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O PORTA RETRATO - Sergio Dalla Vecchia



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O PORTA RETRATO
Sergio Dalla Vecchia



Ao som dos Beatles, a festa corria solta, anos sessenta, rodinhas animadas de jovens jogando palavras hormonais uns nos outros.

Eu fazia parte de uma dessas rodas. A conversa era sobre os mais variados assuntos pops. Olhares mútuos analisavam os modos, as roupas, a simpatia e cultura dos festeiros. Após processarem as análises, surgia o veredicto. Gostei, não gostei, feio, chato etc.

Minha conclusão foi clara. Não gostei de nenhuma das moças. Não me atraíram em nada. Faltava alguma coisa que só minha alma perceberia.

Mudei de roda, acompanhado com o copo de cuba libre em uma das mãos, que vez em quando me levava a bebida à boca, para um refrescante gole. Quando me aproximei da nova rodinha, fui instantaneamente flechado por par de olhos castanhos, mirando  em cheio o coração. Minha alma aprovou sem restrições.

Hoje após cinquenta anos de casados, sentado no sofá da sala, quando olho para o velho porta retrato sobre a mesinha à nossa frente, ainda me sinto flechado por aquele olhar. Viro o rosto de encontro ao dela. Miro seus olhos e com sofreguidão busco seus lábios carnudos.

Beijo o vazio.

Ai, que saudades!

PESSOAS QUERIDAS - Antonia Marchesin Gonçalves




PESSOAS QUERIDAS
Antonia Marchesin Gonçalves


                   Muitos anos se passaram e ainda tenho na memória um grande amigo familiar. O seu carisma era forte, alegre, divertido e um excelente médico cardiologista. Quando solteiro vinha sempre almoçar ou jantar em casa. Sua risada contagiante repercutia em todo tempo que conosco convivia.

                   Eu jovem no início da adolescência, tímida e envergonhada, com o surgimento dos seios a aflorarem, andava curvada, para escondê-los, ele com todo respeito fazia-me encostar reta na parede, punha livros na minha cabeça e dizia, agora ande sem derrubar nenhum.  Eram regras de postura duma época em que a mulher tinha que seguir perante a sociedade, altivez e delicadeza.

                   Isso era desconfortável e eu não gostava, mas ele insistia dizendo que a postura era importante para também não prejudicar a coluna, eu adolescente ficava aborrecida e reclamava para minha mãe, que por sua vez dava razão a ele. Ele, apesar de muito jovem, já tinha os cabelos grisalhos o que aumentava o seu charme, a medida que convivia com ele, sem perceber, sentia uma admiração crescente, talvez fosse a minha primeira paixão.

                   Passaram anos. Eu já casada recebo a notícia de sua morte e do filho mais velho num desastre de carro. Levei anos sonhando sempre com eles vivos, acredito que o meu inconsciente não aceitava as suas mortes.

                   Presenças marcantes em minha vida, saudades de pessoas queridas.



O RESGATE DO RIO PINHEIROS - Oswaldo Romano



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O RESGATE DO RIO PINHEIROS
Oswaldo Romano


         A bacia do Rio Pinheiros até a década de 30, tomava toda região da Zona Sul e parte da Oeste da cidade. É formada pelos rios Jurubatuba e Guarapiranga. Abrangia uma extensão de todo vale entre a Fazenda Morumbi e a parte baixa da hoje Faria Lima.

         O panorama era de extensa várgea formada pelas dezenas de córregos de ambos os lados cuja foz é o rio. Seu leito contornando irregularidades do solo formava caudalosos desvios que entravam pelas laterais e inundavam terrenos até seu definitivo deságuo.

         Sua corredeira alcançava no Rio Tiete, o que o mantinha limpo e usado para a prática de esportes inclusive a pesca.

         A concessão dada a Light para o transporte urbano com o uso dos elétricos sobre trilhos, aqui chamados de bondes, empresa Canadense de larga visão, viu a necessidade de organizar essas águas, retificar o rio, com o objetivo de criar uma usina elétrica na baixada da Serra do Mar. Um caríssimo e atrevido empreendimento.

