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SONHO DE GIOVANA - Antonia Marchesin Gonçalves





SONHO DE GIOVANA
Antonia Marchesin Gonçalves



Numa pequena hospedagem familiar no centro de Veneza nasceu Giovana. Ali cresceu vendo os pais trabalhando muito, o que era normal em toda família da Europa. Os estabelecimentos familiares eram pequenos, e na maioria eram lojas, cafeterias sem empregados, pois os próprios donos tocavam seus negócios. Com exceção da época de alta temporada no verão, quando se contratavam funcionários temporários para ajudar.

Giovana tornou-se adolescente, acostumada com o compromisso de trabalhar, muito ativa e por lidar com todas as nacionalidades de turistas, logo aprendeu várias línguas. Era esperta, estudava de manhã e o resto do dia ajudava a mãe na cozinha, na limpeza dos quartos e servia as mesas. O pai atendia os hospedes, administrava toda parte financeira, atendia a recepção e fazia as compras. Era atraente, sempre sorridente, pele clara, cabelos longos cacheados castanhos que emoldurava o seu belo rosto com seus olhos verdes perspicazes.

 A época mais lotada de turistas em Veneza é a do carnaval e também a do torneio de corrida de gôndolas disputado no grande canal com suas cores de tradição familiar, pois ser gondoleire é herança de pai para filho. Esses torneios são muito disputados, prestigiados pela prefeitura, e os prêmios são orgulho para os vencedores. Tão importante o evento é transmitido pela TV por toda Itália.

Mas, Giovana tinha aspirações, e sonhava com outra vida e não com vida na hospedaria.  Ela queria ser detetive. Adorava ler livros de suspenses, e se via sempre envolvida em grandes enigmas resolvendo-os com raciocínio inteligente, junto ao autor os grandes casos.

Com o seu amigo de infância Giancarlo, no ultimo carnaval, eles foram às ruas para curtir o desfile de fantasias e máscaras, aproveitariam para ver também o teatro de marionetes medievais, tendo o Arlequim e a Colombina como personagens. Quem mora em Veneza não tem a cidade para si, pois está sempre cheia de gente do mundo todo, a privacidade dos cidadãos fica invadida todo o tempo, por causa disso o teatro estava localizado em uma rua menos movimentada de turistas, para que os moradores locais pudessem se divertir sem tanto atropelo. Giovana e Giancarlo ao voltarem para casa numa das vielas viram um homem mascarado em atitude suspeita, ao vê-los ele virou-se de costas e saiu às pressas, quase correndo.

Os amigos curiosos resolveram chegar mais perto do local e qual não foi a surpresa, encontraram uma jovem ferida caída no chão. Ela estava fantasiada, desacordada e com muito sangue nas vestes.  Como viram que o estado poderia ser grave, através do celular chamaram a polícia e contataram a ambulância. Os carabineires ao chegarem viram que se tratava de tentativa de assassinato provavelmente após reação ao roubo, pois as mulheres venetas, seguindo tradição antiga, usam joias em ouro, são conhecidos os seus ourives e artesões e as suas peças em ouro e pedras preciosas que eles criam.

Giovana e Giancarlo conheciam o tenente, e no dia seguinte foram à delegacia, pois queriam ter noticias do caso do dia anterior. Lá ficaram sabendo que a moça veneta foi salva graças a eles, e que o mascarado tinha sido pego. A jovem o reconheceu nos arquivos policiais, pois ele tinha passagem por roubo e estelionato. Bonito e bom de lábia se aproveitava das turistas austríacas, alemães, inglesas sua especialidade. Mas, também não perdia a oportunidade de roubar as venetas.

Giovana adorou esse episódio que deu à ela a certeza da profissão que iria seguir.

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