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AQUELA ILHA - Ledice de Sá Pereira



AQUELA ILHA
Ledice de Sá Pereira


Aquela ilha fechada de Niihau, no Havaí, intrigava Kaíque. Ouviu falar do lugar e da dificuldade de se adentrar. Tinha curiosidade de saber os mistérios que ali habitavam. Não conhecia ninguém que pudesse convidá-lo a conhecê-la, única forma de realizar esse sonho.

Formara-se em jornalismo e ansiava por se destacar na profissão. Não pretendia ser mais um. Queria ser o único.

Uma ilha tão pequena devia esconder algo de muito estranho.

Alugou um barco e aventurou-se, ao cair da noite, quando pensou que poderia esgueirar-se pelas sombras das árvores que a circundavam.

Os ruídos dos animais davam-lhe calafrios, mas não era homem de desistir tão facilmente. ­­

Uma garrafa de conhaque o ajudaria a enfrentar o vento cortante que assobiava, misturando-se aos outros ruídos numa patética sinfonia.

O mapa que trazia dava-lhe uma pequena ideia do que ali se descortinava.

Ao longe, avistou luzes que piscavam.

Tudo estava deserto. Kaíque sentia-se confiante. A lua iluminava o caminho. Ao perceber uma nesga e terra, trouxe o barco para ali, escondendo-o sob as folhas secas que se espalhavam pelo chão.

Movimentava-se com cuidado. Desconhecia o terreno. As luzes tornaram-se mais próximas. Avistou uma torre, possivelmente de uma igreja. Pensou que, se conseguisse alcançá-la, estaria a salvo.

Uma luz o cegou. Protegeu os olhos com as mãos em conchas.

Cinco homens o cercaram. Portavam metralhadoras. Algemaram-no e o conduziram por um longo caminho ao final do qual erguia-se uma fortaleza.

Ali, despiram-no e o entregaram àquele que seria o chefe da guarda do lugar.

Tentou se desculpar, dizendo que se perdera, que buscava outras terras, mas nada do que disse amenizou o seu castigo. Foi levado à corte suprema local, de olhos vendados, onde foi julgado e condenado à morte.

Sua última matéria foi encontrada anos depois, por pescadores que se depararam com uma garrafa que boiava pelas águas do Pacífico. Ali, contava sobre sua intenção de decifrar os mistérios daquela ilha proibida.

Seu desaparecimento nunca foi explicado, causando certo temor nos curiosos que desistiram de desbravar aquela ilha maldita.


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