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         Foi necessário represá-lo com um futuro lago previsto por Kenney Billings, engenheiro americano, invertendo seu curso. Essas águas iriam alimentar grandes tubulações projetadas para acionar a usina Henry Borden, em Cubatão.

         Nessa mudança o rio deixou de ser rio, transformando-se num lago. Não havendo corrente, a não ser esporadicamente, é um depositário do esgoto das dezenas de córregos poluídos.

         Resolvida a fonte de eletricidade para a cidade e seus bondes elétricos, a Light compartilhou com a CIA. CITY, outra gigante imobiliária internacional, que regularizando a várgea, permitiu o maior desenvolvimento urbano de São Paulo.  

         Conheci aquelas terras desde 1950. A Cia City, dominava grandes áreas, e lançava modernos bairros. Ruas loteadas foram abertas apenas com as guias assentadas, mas arborizadas e com rígidos regulamentos.  As que conheci na época, eram de terra, ou melhor de barro.

 Os aqui descritos são insignificantes traços da evolução dessa região.

 Para ligar estes fatos permita-me dizer que na ocasião eu abri uma pequena loja de materiais para construções no bairro dos Remédios, local lindeiro a foz do Rio Pinheiros, no encontro com o Rio Tietê.

Corria o ano de 1961, depois do expediente, já anoitecia, precisei ir no bairro Alto dos Pinheiros, visitar o fornecedor, conhecido e festejado atleta. Manoel dos Santos, medalha de bronze olímpica em 1960, em Roma. Encalhei com meu Fiat próximo a sua casa vítima do barro importuno do Rio Pinheiros, depois de um exaustivo dia. Tínhamos contas para acertar. Ele era representante de uma fábrica de tacos para assoalho, de quem comprava boa quantidade com pagamento antecipado. Um dos fregueses que aguardava o produto era o construtor Mofarrej, importante empresário de armazéns na região recuperada pela retificação do rio.

As terras onde hoje está o Parque Vila Lobos, serviam à Prefeitura para depósito do lixo da cidade, e aceitavam também terras e entulhos da construção da canalização do Rio. Os proprietários da famosa e cobiçada área eram da Família Abdala. Passava por ela o Córrego Boaçava, que na parte baixa formava um pequeno lago dentro das terras. Aconteceu o que não queriam. Foi desapropriada para um Parque. Na época prevalecia o valor venal. Receberam um valor de 10 milhões, insignificante. Não foi justo, discutiram judicialmente e passados anos e anos os idosos morreram, e só em 2017 os herdeiros ganharam o pagamento, parcelado em 10 vezes o valor ajustado.

A evolução da minha pequena loja, citada na Vila dos Remédios, ganhava extraordinário sucesso. Reagimos e construímos imponente prédio, mas para atender uma freguesia que abrangia toda América do Sul, imigramos para as bandas mais valiosas das terras barrentas retificadas da história do Rio Pinheiros. Ao terreno principal, juntando aquisições de casas lindeiras, conseguimos ficar com 27.000 mt2 do terreno.  Lançando ali o Romano Center – O Fantástico Mundo da Construção, na Av. Berrini, contribuímos para o bairro ser o que é hoje, como aconteceu na Vila dos Remédios.

Considerada uma das três mais valiosas áreas de São Paulo, aquela várzea barrenta, cortada pelo rio mais poluído da cidade, tem suas principais terras valorizadas em $18.000,00 reais, o mt2.


Fato curioso nas construções nessas áreas, o desaterro para subsolos, que pode alcançar até cinco pavimentos, o lençol freático mistura-se às águas do rio transformando a escavação em desafiante lago. Vencida a construção da Cortina Protetora, a ingerência descabida de enormes bombas, secam o local.

O Rio Pinheiros continua lutando.

