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Socialite ambiciosa - Ises A. Abrahamsohn.



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Socialite ambiciosa
Ises A. Abrahamsohn.



Francine estava no cabeleireiro há quatro horas. Vida de socialite não é mole. O tempo todo tem que estar atenta. A concorrência é dura. É preciso estar sempre produzida, os cabelos arrumados, a maquiagem perfeita, a roupa na última moda e a disposição para sorrir a qualquer celular ou câmara fotográfica nas proximidades. Nunca se sabe se alguma dessas fotos vai aparecer nas revistas de fofocas por aí. Enquanto o cabeleireiro fazia escova para avolumar a cabeleira loira, a moça apanhou a Caras que acabara de sair.

Era leitora assídua da revista esmiuçando página por página com sofreguidão para se inteirar das fofocas e das reuniões e festas acontecendo na cidade. Sempre havia alguma fofoca nova. Seu olhar foi atraído pela foto da Carmita numa festa a que ela, infelizmente, não fora convidada. Essa é podre de rica. E elegante... Beleza de vestido, longo cor de cereja, costureiro de New York... O olhar percorreu o vestido mas parou mesmo no magnífico colar de brilhantes entremeado com rubis do mesmo tom do vestido. Por baixo, deve valer uns quinze milhos! Tenho que falar logo com Mário. Francine tinha lido o texto ao lado da foto anunciando a grande festa de aniversário que aconteceria em duas semanas na casa da riquíssima Carmita. Tenho que conseguir convites pra mim e pro Mário. Com a grana desse colar posso finalmente largar o estrupício do Gerôncio e eu e o Mário vamos viver numa boa em Miami. Ele tem prática de arrombar cofres. Com a confusão da festa vai ser fácil. Antes ele tem que ir lá conhecer o terreno.

Francine ligou para o namorado Mário assim que saiu do salão.  Este logo topou. Tinha prática em disfarces para entrar em casas alheias. Tá no papo minha flor. Tenho uniforme, carteirinha  e até adesivo de técnico da internet para colar no carro. Entro e vou para o andar de cima localizar o cofre e o sistema de alarme.

Dito e feito. No dia, festa suntuosa, quinhentos convidados. Lá estavam os dois. Logo após entrarem, Mário subiu a escada de mármore que levava ao andar de cima da mansão. Sorte que não bloquearam a escada, pensou Francine que tentava controlar o nervosismo.  Usava uma peruca de cor castanho-escuro de cabelos curtos, maquiagem bronzeada e vestido verde. Só quem a conhecesse bem seria capaz de reconhecê-la. Circulava discretamente pelos salões evitando grupos onde percebesse algum conhecido. A cada volta olhava disfarçadamente para o alto da imponente escada.  Finalmente viu Mário fazendo o gesto de que tudo tinha corrido bem. Como combinado, Francine saiu  aparentando naturalidade pela porta principal e caminhou sem pressa pela calçada. Tinham combinado se encontrar no carro que estava estacionado a duas quadras dali.

Cadê o carro?  Não conseguia ver. Estava escuro. Será que errei a direção? Olhou, olhou, andou mais uns cinquenta metros e nada do carro. Estava certa. A rua era aquela. Só o carro não estava mais lá! Sentiu um frio na barriga que lhe subiu até o peito. Ligou para Mário no celular. Caixa postal! De novo, nada. Não precisou ligar de novo. Já sabia. Fora passada para trás.

M.... tenho que aturar o Gerôncio por mais um tempo. Depois riu. Tinha uma veia filosófica. Ainda bem que tenho ele pra me sustentar. Ligou para casa.

Alô, benzinho, já estou chegando. Hoje o jantar com as meninas terminou mais cedo. Me espere, viu, não vá dormir! Beijinho! Tchau!

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