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PIETÁ - Oswaldo U. Lopes





PIETÁ
Oswaldo U. Lopes




 A devoção a Nossa Senhora da Piedade foi construída ao longo dos séculos pela convicção e sentimento popular. A presença de Maria, a mãe do Salvador, no monte Gólgota, lugar do Calvário de Cristo não é relatada nos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.

Ela é dada como presente no Evangelho de João cujo testemunho é relevante, não só pela própria presença dele, como pelo relato das palavras do Cristo:
— Mulher, eis aí teu filho.

— Eis aí tua mãe.

Uma devoção popular, não originada e comprovada nos Evangelhos canônicos nem nas Epístolas, é um fato comum nas tradições dos primeiros séculos do Cristianismo.

A figura de Nossa Senhora nos Evangelhos não é de primeira ordem, mesmo no Evangelho de Lucas, chamado, muitas vezes de Evangelho de Maria. Ela é uma figura singular, que aparece em determinados momentos (Bodas de Caná Jo 2: 1-11). De novo João é quem relata sua presença e poder.

Sem querer blasfemar, parece-me que, no texto das Escrituras, a figura de Maria Madalena tem maior relevo. É para ela que Cristo, após a ressurreição primeiro se mostra (Noli me tangere). Embora sujeita a alguma interpretação, a mulher que Lhe lava os pês com bálsamo e lágrimas é identificada como a Madalena.

        Enfim a sabedoria popular e a devoção daí resultante, sempre foram importantes no estabelecimento e fundação do Cristianismo como hoje o conhecemos.

        Lembro-me bem das histórias que minha mãe (de origem calabresa) contava envolvendo invariavelmente Jesus e São Padro e que tinham caráter anedótico e risível. São Pedro é figura ímpar nestas histórias, talvez pela sua inconfundível humanidade. Afinal ele nega, jura, tem sogra, anda nas águas enfim não podia ser mais igual a nós do que qualquer dos outros discípulos.

Numa delas, Jesus instruía a seus discípulos para que apanhassem uma pedra e juntos caminhassem.  Pedro, avesso a fardo, escolheu um mísero pedregulho e seguiu, feliz da vida, brincando com ele. Ao fim de uma longa jornada, sentam-se todos, com fome, e Jesus lança sua benção e converte as pedras que eles carregavam em pão. Pedro é contemplado com algo menor que um pão de queijo, uma migalha!

De tanto procurar encontrei um livro de Ítalo Calvino (Fábulas Italianas) em que ele recolhe inúmeras histórias de várias regiões da Itália, observando sua origem e até mantendo o dialeto regional. Ali estão histórias muito parecidas com as que contava minha mãe, tendo como personagens Jesus e São Padro.

Foi provavelmente assim que a devoção a Nossa Senhora da Piedade passou a ocupar lugar relevante na fé Católica e sua propagação cresceu exponencialmente. Embora não muitos o saibam Ela é a padroeira do Estado de Minas Gerais.

A representação Dela, ao pé da Cruz, tendo nos braços o Cristo morto, foi objeto do trabalho de um sem número de artistas, não excluindo o nosso Aleijadinho.

De todas a mais famosa, sem dúvida, é a Pietá de Michelangelo que se encontra exposta no Vaticano, hoje protegida por um vidro a prova de vândalos.
Confesso, com humildade, que numa recente visita ao Vaticano, tendo adentrado a Catedral de São Pedro por uma porta lateral, dei de frente com essa Pietá e tive uma vontade imensa de me ajoelhar ante aquela imagem tão bela e incomparavelmente feita. Deus seja Louvado (até pelos agnósticos).

São inúmeras as manifestações artísticas que tem como tema a Piedade, seja em telas seja em esculturas. Uma procura na internet revelará uma quantidade enorme de representações desse tema.

Ela e suas agonias que a transpassaram como espadas, conforme previra o sábio Simeão, Evangelho de Lucas 2: 35: “e a ti, uma espada transpassara tua alma”. Sete são as dores lembradas de Maria, desde a profecia de Simeão até o sepulcro. Daí que a representação Dela ao pé da cruz é também conhecida como Nossa Senhora das Dores tendo espadas cravadas no peito.

 O que não encontraremos na internet, até por ser pouco conhecida, é a tela, Pietá, feita pelo pintor Van Gogh. Soberba criação, em que Maria não é representada na forma de uma jovem e bonita mulher, o que é quase regra, mas como uma senhora já madura e sofrida. Pouco conhecida essa estupenda criação, se destaca entre as quase não existentes pinturas sacras do pintor holandês.
 É ela que podemos contemplar no alto desta página.


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