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JOSÉ VICENTE JARDIM DE CAMARGO - VÁRIAS HISTÓRIAS



RECORDANDO ANTIGOS TEXTOS


JOSÉ VICENTE JARDIM DE CAMARGO



AMOR & SAUDADE



Amor gozo profundo
Saudade triste lembrar
Amor me deixa vivo
Saudade longo pesar


Quem me dera sempre ter
Forte amor ao lado meu
Pra saudades nem de longe
Perturbar o sonho meu   








NA ALEGRIA E NA TRISTEZA




Amélia já vasculhara toda a casa. Timtim por timtim! Embaixo dos móveis e tapetes, esvaziara o saco de lixo, revisara mais de uma vez o automóvel, ligara       às amigas com quem saíra, telefonara ao cabeleireiro, ao clube, ao pet shop onde levara Mel para o banho e a tosa.

Nada! Tudo em vão! Ninguém encontrara a maldita aliança...

Já fez a promessa a Santo Antonio e a Santo Expedido, considerados os santos das causas perdidas, acendera velas, encomendara na gráfica a confecção dos santinhos com a foto dos dois e a oração de louvor e agradecimento pela graça alcançada.

E Alfredo, chegando amanhã de viagem! Certamente notará no primeiro abraço a ausência da aliança.

Justo ele, que gosta de acariciar suas mãos quando lhe entrega o presente surpresa, certamente algo exótico de um daqueles bazares típicos do oriente. Ele, que sempre faz questão de lembra-la dos votos sagrados do matrimônio:

— Amélia! Na alegria e na tristeza, na saúde e na dor! Essas alianças selam nosso compromisso de casamento. Nem com um revolver encostado a cabeça, entregarei tão valioso símbolo de nossa união...

Ela gostava de ouvir tais juras de fidelidade, apesar de não acreditar que o amado fosse capaz de morrer pelo vil metal, ou por qualquer compromisso moral.

Nisto, como um lampejo, uma ideia lhe vem à mente!

Pega a bolsa, chave do carro e sai rápido atrás do seu Júlio antes que a loja feche:

— Como vai dona Amélia, há tempos que não aparece. Em que lhe posso ser útil? - Diz sorrindo seu Julho por detrás dos óculos de aros de tartaruga.

— Quero algo especial, desenho exclusivo! Responde Amélia mirando as vitrines reluzentes com os brilhos das gemas expostas, capaz de convencer o mais ortodoxo ateu da existência da vida eterna na companhia dos anjos...

Sorridente, Amélia espera ansiosa a chegada de Alfredo no lobby do aeroporto internacional. Vendo-o, corre a ele de mãos estendidas. Alfredo as toma para o clássico beija mão antes do abraço forte e do beijo ardente. Mas, para. Exclama:

— Amélia! E sua aliança?

— Querido, ela estava tão tristinha! Dei-lhe um pouco de alegria encrustando lhe esses brilhantinhos. Assim, a nossa união fica como você  gosta de dizer:

— Na alegria e na tristeza...


— E, como você tem boa saúde, a dor virá com o cartão de crédito...



 



BORBOLETA AZUL



Na mesa de um bar, escondido na madrugada, no meio de tragos sorvidos entre suspiros e indagações à procura dos por quês, ele se abre à pergunta da amiga:

— Sim, amor proibido tive um só!

E lhe bateu aquela saudade que o tempo não consome:

“Vivia saltitando tal borboleta azul, impulsionado pelo amor que me explodia da alma.

A insônia das noites que levava meus olhos a abraçar a paixão do meu viver.

As horas do dia que pareciam morrer, postergando ao infinito o encontro boêmio num canto qualquer.

O tremer do corpo no caminhar ansioso ao encontro do tato que minha alma alimenta.

A despedida amarga na procura de palavras vãs que não quebrem o ébrio convívio. ”

— Puxa, que amor profundo que você viveu! Me arrepio toda só de ouvir. E terminou em casamento com ela?

— Não! De amor proibido só se leva saudade. E depois, não é ela, e sim ele...



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