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MORTOS OU VIVOS, A QUEM TEMER? - Ledice Pereira





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MORTOS OU VIVOS, A QUEM TEMER?
Ledice Pereira

O cemitério não era um lugar que me atraísse, muito pelo contrário, morria de medo de me deparar com alguma alma do outro mundo. Mas não pude me furtar de acompanhar minha prima Madalena, cuja mãe encontrava-se ali sepultada.

Eu já tinha sido alertada para que tivesse cuidado quando fosse ao cemitério.

Nunca vá só, nem muito tarde dissera minha tia Nina, que ouvira dizer que lá andava acontecendo uma série de assaltos.

Madalena, entretanto, queria porque queria visitar o túmulo da mãe.

Fomos. Eu, apreensiva, olhava para todos os lados, evitando até respirar direito para não perder nenhum ruído.

Para arrumar as flores nas floreiras do túmulo, dirigi-me a uma torneira próxima. Estava ali a encher o recipiente, quando ouvi barulho de passos que foram ficando cada vez mais próximos. Eu não conseguia ver ninguém. E como não queria chamar a atenção, fiquei estática. Dali de onde estava não avistava Madalena. Ouvi um grito. Gelei. Fui me deslocando, lentamente para a direita de onde, eu acreditava ter vindo o som. Fui agarrada por mãos fortes que me imobilizaram. Ia gritar, mas fui impedida. Estava amordaçada.

Desesperada, restou-me rezar à minha santinha, pedindo proteção.

Ninguém mais por perto.

“Madalenaaaa!”

Lágrimas copiosas escorriam, misturando-se ao caminho de terra.

O barulho da água, que escorria da torneira aberta, encobria qualquer outro som.

Rendi-me vencida. Não havia mais o que fazer. Ia morrer ali mesmo, naquele lugar propício. Triste fim para uma jovem como eu. Não era justo.

Ouvi vozes se aproximando. Era um cortejo. Alguns conversavam, outros choravam.

Minha salvação. Meu algoz fugiu, deixando-me ali agachada.

Tirei aquele pano imundo, que me impedia de gritar.

As pessoas olharam-me como se eu fosse um E.T. Estava assustada, suja de terra e com os olhos vermelhos de tanto chorar. Contei o que havia acontecido. Ficaram desconfiados. Alguns, entretanto, resolveram me acompanhar até a administração. Só lá, me dei conta de que estava sem minha bolsa e, consequentemente, sem dinheiro, sem celular e sem documentos.

Madalena havia sumido.

Tínhamos sido vítimas de bandidos.

Deixaram-me ligar para meu pai. Entre soluços, contei o que havia acontecido.

Em pouco tempo, ele estava ali. Senti-me segura quando ele me abraçou. Desmanchei-me num pranto nervoso.

Auxiliados pelos funcionários do cemitério, voltamos no sentido do túmulo de minha tia.

Madalena estava lá dentro. Encolhida. Tremendo de medo. Com os olhos assustados. Papai ajudou-a a sair dali. Contou chorando e me abraçando que quando percebeu a presença dos assaltantes, pegou nossas bolsas e escondeu-se dentro do túmulo, de onde não via nada e não tinha coragem de sair.

Papai fez questão de fazer um boletim de ocorrência.

Felizmente, ou graças à minha santinha, entre mortos e feridos, salvaram-se todos.


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