Quando construí nossa casa, com subsolo, no já falado bairro Alto dos Pinheiros, arborizado e regulamentado pela Cia. City, enfrentamos para o subsolo, o mesmo terreno alagadiço. O premiado Frank Cheng, autor do projeto, desafiado disse: “é do melhor barro que construo a melhor escultura”.



A ÓPERA EM SÃO PAULO NOS ANOS 50 - Oswaldo U. Lopes


Mario del Mônaco em O Guarani


A ÓPERA EM SÃO PAULO NOS ANOS 50
Oswaldo U. Lopes




         Embora meu pai fosse de nobre ascendência portuguesa, minha família era tipicamente italiana. Minha mãe, brasileira, mas de ascendência peninsular, Calábria, era a coluna do conjunto. Meu pai inclusive aprendeu ou sabia italiano.

         Ou seja, éramos uma família paulista da primeira metade do século XX. Os costumes eram italianos, a comida idem e as amizades também. Os que agora falam em empoderamento feminino, apenas nos dias de hoje, não conheceram o mundo em que vivíamos.

         Lembro-me da paixão pela ópera. Havia na minha casa um grande baú e dentro partituras completas. Volumes grossos que continham a música e a letra das mais famosas. A maioria Verdi, como seria de esperar. Discos completavam a festa. As conhecidas bolachas de 78 rpm, Enrico Caruso, Tito Gobbi, Beniamino Gigli entre outros.

         A família de minha mãe chegou a ter uma frisa no famoso Teatro Colombo, Largo da Concórdia, e ela contava ter visto o próprio Pietro Mascagni regendo, entre outros.

         Assim, não foi de espantar que aos 14 anos eu começasse a ver óperas. Meu irmão era muito amigo de um sobrinho de Alfredo Gaglioti, famoso empresário que organizava, no Teatro Municipal, grandes temporadas, todas recheadas de nomes do primeiro escalão operístico.

         Entre outras figuras, lá apareceram Renata Tebaldi, Maria Callas, Beniamino Gigli, Mário del Monaco, ou seja, o chamado primeiro time, gente que se apresentava ou já tinha se apresentado no Metropolitan de Nova York.

         Assim, lá estava eu, em pleno Municipal assistindo várias óperas! Confesso que a decepção foi grande, só voltei a assistir esse tipo de espetáculo, anos mais tarde em Londres e uma única vez.

         Não lembro a ordem, mas lembro das imagens. A ópera era a Traviata, Verdi, famosa e baseada na Dama das Camélias de Alexandre Dumas Filho. Violeta, a cortesã, é jovem e vai morrer tuberculosa. Na cena final em que ela cai morta no colo de Armando (tenor), Renata Tebaldi não teve dúvidas e largou o corpo e se jogou para cair nos braços dele.

Ele também não teve dúvidas ante a ameaça daquele volume desabando em cima de si, jogou uma perna para trás e deu um sonoro Hugh! Como que sabendo o que estava por vir. O riso tomou conta da plateia.

         Não fui o único a rir. Vejam como Roberto Gaglioti, filho do empresário, descreveu as duas divas:

“ - Tebaldi fazia um tipo másculo e Callas era gordona.”

         Parece que esta maldição das sopranos corpulentas vem desde sua primeira apresentação. Salvini-Donatelli sua primeira interprete, não tinha nem um pouco a aparência tisica e a cena em que ela morre tuberculosa foi recebida com risos.

Os que têm na memória uma Maria Callas magra e esbelta deveriam saber que no período, fim de 1953 início de 1954, ela fez um regime rigoroso e perdeu 36 kg. A encantadora Norma (Bellini) que nos acostumamos a ver, veio depois dessa monumental perda de peso.

Os que hoje se deliciam ante as figuras bonitas e finas de Anna Netrebko, Patrícia Janeckova e Elina Galanca (mezzo-soprano que o Mozarteum está trazendo a São Paulo) não fazem ideia do corpanzil das divas de antanho.

A ópera é um combinado de representação teatral associada ao canto. O tipo físico tem que se associar ao papel. Não é outra a razão pela qual cantores, como Luciano Pavarotti, Montserrat Caballe, Jesse Norman, preferiam ou só faziam consertos evitando o vexame da representação em cena de papéis para os quais seus corpos não mais se coadunavam.

