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CURTAS E CÍNICAS - Oswaldo U. Lopes




CURTAS E CÍNICAS
Oswaldo U. Lopes

1 – Mariazinha a do comportamento duvidoso
         Como muitos sabem a Mariazinha é que nem o Joãozinho, só que do outro gênero. Franca, direta, viva e às vezes um pouco inadequada. Essa é a razão pela qual eles raramente são vistos juntos. Armariam uma confusão incomensurável.
         Bem, nesta história o par dela era o Alfredinho, um pouco simplório, mas justamente por isso parceiro, ideal para ressaltar as qualidades dela. Foi quando resolveram que era hora de fazer xixi e aí começou a confusão. Mariazinha viu que ele fazia em pé e não precisava se agachar. Achou muito prático e próprio. Dai resolveu espernear e gritar que queria ali e agora um daqueles.
         A mãe veio correndo achando que ela estava aprontando outra e ouviu a reclamação e o desejo imediato de um daqueles.
Então explicou:
— Agora não é possível, mas quando você crescer e se comportar bem vai ter um só para você.
— E se eu não me comportar, retrucou a Mariazinha, que burra não era e sabia a pestinha que saíra.
— Bem, ai vai ter uma porção.

2 – A história da leoa e do emponderamento feminino
         Há não muito tempo, era frequente passarem na televisão, um daqueles vídeos da vida animal, filmado em alguma reserva na África. Várias coisas chamavam a atenção na luta entre o leão mais jovem que desafiava o mais antigo.
         Não lutavam até a morte. Lá pelas tantas o velhote se retirava confirmando a soberania do desafiante. O narrador no informava que o retirante iria morrer de fome em pouco tempo. O leão jovem herdava o harém do outro o que significava cinco ou seis leoas e suas crias.
         Para enorme surpresa dos espectadores o novo soberano ante o olhar impassível das mães, ia matando um a um os leãozinhos filhos do derrotado. Isto era anunciado, como feito, para evitar concorrências no futuro.
         Sempre me choquei um pouco com aquela história e usava o fato para situar a questão da cogniscência. Entre os humanos era possível mudar os costumes a partir da evolução do pensamento e da maneira de encarar e viver na sociedade. Um comportamento como o observado entre os leões, se existente algum dia, não seria admissível hoje.
         Já entre os grandes felinos a coisa era antiga e continuaria imutável. Não imagino ninguém tentando doutrina-los a respeito do infanticídio.
         Bem, outro dia me contaram que numa versão mais recente do combate dos reis da selva, a leoa resolveu se insurgir e botou o leão para correr, salvando sua cria.
         Perguntaram-me o que eu achava.
         Hesitei um pouco, mas formulei o meu pensamento.
         — Essa mania de construir pousadas, superequipadas, nesses parques safari, cheias de conforto, inclusive gigantescas televisões nas varandas que os animais podiam ver de longe, dava nisso. O emponderamento feminino chega à floresta.

3 – Telefone celular um pouco antigo
         Meu celular e um modelo antigo que serve perfeitamente minhas necessidades. Meus próximos chamam-no de orelhão porque eu mais falo do que recebo, mas é inapropriado e apenas má-lingua dizer que Moises quando desceu do Monte Sinai tinha um desses na mão.
         Dia desses, minha neta que, logo logo, estará no comando de alguma startup, passou a mão nele e começou a fazer pequenas alterações, do tipo: ele se abre com a foto de um por do sol sobre uma linda ponte, depois de algum tempo ligado ele entra em compasso de espera com um bonito girassol e se fecha com uma gota caindo num belo lago azul.
         Comentei com meu filho que estava bonito, mas que isso ia acabando com a memória do dito cujo que não é das maiores. Comentário dele:
— Pai o seu celular não tem memória, tem uma vaga lembrança!
         Retruquei no calor da refrega:
— Desgraçado, vai falar isso para sua mãe.
         Ele foi e agora são dois a injuriar meu celular.


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