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O BOM DE CONVERSA - Sérgio Dalla Vecchia



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O BOM DE CONVERSA
Sérgio Dalla Vecchia

Porto de Santos era o local mais apropriado para interceptar turistas e imigrantes aportados da Europa em busca da felicidade tropical.

Fininho, conhecido corretor de imóveis na região, bom de conversa, simpático e demonstrando confiança, abordava os recém-chegados.

Era um gentleman, indicava hotéis, pensões e o que mais lhe solicitassem.

O público alvo era o dos mais abastados com dinheiro disponível para investir em novos negócios.

Por não conhecerem o Brasil, acabavam caindo na lábia do Fininho, enquanto o conhecido artigo do código penal 171 era transgredido sem o mínimo pudor.

A tática era aplicar golpes no dia do desembarque aproveitando o encantamento das pessoas. Assim que embolsasse o dinheiro sumia por uns tempos até a chegada do próximo vapor.

Tudo ia bem até que certo dia aportou uma família de italianos composta do casal e uma filha moça.

Fininho com seu infalível faro se aproximou. Entrou com a conversa de sempre e logo todos já estavam relaxados encantados com a conversa empolgante. Os sorrisos mortos na viajem ressuscitaram.

Wanda, moça dos olhos grandes, ressabiados de esguelho enquanto firmes e esperançosos pela frente.

Pela primeira vez Fininho sentiu uma emoção incontrolável quando seu olhar encontrou o de Wanda. Ele penetrava de tal forma que no transcorrer do golpe o fez gaguejar por várias vezes. As palavras divididas em sílabas ficaram congestionadas nas cordas vocais e eram liberadas uma a uma apenas nos instantes de lucidez.

As mentiras lutavam desesperadamente para fluírem nos lábios de Fininho, até que dado instante ele se viu totalmente travado e acabou desistindo de aplicar o golpe.

Wanda percebendo o dilema logo perguntou o que havia sucedido. Ele encantado que estava, não resistiu a aquele rosto lindo e acabou confessando que era um farsante e que assim que a viu houve uma reviravolta na sua alma que o fez parar.

Wanda atônita, feliz por ter convertido um malandro e ao mesmo tempo preocupada com a família, pois o dia estava findando e não haviam conseguido um lugar para se instalarem. Fininho tomando as dores da moça, fez questão que a família se alojasse na sua própria casa até que conseguissem um outro local.

Assim se instalaram na casa e os dias foram passando.

Cada um se incumbiu de determinadas tarefas, a mãe cozinhava, o pai saia em busca de trabalho e fazia alguns bicos, enquanto Wanda começou a ajudar na imobiliária. Com o tempo já entendia bem a língua portuguesa e assim acompanhava Fininho ao porto servindo como intérprete para os italianos.

A paixão de Fininho era cega, fazia qualquer coisa que Wanda pedisse. Os negócios iam bem, já estava fazendo também negócios lícitos e o sucesso era grande.

A mãe mandava e desmandava na casa, o pai também fazia bicos para imobiliária e Wanda já conhecia tudo sobre os negócios.

Ela esperta que era, logo ficou sócia da imobiliária, tomou posse da casa aproveitando que não havia escritura e como já conhecia bem os trâmites da malandragem, passou a escritura em seu nome.

Foi um caos quando Fininho descobriu a trapaça.

Inconformado pela traição da mulher de sua vida questionou Wanda:

— Por que fez isso comigo, justo eu que lhe dei tudo o que quis?

— Agora você sente na pele o que você fez a vida inteira com meus compatriotas. Pois a vida é assim, aqui se faz e aqui se paga.

— Aviso também para sair da minha casa, pois meu marido e nossos dois filhos chegarão na semana que vem.

— Os golpistas brasileiros começaram a existir no ano 1500 DC e nós italianos já existimos há centenas de anos AC. Você é apenas um aprendiz de golpista. Arriverderci!

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