que soube conduzir muito bem as aulas, transformando-as em ricos encontros literários entre amigos.

Agradeço fazer parte deste grupo desde o início até agora, e desejo que nosso convívio se estenda por muitos anos ainda.

Obrigada Romano por este tributo tão bonito à amizade, construída na oficina de textos do Escrever e é extensiva aos nossos colegas das quartas-feiras.

Abraço a todos 

Suzana






José Vicente J. de Camargo

Caro amigo Romano!

Primeiro agradeço seu “Tributo” que se sente escrito do coração. Segundo, você me quebrou um galho, pois há dias venho tentando escrever um texto de quarentena que nossa mestra Ana Maria solicitou por vídeo:

“O QUE O MAR TRAZ”

O título me agrada por sua poesia, mas a sugestão de conteúdo − peço vênia à mestra – me engasga os pensamentos e não consigo a inspiração desejada.

A dificuldade talvez seja porque, desde o início da quarentena, estou escondido do Corona vírus na casa de praia de Itamambuca – que você já me deu o prazer de conhecer − abraçada à Mata Atlântica e namorando o marzão sem fim. Todo dia sento na areia branca e fofa quase deserta – alma viva só a mais de cinquenta metros– com a brisa fresca a massagear o corpo, e aguardo o abraço das ondas que, por sua vez, me despertam para a meditação sobre os mistérios do mar.

“O que ele traz? ”

Para mim a paz, a sensação de estar bem comigo mesmo, com os anos vividos, com as realizações conquistadas, mescladas com um pouco de melancolia dado à comparação do seu gigantismo com o minúsculo grão de areia que sou e seus segredos tão indevassáveis.
E, nesse estado de contemplação, seu “Tributo” me abre sendas na memória que me transporta além da linha do horizonte, para seu lado no comando – capitão do mar que é – da potente lancha cortando suavemente a superfície do mar em direção às piscinas escondidas nas encostas rochosas. Depois dos mergulhos refrescantes, dos espumantes brindes e dos sorrisos abundantes, passo o fio da memória para outros passeios marítimos tão alegres como, que fizemos com nossos familiares. Do mar pulo para as trilhas na Serra, para o ar puro de Campos, para as quadras de tênis, para as confraternizações de pizza, para os bailecos, para as literárias e divertidas aulas do Escreviver, enfim o mar me trouxe as recordações e, com elas, a VIDA.

Querido amigo! O dito popular, sábio que é, nos ensina, desde há muito que:

“Recordar é Viver”

Sua bagagem é muito mais rica que a minha. Revolva-a com o querer da cabeça aos pés. Ela lhe transmitirá forças e vontade para continuar curtindo a companhia dos familiares e dos amigos.

Mesmo as mais tristes, que fazem parte do jogo, trazem no seu bojo o desejo de reviver momentos passados.

Boa caminhada! Nós do Escreviver o esperamos ansiosos...
Vicente




Resposta: Amigo Vicente

Aproveite essa linda praia.

São seus raios que certamente enobrecem o poeta que é.

Optamos por ficar em casa. Também ainda me perseguem pequenos problemas de saúde.  Em Laranjeiras está tudo fechado, embora meu marinheiro informe que abriram a navegação. No Condomínio, só delivery. Fecharam também as praias.  Consta que, de um modo geral, está bem movimentado. Quanto a sua maravilhosa mensagem, não fosse escrita, uma sua imagem, mesmo apagada, postada ali falaria exatamente o que gostamos de ouvir de você.

Obrigado, descanse, daí você sente os ares de Paraty e daquele canto que frequentamos - Ilhas das Couves.


Romano




           

Benedito, uma história - Maria Verônica Azevedo






Benedito, uma história...
Maria Verônica Azevedo



Benedito Tobias Aleixo nasceu em Divinópolis em 1912. Na época era apenas um vilarejo próximo ao rio Itapecerica: Paragem de Itapecerica. Em 1916, com a chegada da Estrada de Ferro Oeste de Minas além da já existente Ferrovia Integração BH-Triângulo de 1911, a cidade se desenvolveu, recebendo a Indústria Siderúrgica Vale do Rio São Francisco que vai trazer progresso para a cidade e suas cercanias.

        Com o desenvolvimento, veio o turismo.  O rio, que corta a cidade, pertence à bacia do rio São Francisco. Tem margens de rara beleza.

Benedito ainda se lembra dos barcos que navegavam pelo rio São Francisco na década de sessenta. Eram barcaças movidas a vapor alimentadas com lenha. Tinham cabines para passageiros, que embora muito simples, cada uma com um beliche, bons serviços prestaram para o desenvolvimento do turismo pela região. Os comerciantes que negociavam com os ribeirinhos também se beneficiavam desse transporte.

Assim, Benedito usava esses barcos para, com seu inseparável balaio de vime, vender os seus pescados a bordo. Costumava embarcar num porto e desembarcar no outro com a féria da semana feita. Ele já sabia o que agradava a freguesia. Assim voltava para casa com os bolsos recheados.

Muitas vezes conversava com os fregueses sobre o que se passava nesse mundo tão grande, o que fugia da sua compreensão, mas que mesmo assim alimentava sua curiosidade.

Um dia se encantou com uma morena faceira, passageira do barco. A moça, de olhos verdes, pele bronzeada e um sorriso irresistível, prendeu sua atenção. Tão fascinado estava, que desembarcou atrás dela no porto onde ela ficou. Queria segui-la, mas não era fácil. A menina tinha asas nos pés. Embrenhou-se pelas vielas e desapareceu das vistas dele. O rosto dela e sua silhueta ficaram gravados na mente de Benedito. Ficou assim aéreo por muito tempo. Não olhava mais para nenhuma moça.

