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LEDICE PEREIRA



SE EU FOSSE UM CHAPÉU


Se eu fosse um chapéu
Seria um adorno
Se eu fosse um adorno
Seria escolhido
Se eu fosse escolhido
Seria importante
Se eu fosse importante
Seria condecorado
Se eu fosse condecorado
Seria respeitado
Se eu fosse respeitado
Seria um exemplo
Se eu fosse um exemplo
Seria seguido
Se eu fosse seguido
Seria imitado
Se eu fosse imitado
Seria convencido
Se eu fosse convencido
Seria esnobe
Se eu fosse esnobe
Usaria chapéu
Se eu fosse um chapéu
Seria um adorno






O SORRISO DO ADEUS


Eles foram chegando aos poucos e em grupos. Não tinham ideia do que iriam encontrar. Os prognósticos não eram os melhores. Tudo parecia indicar que teriam que enfrentar vários fantasmas.

A imprensa alardeava que enfrentariam doenças, assaltos e desconforto.

O medo do desconhecido os acompanhava.

E veio a abertura dos Jogos Olímpicos. Organizada e, apesar de simples, tocante.

Cada grupo encontrou-se alojado, ainda que, incialmente, houvesse alguns problemas.

Todos concentrados tinham o mesmo objetivo: vencer.

Assim, cada atleta esforçou-se para dar o seu melhor.

Algumas equipes mostraram-se superiores. Vieram preparadas.

Alguns, atletas solitários, procuravam vencer a ansiedade e o adversário.

Vieram as primeiras medalhas.

Os cinco continentes uniam-se na emoção, nas lágrimas, no amor à sua bandeira e ao seu hino.

Foram quinze dias nos quais o que se viu foi superação.

As críticas foram aos poucos substituídas pelo elogio.

Tudo foi dando certo.

Com um saldo positivo, chegou-se ao final com uma festa que mostrou  ao mundo que esta terra verde e amarela, além de ser cordial, tem muita alegria para dar.

Aqueles grupos, que haviam chegado cheios de medo, voltavam para seus países levando, além de medalhas, o sorriso do adeus.




A ESTAÇÃO DA LONGÍNQUA CIDADE


Era a atração da cidade aquela estaçãozinha tão simples que recebia gente das cidades próximas e se despedia daqueles que realizavam seus sonhos de viagem.

Muitas tardes, Luísa passou ali. Deixava-se levar pelo seu sonho de um dia partir, numa aventura, para lugares distantes.

Tinha catorze anos, mas seu corpinho franzino a tornava mais jovem.

Era morena dos cabelos encaracolados e vestia-se sempre com um vestido vermelho.

Um dia, Renato chamou-lhe a atenção. Nunca o tinha visto por aquelas bandas. Percebeu que ele a olhou. Envergonhada, disfarçou conversando com Sandra, sua prima, que sempre a acompanhava.

E passou a ir ali, até com mais frequência, para tentar rever aquele que povoava seus sonhos.

O tempo passou e ele não voltou.

Luísa encorpou, tornou-se uma jovem graciosa que continuava a sonhar em viajar naquele trenzinho que conhecia desde pequena.

E houve o baile anual da cidade. Pela primeira vez, a jovem iria participar. Estava com dezoito anos. Vestiu-se como devia para o tão esperado baile.

Os caracóis de seus cabelos foram penteados por sua mãe. A prima lhe pintou os lábios de vermelho. E o vestido azul, que já tinha sido usado por sua irmã mais velha, serviu-lhe como luva. Estava linda em sua discrição.

E, ao chegar, qual não foi sua surpresa ao avistar do outro lado do salão, no meio de vários amigos, o jovem que jamais saíra de seu pensamento.

Luísa corou. Temia que alguém percebesse o sentimento que tentava esconder. Nem à prima havia confidenciado.

Logo, ele também a viu. Nunca a tinha esquecido.

E ela, na sua rósea timidez, que a deixava ainda mais linda, mal acreditou quando seu príncipe encantado dirigiu-se em sua direção convidando-a para dançar.  

E aquela estaçãozinha passou a ter um frequentador assíduo.

Após dois anos de namoro, Renato e Luísa resolveram se casar e ela então realizou seu outro antigo sonho, partindo naquele velho trem para a maior aventura de sua vida. 


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