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COVA RASA - Suzana da Cunha Lima




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COVA RASA
Suzana da Cunha Lima



— Dois passos para a direita e quinze para a esquerda. É aí que temos que cavar. Entendeu ou preciso desenhar?

— Mas...

— Não tem mais nem menos. Não temos o dia inteiro. Os homens estão com pressa. Por que está aí parado?

— Porque acho que não é desse lado da estrada.  È do outro, aquele que tem uma touceira.

— E o que você sabe disso? Nem estava com a gente nessa hora. Foi o Big Boy que escolheu o lugar. Não tem o que discutir. Tá dando uma de mané, agora? Vamo que vamo!

Tião ainda ia discutir, porque tinha quase certeza de que aquele não era o lugar certo. Mas conhecia bem o temperamento de Luizão e sabia que não era páreo para ele.  Assim mesmo resmungou muito contrariado:

— Eu estava lá, sim senhor. Quem era o motorista do carro? Se não sou bom de volante, a polícia tinha prendido vocês todos, ainda na porta do banco.

— Você pode ser bom no volante, mas agora tem que ser bom em cavar. Não quer sua parte?  Faça por onde.

Aí os dois começaram a cavar furiosamente aquele chão duro e arenoso. Daí a pouco, suado e cansado, Luizão saiu do buraco e foi tomar água.  Tião olhou-o desconfiado, aguentando a raiva:

— Quanto deu o golpe, afinal, hein Luizão? Quero saber quanto é minha parte.
Luizão olhou-o meio enviesado:

— Primeiro a gente tem que achar o saco de dinheiro, contar e depois dividir, não acha?

— Já tem tempo que cavamos e não achamos nada. É como eu disse, eu estava no carro e vi Big Boy com vocês lá na touceira, do outro lado da estrada. Tô dizendo isso desde que chegamos e você não dá atenção.

Nessas Luizão não se aguentou. Pegou a enxada e bateu forte na cabeça de Tião que se estatelou dentro da cova, o sangue escorrendo pela sua cara de espanto. Sem nem pensar, Luizão o cobriu com a mesma terra que tinham acabado de tirar.   Pegou toda a tralha que haviam levado e atravessou a estrada para o lado da touceira.

Começou a cavar e em pouco tempo encontrou o que procurava. Abraçou-se com o saco e riu amalucado.

Nem sentiu quando levou o tiro. Caiu com metade do corpo dentro da cova, o rictus do riso ainda colado no seu rosto.

Big Boy aproximou-se, empurrou-o com o pé, cara de nojo e desprezo para o cadáver sujo, suado e ensanguentado.

— Ora, ora, sua merdinha, você acha mesmo que eu ia dividir esta grana toda com vocês?


Um comentário:

  1. Muito bom, Suzana! Me prendeu a atenção e surpreendeu com o final.

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