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NA TRILHA DAS FORMIGAS - Maria Luiza Malina



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NA TRILHA DAS FORMIGAS
Maria Luiza Malina

Se essa história fosse minha, seria assim...


Ouvia-se morro abaixo e morro acima a gostosa gargalhada de Tio Vicente. Não era para menos. As “gaviotas” da cidade chegaram para as longas férias de verão.

Não era para menos. O sítio, tornava-se pequeno com tantas crianças, produtivo esbanjava aconchego para todo o dia, noites de lua cheia com o pisca pisca dos vaga-lumes e o aroma do jasmim. Era o único da região que tinha luz própria e água encanada nos anos cinquenta. A água chegava à casa pela roda moinho, enooorme de grande que girava sem parar à beira do rio.

Este era o cenário entre o capim touceira sobreado por altíssimos eucaliptos sombreando o pasto. Águas calmas corriam sobre pedras e, aí mesmo pescávamos lambris e uma “pinguela” feita de um tronco de árvore, ajudava na travessia.

Um lugar era proibido. De uns trinta metros abaixo, chegava o som estrondoso em ritmo obsedante de tambores indicando perigo, protegidos por extensa vegetação. A curiosidade era latente. Mal sabíamos que éramos vigiadas. Não me recordo de quem fora a ideia: - “ Vamos seguir esta pequena trilha, deve dar lá” – assim fomos pulando com medo de cobras e sapos, coisa de gente da cidade. De repetente ouvimos –“Ôpa ôpa, onde vão as gaviotas? ”  Um vulto com um cajado nas mãos, era Tio Vicente – “Ufa que alívio” – alguém com coração pela boca retrucou ofegante – “ Queremos ver onde vai dar a trilha. ” A desculpa fora unânime. Achegou-se. Olhava e olhava e deu uma risada gostosa – “isso é trilha de formiga cortadeira de ferrão muito forte” - e, depois de retrucarmos que não vimos nenhuma, explicou que, só aparecem no fim da tarde e trabalham a noite toda, uma ou outra retardatária é que provoca estragos no pé e, descalças é um doce para elas. Aliás vocês já perceberam que quando uma encontra a outra, dão uma paradinha e seguem adiante, sabem o que é? – Balançamos a cabeça em um não. Via-se na face trincada pelo sol a sabedoria de profundos enigmas – o que seria! Ouvia-se o clic-clic de algum inseto viajador, tamanho silêncio e, o segredo – feronomias. As formigas possuem antenas retráteis, já visualizávamos a televisão com Bombril na antena, e as utilizam para investigar o que aparece pela frente, comunicando –se pela liberação desta substância de nome complicado, mas na picada ela liberam um ácido, por isso é que dói tanto. Mas tem outra coisa enganadora; essa trilha vai direto à entrada do formigueiro, se é lá que vocês querem ir, então sigam, mas, percebam uma coisa, elas são tão sabidas que cada formigueiro tem três bocas e três trilhas, então cuidado para vocês não se afastarem do sítio, isso vai looonge!

Depois disto cabisbaixa revelamos o intento. Ir atrás do ruído do rio.

— No Poção! – Batia forte o cajado, espanta cobras, no chão - Eu sabia que era isto, mas levo vocês, é mais traiçoeiro do que a trilha das formigas. À propósito, já que vocês têm tanto interesse onde vai dar a trilha, vocês podem me ajudar – estou à procura da boca do formigueiro que está acabando com a horta da Tia Nena, mas como eu disse elas só saem para trabalhar no final da tarde, assim cada uma vai colocar um pouco de fermento em pó na entrada.

— Eca! Fermento de bolo?

— Sim, porque vamos espalhar bem, com cuidado e com botas, em cima delas, na trilha e na volta para casa elas vão levar nas patinhas ou na cabeça o fermento para dentro e... tá aí outro segredo: matamos a rainha. Ninguém consegue chegar até ela. Mas com a humidade das folhas que estão dentro, o fermento vai crescer – como no pão e no bolo vai crescer – e então... mata a rainha.

— Como! Então não podemos mais comer pão e bolo?

Aquela risada gostosa jamais esquecerei:  — Não, não! Isso é só para as formigas. É um controle com produtos naturais como o cravo, louro e outros mais. Não usamos inseticidas. Seguimos para nosso destino.

O pai deu uma risada gostosa. Seguimos para nosso destino. Procurávamos um escondido formigueiro que vinha há várias noites dizimando a horta da Nena. Mato rasteiro, nossos pés se escondiam no meio do capim touceira que com o vento constante nos morros, uivavamcomo lobos secando a lua”. (Formigas no morro – Oswaldo Romano)

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