Nessa temporada ainda teve Mário del Mônaco, um tenor famoso, mas já um pouco gordo, cantando o Guarani, vestido apenas com umas poucas penas. Plácido Domingos, que aparentemente achava essa ópera graciosa, levou-a à cena nos USA, mas dado seu corpo preferiu usar um traje de índio americano em vez do necessário, de penas.

É da mesma ocasião o episódio Beniamino Gigli, tenor de prestigio, mas já avançando na idade. A ópera era Tosca (Puccini) e o personagem Mário Cavaradossi vai ser fuzilado ao amanhecer e canta conhecida área: “E lucevan le stelle”.

         Gigli esmerou-se e embora idoso deu o melhor de si. O teatro veio abaixo pedindo bis. Como é costume, no caso de bisar uma área o personagem não mais a encena, mas vai à frente do palco e canta. Foi o que fez Gigli para delírio da plateia.

Foi aí que, naquele intervalo entre o vai dar outro bis ou não, que se fez ouvir uma voz vinda lá de cima da galeria;

“ - Não dá outro que você morre”.

         O Teatro Municipal de São Paulo embora não seja pequeno não é dos maiores. A galeria fica visivelmente próxima do conjunto e a voz ecoou pelo teatro todo e junto vieram as risadas, de início meio abafadas e depois em jorro. Gigli ficou como que perdido sem entender nada, mas o maestro Armando Belardi percebeu claramente o acontecido e seguiu a música sem titubear, fazendo o som da orquestra abafar o riso.

         Os ingleses acham que a ópera é um espetáculo completo no sentido que requer uma orquestra, cantores especiais que também representam, coro e um corpo de baile. Na maioria das partituras clássicas, é comum trechos em que se ouve um coro cantando, ou um grupo executando uma dança.

         Foi assim, pagando caro e com pouco entusiasmo, que fomos assistir um Rigoletto no Covent Garden, em Londres (1975). Eu não tinha mais 14 anos, mas 38. O tenor estava debutando na Europa, era finlandês e seu nome Peter Lindroos. Confesso que não me entusiasmei e aplaudi para ser educado. A surpresa foi assentar o binóculo para uma mesa ao fundo do cenário em que convivas do Duque de Mântua fazem uma refeição.

         É preciso atentar para o conjunto. Em primeiro plano o tenor canta “ La Dona e Mobile”, um pouco mais atrás seus convidados dançam, e lá no fundo a mesa com o jantar. Apontei o binóculo para a mesa e, pasmem, um convidado servia outro de uma garrafa e o líquido que vertia era tinto, cor de vinho. Vai ver era até o próprio.

         Essa história me lembra outra, de um brasileiro, meu amigo, que fazia uns bicos nas produções do teatro inglês como figurante.

 No Macbeth há uma cena em que durante uma ceia o próprio vê o fantasma de Banquo e começa a falar, como que delirando, assustado com a aparição. Como ninguém mais está vendo o vulto a fala de Macbeth parece pura loucura.

O comando do diretor era que os convidados nesse momento conversassem entre si. Foi assim que meu amigo, num inglês bem razoável perguntou ao vizinho também figurante:

- O que se passa com ele?

- Ataque de hemorroida, foi a resposta o que fez meu amigo enfiar a cara no prato para não sufocar de rir.

A ILHA PROIBIDA DE NIIHAU, HAVAI. - Sérgio Dalla Vecchia






A ILHA PROIBIDA DE NIIHAU, HAVAI.
Sérgio Dalla Vecchia



Caio, repórter sagaz, ávido por furos intrigantes e misteriosos, despediu-se da família, partiu rumo ao Havaí, especificamente para a Ilha Niihau.

Era pouco habitada com seus 130 indivíduos e já conhecida como ilha misteriosa.

