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ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE - Oswaldo U. Lopes



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ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE
Oswaldo U. Lopes



        O casamento de Hercília e Armando fora um sucesso, só que o sucesso acabara ali na cerimônia. Três filhos depois, Hercília não tinha mãos a medir enquanto Armando vivia medindo as cartas, os tacos, a garrafa de cachaça e a saia das meninas.

        Ela, por sorte, dentre as várias possibilidades na medicina, escolhera anestesia que, se a tirava de casa a qualquer hora, não exigia sua presença em consultório ou ambulatórios.

        Se bem que conservasse certa beleza, os sinais de envelhecimento precoce eram evidentes. Às vezes, muitas vezes, com a vista cansada se valia de uma pequena lupa para puncionar a veia, ato ritual que inicia o trabalho do anestesista na sala de operação.

        Armando ainda não precisava de lupa para ver as cartas, mas no escuro da sala de jogos, uma lanterna lhe caia bem, com ela ficava mais fácil ver a garrafa e as pernas da garçonete.

        As crianças que já não eram tão crianças se viravam na mão da babá, conselheira, velha amiga, insubstituível Joselina que regia a banda com um solene apito. Um apito, tudo parado, como está fica; dois apitos, todos para cama; um longo e um curto, levantar.

        A vida era possível, Hercília ganhava muito bem, embora trabalhasse demais. Joselina tocava a casa e as crianças e Armando se arranjava com os trocados que a doutora generosamente providenciava.

        Pouco se sabia da vida do inútil a não ser que ele frequentava uma espécie de clube onde praticava pôquer, sinuca, garrafa cheia etc. A história vazara aos poucos e uma chave que ele carregava sempre consigo, era o fim do mistério. Quer dizer, o fim foi mesmo obtido pelo detetive que a Joselina arrumara.

        Tendo a vida para tocar e ganhar Hercília não se incomodou muito com a história nem com os detalhes do tal clube.

        O drama foi a garçonete chamada Lourdes que dera para se engraçar pelo Armando, mais do que recomendava a prudência e dera até para cortar o cabelo dele, com aquela tesoura longa e fina usada por mão talentosa de dona idem que na outra mão manejava um lindo pente.

        O ruim é que fazia isso sentada no colo dele, e que com um maravilhoso canivete suíço picotava a borda da saia dela.

        Ai a coisa chegou ao seu limite, insuportável. Movidos por inveja, ressentimentos ou sei lá o que, os celulares entraram em ação. Malditos aparelhos, maldita a sua capacidade de múltiplas funções, fotografar discretamente, incluída.

        Hercília foi inundada de fotos de todas as maneiras possíveis, não deixaram duvidas e eram repetidas. Armando foi e estava indo longe demais.

        A doutora pensou, premeditou, pesou e decidiu. Primeiro fez uma cópia da chave do secreto clube que o marido frequentava. Não foi difícil, de dia ele dormia a maior parte do tempo.

        De posse da chave, arranjou no Hospital, com os seguranças um legitima pistola Glock. Não queria falhar na hora H, aprendeu a manejá-la e atirou algumas vezes com ela, se acostumou até com o tranco.

        Foi o que disse o delegado:

- Crime premeditado, matou o marido imprestável a sangue frio. Encostou a pistola no peito da garçonete e com dois tiros liquidou o assunto, ela no colo dele facilitou o ataque. Morte imediata dos dois.

 Depois largou a arma e ficou esperando, a prisão, o tempo, as consequências, o futuro e tudo o que não tivera no casamento.

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