Desde menino, Benedito gostava de desenhar. Os seus cadernos da escola eram cheios de desenhos de pássaros e pequenos bichos silvestres que ele capturava só para olhar direito e depois soltava. Tinha mesmo um talento nato. Assim, era fácil para ele desenhar o rosto da moça de memória.

Assim o fez. Desenhou o retrato da sua amada com capricho e o colou na parede próximo de sua cama. De certa forma ela o acompanhava. Mas era uma presença frágil que não se modificava com o desenrolar da vida real. Nunca mais tornou a encontrar sua amada no barco.

O tempo passou e a solidão começou a incomodar Benedito. Vivia isolado, triste pelos cantos. Dom Jacinto, o pároco da Matriz de Divinópolis, onde ele ia rezar, se preocupava. Um dia, abordou o pescador e lhe disse que não podia continuar assim, tão sozinho, com tantas boas moças na cidade. Precisava constituir família.

Aquela ideia do pároco, a princípio, não animava Benedito. Ainda tinha esperança de encontrar a moça que inspirava seus sonhos. Ainda tentou reencontrá-la, voltando àquele porto onde ela desembarcara. Andou pela vila observando as casas e as pessoas pelas ruas, até dar com a pequena igreja no centro da praça. Entrou timidamente, com seu chapéu nas mãos e ficou admirado com a beleza da igreja. As paredes eram repletas de painéis coloridos representando cenas da história sagrada. Benedito se lembrou das histórias que o padre contava no catecismo.

Estava o pescador ali distraído, quando uma mão pousou em seu ombro. Era um padre muito idoso, com expressão interrogativa.

- Bom dia meu filho! Você é novo por aqui. Como é seu nome:

- Bom dia padre. Meu nome é Benedito, ao seu dispor. E o senhor? Como se chama?

- Sou o Padre José. Você veio rezar o terço?

- Estou procurando uma moça que vi uma vez na viagem de barco pelo rio. Pensei que poderia perguntar aqui na igreja pelo paradeiro dela.
- E como é essa moça?

Benedito mostrou para o padre o desenho que tinha feito.

O velho padre, a princípio, ficou pensativo olhando o desenho. Depois com uma expressão alegre falou:

-  Acho que pode ser a Dona Elvira quando jovem. Eu mesmo celebrei o casamento dela com o filho do Coronel Ferreira, o prefeito na época. Isso já faz um bom tempo. O casal viajou logo após a cerimônia. Foram morar em Belo Horizonte. Não tive mais notícia deles. A família não frequenta mais a igreja. Não são lá muito religiosos, sabe como é.

Assim, Benedito se desiludiu... Voltou para sua cidade e assim tão sozinho, passou a andar cabisbaixo.

O padre  Jacinto se preocupava. Pensou em Guilhermina, sua sobrinha. Tão bondosa e cheia de qualidades, ela vivia sozinha depois da morte dos pais. Bem que ele poderia apresentá-la para o Benedito. Foi o que fez.

O pescador, então, prevendo a solidão da velhice, aderiu à sugestão do padre. Casou-se com Guilhermina, sobrinha do religioso.  A vida seguiu assim, sem sobressaltos. Como já não eram jovens, tiveram apenas um filho, Jonas.

Jonas, quando pequeno, não saia da barra da saia da mãe.  Benedito, que sonhava em treinar o filho para ser um eficiente pescador, se preocupava. Vivia chamando o menino para o acompanhar  na lida diária com a pescaria, mas aquele apelo nunca tinha sucesso.

Guilhermina, que desde criança ficara muito ligada ao tio e padrinho, gostava de literatura pois crescera devorando os livros que o padre Jacinto lhe emprestava. Interessava-se também por artes plásticas e música. Assim, preenchia seus dias com leitura distante dos interesses do marido. Ela não entendia nada sobre pesca e comércio de peixes. Por outro lado, era muito atenta ao filho, contando lhe histórias desde muito pequeno. A imaginação de Jonas fazia-o viajar com os enredos das histórias ouvidas da mãe. Aos poucos o menino foi pegando gosto pela leitura. Apesar de não ter viajado, muito sabia sobre o mundo através dos livros.

A vida corria assim naquela pequena família sem sobressalto até que Guilhermina caiu doente. O médico deu o triste diagnóstico: tuberculose. Benedito e Jonas não saíam da cabeceira dela. Foram dias de muito sofrimento e nenhuma esperança. Até que ela se foi.

A ausência da mãe deixou Jonas desnorteado. Vagava pela cidade corroendo-se de tristeza. Bendito começou a prestar mais atenção no filho. Não conseguia mais trabalhar direito. Perdia a paciência com frequência durante a pescaria e acabava voltando da lida sem nada.  Resolveu ir ter  com o padre, que já nessa altura estava bem idoso.

O padre o aconselhou a deixar a pescaria e se aproximar mais do filho. Quem sabe não poderiam sair os dois viajando como o filho tanto sonhava. Assim ele fez. Era um bom uso para aquele dinheiro.

O tempo passou e a vida mudou. Jonas conheceu uma boa moça e se casou. Deu ao pai um neto.

Agora, já muito idoso, Jonas conversa com o neto, contando as peripécias de sua vida. O garoto viaja na imaginação com as histórias do avô.