Diziam que lá acorriam fatos sobrenaturais e registros de algumas mortes mal esclarecidas. Suspeitavam de haver uma seita, que sacrificava pessoas, como oferendas em macabros rituais.

Ninguém ousava ir até a ilha, sem autorização expressa do seu chefe.

Caso contrário a morte seria certa!

Mesmo conhecendo as histórias arrepiantes, Caio resolveu para lá seguir. 

Montou em seu caiaque e partiu naquela iluminada noite de mar calmo, acompanhado de longe pela brilhante esfera lunar.

Após duas horas de firmes remadas, aportou em uma pequena praia escondida  entre duas grandes pedras.

Arrastou a leve embarcação para dentro das folhagens  e a camuflou.

Câmera fotográfica à tiracolo, lanterna na mão, uma inspirada profunda e a Coragem como companheira, penetraram na mata.

Ouvia a percussão de tambores e gritos de salvas.

Não entendia as palavras, mas sentia a batida assustadora dos instrumentos repercutindo na alma. Quanto mais avançava, mais audíveis se tornavam as palavras das vozes graves, acompanhando o ritmos marcante.

— Odala, Odala, Humm Rá, Humm Rá!

— Odala, Odala, Humm Rá, Humm Rá!

Ansiedade e tensão de uniram para intensificar a transpiração de Caio. Medo era o que sentia naquele momento, pensou até em desistir. Se não fosse sua inabalável companheira Coragem, que o pegou firme pelas mãos e o arrastou em frente.

Andou até uma clareira, sorrateiramente aproximou-se e viu um grupo de pessoas cantando e dançando em círculos, marcando a cadência com fortes batidas dos pés.


— Odala, Odala, Humm Rá, Humm Rá!

Câmera em mãos, logo começou a fotografar com lente especial.

O entusiasmo era imenso, cada clique era como se fosse uma máquina registradora de supermercado, significava lucro. Os olhos brilhavam!

Fotos pipocavam até que inesperadamente surgiu um colar de luzes ao rés do chão, começou a girar rapidamente até formar um anel homogêneo e com aceleração descomunal decolou rumo ao céu.

Caio, boquiaberto, ainda conseguiu tirar algumas fotos da decolagem e do início do voo.

Já tinha o furo de reportagem. Era só voltar o mais rápido possível antes que o pegassem.

Assim fez. Chegou à praia, descobriu o caiaque e o arrastou com toda força e se lançaram ao mar.

Remou como nunca até se distanciar da zona de perigo.

Apoiou os remos sobre as pernas. Suspirou de alívio e olhou direto para o estrelado firmamento.

Para onde foi o disco, qual galáxia eles pertencem, que querem dos terráqueos, dúvidas que martelavam na sua cabeça!

Caio, esperto, começou a imaginar que aconteceria quando entregasse a reportagem para a mídia.

Assustou-se!

Seria considerado mais um visionário de UFOS, suas fotos seriam questionadas e possivelmente desacreditado!

— Não, não quero isso para mim, preciso de provas críveis!

Convicto, retomou os remos e voltou direto para casa.

Chegando da viagem, não disse nada a ninguém, sua mente já planejava como conseguiria as provas contundentes.

Iniciou a pesquisa procurando um grupo de Ufólogos.

Lá conseguiu informações estarrecedoras que nunca pensou existirem. Na terra  existiam muitas colônias de extraterrestres, espalhadas em grandes cavernas pelo mundo afora. Delas partiam e chegavam discos voadores ou naves similares rotineiramente. Os relatos eram sigilosos. O motivo era a segurança Nacional.

Toda essa censura sobre as aparições, instigou mais ainda Caio, para que se aprofundasse nos estudos ufológicos.

Após um tempo de aprendizado, tornou-se expert sobre Óvnis. Preparou-se com corpo e alma para a arriscada  viagem de retorno. Quando se achou apto, partiu sem delongas rumo ao Havaí.

Lá chegando, esperou o dia propício e usando o mesmo plano da primeira viagem, lançou-se ao mar rumo a ilha Niihau.

Depois de algum tempo de potentes remadas, aportou.

