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A difícil arte de ser taxista - Suzana da Cunha Lima




A difícil arte de ser taxista
Suzana da Cunha Lima



- Para onde, doutor? Pergunta gentilmente o taxista.

O homem entrou no carro, soltou a gravata, estava suando em bicas.

- Pro hospital, depressa. Não estou me sentindo bem. Não vê como estou suando?

- AH, deve ser porque desliguei o ar condicionado. Gasta muito combustível. Vou por um arzinho. Temos bala e água ai. Sirva-se à vontade.

- Não quero bala nenhuma. Quero ir para o hospital, não estou me sentindo bem, deve ter um hospital aqui perto.

- Tem dois, muito bons. Vou deixá-lo no hospital, se acalme. Tome um pouco de água. Qual deles prefere?

- Qualquer um que esteja mais perto. Vamos, acelere!

- Estou no limite da velocidade, doutor. O tráfego está ruim porque é saída de colégio.

- Pois, comece a buzinar e avance os sinais. – o homem estava ofegante - Acho que estou tendo um AVC.

- Doutor, me desculpe. Não vou fazer isso: posso ser multado e ainda haver um acidente sério e coloco nós dois em perigo.

-  já estou em perigo, arre! E daqui a pouco é você que vai estar também. Sabe o que é um AVC?

-  Claro que sei, doutor, mas o senhor está querendo que eu infrinja as leis de trânsito, eu que nunca infringi lei nenhuma.  Tenha calma, respire fundo. Já estaremos nas Clínicas, que é mais perto.

- Clínicas? Está longe à beça. Pare no 9 de julho, é pertinho daqui.

- Mas não vou poder virar à esquerda.  Vou ter de dar uma volta enorme e o senhor, neste nervoso, não ajuda muito.

- Tenho mesmo que ficar nervoso. Estou passando mal e você preocupado com sinal de trânsito. Já lhe disse. Se começar a buzinar, todo mundo entende que é uma emergência.

- Menos os radares e o guarda que fica escondido nas esquinas. Tem uns três nesta avenida.  Conheço bem o tráfego, sou motorista há 25 anos...

- Pois acho que sua carreira vai terminar agora, se não fizer o que estou dizendo. – E o homem tirou um 38 do bolso e encostou no pescoço do taxista.

- Ande, vire à esquerda ali, não importa se é contramão, ou tem radar e guarda. Importa minha vida que está por um fio se eu não for atendido agora.

- O senhor pode atirar em mim. O que vai acontecer é que o carro se desgoverna e não sei onde vai parar. Nós dois morremos. 

O homem no desespero, atira. O carro começa a fazer zigzag e bate no primeiro poste. O guarda apita e pede ambulância.  Ela vem rápido.  Os paramédicos retiram os dois do carro.

- Deixe esse aqui para o IML levar. Está morto. Vou levar o taxista para as Clínicas. Este se safou bem. Só tem ferimentos superficiais.

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