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A vida de um queniano - Fernando Braga






A vida de um queniano
Fernando Braga



O Quênia é um país subsaariano, cuja capital Nairobi tem 3,5 milhões de habitantes, e é, bem cosmopolita. O país possui um relevo invejável com montanhas, vulcões, lagos e enorme fauna de animais selvagens, além do famoso lago Vitoria e os picos Quênia e Kilimanjaro, este, o maior do continente. É um dos países melhor situados economicamente na África, com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH O,569). 

Dentre os 20 países mais pobres do mundo, 19 estão neste continente. Cerca de um quarto da população africana (233 milhões de pessoas) está em estado de desnutrição, segundo a ONU. A situação chegou a esse ponto devido ao colonialismo, tráfico humano, divisão geográfica injusta feita por países europeus, conflitos internos e ainda o apartheid.


A África é considerada um continente pobre, porque a grande maioria da população, vive miseravelmente. Um continente com grandes riquezas naturais, mas com a população que não se beneficia delas, com cenários de fome, guerras e catástrofes.

Esta situação pode ir melhorando caso ocorram fatos, como o observado recentemente no Quênia, digno de ser enfatizado.

Peter Tabichi, um queniano negro, de origem pobre, como a maioria em sua pequena cidade, conseguiu com muito sacrifício estudar, tornando-se um monge Franciscano e além disto, um grande matemático e físico. A educação sempre correu em suas veias, uma vez que o pai também é professor.

Foi pensando em todos os tipos de mazelas que viu quando criança, como gravidez na adolescência, abuso de drogas, abandono escolar, que Tabichi deixou o emprego que tinha em uma escola particular e partiu para a escola de ensino fundamental Keriko Secondary School, em Nakuru. Como professor, passou a dar aulas em uma escola rural, remota, sem infraestrutura, com classes lotadas e poucos livros didáticos, onde um terço dos alunos era órfão, com pais perdidos nas guerras.

Mostrou aos alunos que "a ciência era o caminho certo" para se ter sucesso no futuro. Notou, que eles não conseguiam se concentrar, porque não se alimentavam o suficiente em casa, então passou a doar   80% do salário para apoiar os estudos dos seus alunos, conseguindo alimentos, uniformes e material escolar. Seu objetivo era que as crianças tivessem grandes ambições, promovendo a ciência, não apenas no Quênia, mas em toda a África. 

Tabichi, enfrentava desafios, sala superlotada, a falta de professores, apenas um computador. Sem uma boa conexão de internet, ia até um café na vila, baixar os materiais necessários para as aulas de ciências. Os alunos, a maioria andava mais de 7km, em estradas ruins, poeirentas, para chegar à escola. 

Sua dedicação, trabalho duro e fé no talento de seus alunos, permitiram que a escola, em área rural e com poucos recursos, ganhasse o Prêmio de Melhor Escola em Competências Nacionais de Ciências Inter escolásticas.

Os estudantes tiveram sucesso em competições científicas nacionais e internacionais, recebendo até um prêmio da Sociedade Real de Química do Reino Unido, ao usarem uma planta para gerar eletricidade. Em outro momento, os alunos foram classificados para uma feira de engenharia da Intel por terem criado um dispositivo, capaz de ajudar pessoas cegas e surdas a medirem objetos. 

Tentou até mudar a mentalidade dos pais, que queriam que suas filhas se casassem cedo, encorajando-os a deixarem que as meninas continuassem seus estudos. 

Este professor também ensinava técnicas de cultivo aos moradores dos arredores, pois a fome era uma realidade presente na região. Ensinar novas maneiras de plantar era questão de vida ou morte", disse em entrevista à Fundação Varkey. 

Além do contato com as famílias, criou os "clubes da paz" que organizou na escola, para representar e unir as sete tribos presentes ali, após a violência tribal ter explodido depois da eleição presidencial de 2007, com muitas mortes em Nakuru. 

Para ser um grande professor você tem que ser criativo e abraçar a tecnologia, as formas modernas de ensino. Você tem que fazer mais e falar menos", disse ele à fundação. 

O prêmio – Peter Tabichi, de 36 anos, um monge queniano, foi escolhido como melhor professor do ano 2019, pelo Global Teacher Prize, da fundação Varkey. 

O prêmio de 1 milhão de dólares, foi anunciado em Dubai, ao eleito Tabichi, como o ¨melhor professor do mundo¨, por ser excepcional dentro e fora das salas de aula.  Venceu, dez mil outros indicados de 179 países e, dentre eles, a professora Debora Garofalo, que ensina matérias de tecnologia em uma área carente de São Paulo, também premiada.

A fundação Varkey, é uma organização de caridade dedicada à melhoria da educação de crianças carentes e busca elevar o status da profissão de docente.  

— Estou aqui, apenas pelo o que os meus alunos conseguiram, disse ele ao receber o prêmio.

O fundador da premiação, Sunny Varkey, disse ao entregar o prêmio, esperar que a história de Tabichi "inspire os que procuram entrar na profissão e seja um poderoso holofote sobre o incrível trabalho que os professores fazem no Quênia e em todo o mundo, diariamente". É como um prêmio Nobel da Educação.

O concurso é patrocinado pela Fundação da família de origem indiana Varkey, que chegou nos anos 1950 aos Emirados Árabes Unidos – na época um protetorado britânico e fizeram fortuna criando uma rede de escolas particulares para filhos de executivos e técnicos estrangeiros, que foram para a área contratada por empresas de petróleo.

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