A estratégia agora era penetrar na caverna, conhecer e interagir com os Ets.
O ritual era o mesmo.

— Odala, Odala, Humm Rá, Humm Rá!

— Odala, Odala, Humm Rá, Humm Rá!

Com roupa camuflada, usando tácticas de emboscada, aprendidas durante sua passagem pelo exército, com muita técnica, prudência, contornou o palco da cerimônia, e penetrou na caverna. Seu coração repercutia tão forte quanto os tambores. A adrenalina excitava todos seus sentidos e músculos fazendo-o transpirar ao exagero.

A boca da caverna era enorme. Foi adentrando escondendo-se com sucesso de pessoas que ali se encontravam. Mais adiante deparou-se com um imenso pátio, onde havia três naves espaciais, uma ao lado da outra.

Caio escolheu a primeira em direção à boca da caverna, encontrou uma  porta que parecia não ser a principal e sorrateiramente embarcou. A nave tinha um formato de disco, com diâmetro de uns 20 metros e luzes intermitentes dando a entender que estaria prestes para decolar.

Caio estava em transe. Não entendia direito até onde queria chegar com a louca determinação. Porem seguia em frente, sempre de mãos dadas com a Coragem.

Percebeu pessoas entrando na nave, ruídos estranhos aos seus ouvidos, vozes falando um idioma desconhecido e uma movimentação geral davam sinais de que a decolagem estava próxima.

Não havia tempo para fugir. A porta pela qual entrara fechou-se. Caio tinha que encontrar um assento para aguentar a decolagem. Por sorte achou um compartimento vazio com dois assentos. Não titubeou, sentou-se rapidamente e apertou o cinto de segurança.

Rezou, rezou com fé para que sobrevivesse a mais uma das suas extravagantes aventuras.

O silencio era total. Percebeu que a porta da sala se fechou e sentiu uma pequena pressão nos ouvidos, sinalizando que havia pressurização.

A nave começou a movimentar-se a poucos metros do chão, direção à boca da caverna. Quando lá chegou, acelerou rumo ao Universo.

Caio não sentiu nenhum desconforto durante o procedimento de decolagem. Não havia barulho, assento confortável e ninguém o incomodou. Situação que causou estranheza. Esperava o pior!

Após um tempo de voo, abriu-se repentinamente uma janela panorâmica. 

Surpreendeu-se e ao mesmo tempo deslumbrado com a vista do espaço. Não acreditava no cenário. Planetas, luas, meteoros e o desconhecido, tudo ali a sua frente.

Ainda boquiaberto, percebeu que a porta da sala se abriu e entraram dois homens. Tinham todas as características dos terráqueos, altura, modo de andar e aparência. Não trajavam capacetes e nem roupas especiais, apenas um macacão prateado com um símbolo redondo estampado no peito.

Caio soltou o cinto e levantou-se rapidamente. O medo do desconhecido era imenso. Os dois homens vieram em sua direção parando a um metro de distância.

Um deles falou na língua de Caio:

Eu sou o comandante Agarb. Bem-vindo a bordo da nave Evolution 3. Estamos indo para o planeta Arret no sistema solar que forma a galáxia Aetcalaiv.

—Não se preocupe com sua integridade, você é nosso convidado . Não pense que chegou até aqui pela esperteza. Nós já o estávamos monitorando, desde que aportou na Ilha. Fazemos esse procedimento com todos. Aceitamos apenas os visitantes que acreditamos terem potencial para nossa missão, enquanto lemos as mentes por telepatia. Os reprovados entregamos para o ritual dos nativos.

—Dentro de oito horas terrestres posaremos em Arret, encerrou o comandante.

Caio absorveu cada palavra. Não tinha a menor noção do que encontraria. Por sorte pareceram amistosos e não houve problema de comunicação.

Você está convidado a jantar conosco no salão principal, tome um banho desinfetante a seco naquela cabine, depois vista um traje propício que está no armário. O aguardamos pontualmente daqui há duas horas.

