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A PÍLULA MILAGROSA - Ledice Pereira



Close up of mixed race woman holding medication


A PÍLULA MILAGROSA
Ledice Pereira


Marilda andava tão deprimida que seus amigos estavam preocupados. Para animá-la, Rogério resolveu falar sobre o tal cientista que estava em todas as mídias. A moça, há tempos, não acessava suas redes sociais, portanto estava por fora dos acontecimentos.

Depois do término de seu relacionamento com Alfredo, afastara-se de tudo e de todos. Estava com 42 anos. Para ela, a vida tinha acabado.

Você tem tudo para ser feliz dizia Rogério é bonita, inteligente, Alfredo não é o último dos homens. Ele foi muito canalha com você. Reaja, menina! Vamos!

Conseguiu tirar um sorriso daquele rostinho triste. Sentiu que deveria continuar a tirá-la daquela depressão.

Sabe continuou há um cientista que descobriu um remédio miraculoso! Faz a pessoa se tornar mais jovem, sem rugas, com disposição, e o que é melhor, quem tomar o remédio vai viver mais de cem anos. Que tal experimentar?

Marilda sorriu novamente. Adorava Rogério, amigo de infância. O irmão que não tivera.

Resolveu dar um crédito ao amigo.

Tá bom, você me acompanha? Vou experimentar a tal pílula. Quem sabe, me ajuda a sair dessa.

E assim, Marilda marcou a consulta com o tal médico. Assustou-se ao saber o valor que teria que desembolsar, mas julgou que iria lhe fazer bem.

No dia marcado, acompanhada de Rogério, dirigiu-se ao consultório localizado num bairro nobre de São Paulo.

O local estava lotado. Apesar da hora marcada, teve que amargar longa espera. Após quase três horas, entrou no consultório. O atendimento durou apenas dez minutos. Saiu de lá com uma receita de página e meia, datilografada, onde o médico solicitava uma penca de exames a serem feitos num determinado laboratório que não aceitava nenhum convênio.

Marilda morreu com R$ 800,00 da consulta e ainda teria que gastar com os tais exames.

Tudo por uma boa causa pensou.

Nas semanas que se seguiram, dirigiu-se ao laboratório onde, a cada dia, realizou um dos exames.

Ao final de um mês, de posse dos resultados, e incentivada por Rogério, retornou ao consultório. Esperou mais três horas e recebeu as magníficas trinta pílulas pelo módico valor de R$ 3000,00.

Deveria tomá-las à noite, com chá de erva-cidreira e não poderia esquecer, caso contrário seria necessário recomeçar o tratamento.

Após um mês sem falhar uma única noite, Marilda sentia-se do mesmo jeito, desanimada, triste, sem vontade de nada. Sentia a boca seca, e os cabelos estavam caindo exageradamente.

A consulta número três foi ainda mais rápida do que as anteriores. Mais um vidro lhe foi entregue. Desta vez teve que pagar R$ 3500,00. Foi informada de que houve um aumento para acompanhar a inflação.

E mês a mês, o valor foi aumentando, o cabelo ficando cada vez mais ralo, o desânimo tomando conta, a boca muito seca. Foi assim que Natália, amiga de tanto tempo, a encontrou.

Estivera afastada por ter se mudado da cidade, mas foi informada do estado da amiga.

Não gostou do que viu. Levou-a ao seu médico de confiança apesar da dificuldade em convencê-la.

O médico nem precisou de muito para diagnosticar uma brava anemia acompanhada de diabetes. O caso requeria internação imediata.

O uso dos tais remédios foi imediatamente suspenso e, através do convênio de Marilda, Natália tratou da internação no centro de tratamento intensivo, onde permaneceu por três dias, após o que, hidratada e devidamente medicada, a moça foi levada para o quarto onde ainda ficou por mais três dias.

Recuperada, Marilda ingressou no Conselho Regional de Medicina, tendo sido comprovado que se tratava de um falso médico, resultando na prisão do indivíduo.

De tudo isso, ficaram algumas lições, que homem nenhum merece que se deixe de viver e que milagres não existem. O ideal é levar uma vida saudável, ao lado de pessoas positivas e amigas.


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