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VILA POMPEIA - Ledice de Sá Pereira





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VILA POMPEIA
Ledice de Sá Pereira



Plagiando Casimiro de Abreu, ai que saudade que eu tenho da minha infância querida...

Subindo a Avenida Pompeia, um filme vai passando. Quanta recordação!

O bairro era então chamado de Vila Pompéia, assim com acento mesmo. Hoje, boa parte daquelas ruas é considerada Perdizes.

Ali, nasci e cresci. Ali, residi até meus quinze anos. Ali, tive meus primeiros bailinhos, minha primeira turma de tantos amigos queridos, o primeiro namorado, o segundo namorado, a descoberta do amor adolescente.

Frequentava o Colégio das freiras e ia religiosamente às missas de domingo.

Hoje, nas poucas vezes que vou à Igreja da Pompeia procuro, e não encontro, nenhum rosto conhecido.

O Colégio.... Visitei há pouco tempo. O pátio, que eu achava gigantesco, pareceu-me minúsculo.

As freiras.... Muitas morreram ou deixaram o convento. Algumas até se casaram.

As ruas, que pronunciávamos Caióvas e Caraibas, hoje, passaram a ser,  corretamente, chamadas de Caiowaá e Caraíbas.

A Desembargador do Vale, onde morei dos onze aos quinze anos, tinha duas mãos.

Nas férias, descíamos por ela de bicicleta, desde a rua Cotoxó, atravessando a Avenida Pompeia, continuando por algumas quadras até virarmos à direita, subindo a Augusto Miranda, acho, até chegarmos à rua Coriolano ou Clélia, na Lapa. Dali, voltávamos, ladeira abaixo, pegando novamente a Desembargador (como era abreviada). Repetíamos isso várias vezes. O vento batendo no rosto vermelho que estampava alegria.

Hoje, as casas onde morávamos, tornaram-se comerciais: restaurantes, lojas, doceiras, cabeleireiros, etc. Não me identifico mais com o bairro. O trânsito intenso, os prédios enormes e o caráter comercial tiraram a poesia do lugar onde vivi tantas emoções.

Outra noite, estive com alguns amigos num restaurante argentino que ocupa o número 401 da Desembargador. Exatamente onde morei.

Comentei com a garota que nos atendeu que, prontamente, me levou a visitar a parte de cima da casa, onde ficavam nossos quartos. Achei o meu grande e o de meus pais pequeno.

O banheiro já não tem os azulejos de fundo verde riscados de preto, onde enxergávamos as mais estranhas figuras. A velha banheira foi retirada, deixando o ambiente sem personalidade.

Lembrei-me do local onde colocamos o piano, comprado com dificuldade e com a ajuda da minha madrinha.

Lembrei-me também da vitrola que ganhei quando fiz catorze anos. Meu pai mandou fazer, aproveitando o alto-falante do velho rádio. Naquele ano, ganhei do meu primo, Luís, vários long-plays, entre eles um do Elvis Presley, outro do João Gilberto. Foi meu primeiro contato com dois seres tão antagônicos e tão maravilhosos.

A Pompeia guarda tanta história de quem ali viveu ou ainda vive. Ela assistiu à minha transformação da infância à adolescência.

Sabem de uma coisa? Falar da Pompeia me dá uma tremenda nostalgia!



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