Após duas horas um tripulante acompanhou Caio para o jantar.

Eram dez oficiais do comando ali reunidos. Agarb era o comandante e Onamor o sub-comandante.

Caio sentou-se à mesa entre os dois, que o receberam com simpatia.

Tomaram um suco esverdeado com gosto de vegetais e iniciaram uma conversa.

Agabr descreveu Arret, como um planeta numa dimensão antagônica a Terra. 

Ele tinha como função equilibrar as vibrações positivas e negativas emanadas para o Universo pela da Terra. Para tanto devolvia vibrações antagônicas; recebia negativas, devolvia positivas e vice versa.

Acontece que há tempos  o desiquilíbrio vem aumentando.

As vibrações negativas aumentaram tanto que o povo de Arret obrigou-se a contrapor emanando mais e mais vibrações positivas para que o bem e o mal conseguissem se equilibrar, em proporções aceitáveis para a vida na Terra.

Esse esforço está esvaindo as forças dos cidadãos de bem do nosso planeta, fazendo com que não tenham energia para o trabalho e a nossa produção ficou descompensada. Com isso a energia do mal alastrando-se com velocidade, chegando mesmo a comprometer as condições de vida em Arret. O mesmo que ocorre na Terra. Isso não podemos deixar acontecer. Por isso temos essa missão de sobrevivência. Estudamos e concluímos que a capacidade máxima que Arret pode absorver de energia é de 30 por cento de energia negativa e não 70 como recebe atualmente. Caso contrário, Terra e Arret se implodirão simultaneamente em breve.

Caio surpreendido com tantas informações, preocupado perguntou:

—Que vocês querem de mim?

Agarb olhou firme nos olhos dele e disse:

—Você será treinado em Arret em  tudo que for necessário para sua missão, terá superpoderes e ganhará a imortalidade. Sua missão é colocar o mal nos 30 porcento. Entendeu?

—Mas como, porque eu, gritou Caio?

—Foi você quem nos procurou em busca do desconhecido, portanto aí está uma aventura para lá de empolgante, retrucou Agarb.

—Você não estará só, já existem na Terra vários companheiros ajudando nessa difícil missão, durante o treinamento conhecerá todos os detalhes, continuou o comandante.

Assim Caio chegou em Arret. Era semelhante a Terra! Parecia estar em casa.

Consciente da missão universal a que foi designado, participou ativamente do treinamento e se tornou capacitado para voltar a Terra.

Já com superpoderes, resolveu conhecer Arret. Começou a sobrevoar e percebeu que era mesmo igual a Terra, povos, arquitetura, países até que, curioso buscou o endereço que morava com a esposa na Terra.

O mesmo bairro, a mesma rua e  mesma casa. Desesperou-se!

Aterrissou no quintal, na condição de invisível, entrou. Lá estava ela, linda com seu vestido florido movimentando-se pela cozinha. Entretanto não tinha o mesmo brilho nos olhos, estavam tristes. Foi para sala e encontrou ele mesmo de pijamas com um ar abatido cochilando na poltrona predileta, deveria estar desempregado e sem energia como dissera Agarb.

Caio vendo aquela cena, emocionado, percebeu ainda mais a importância da sua missão.

Encorajado pela cena, não perdeu mais tempo, decolou dali mesmo rumo a Terra.

Sazan! Cruzou o espaço como um meteoro.

Com o codinome de Namrepus,  combateu bravamente por muitos e muitos anos. A cada batalha vencida, logo o mal se erguia, parecia ser uma luta em vão, dada as características inexplicáveis dos terráqueos.

O esforço não foi o suficiente, a Terra e Arret implodiram como previram os Etes. Extermínio de todos, menos Caio e seus colegas super-heróis que tinham imortalidade.

Assim, iniciaram do zero uma nova civilização do bem, em um novo planeta, onde o povo tornou-se alegre e feliz.

Esse planeta por emanar somente energia positiva, serviu de exemplo para todo o Universo, ficando conhecido por todos os povos como o Paraiso.