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MEU TEMPO DE ALUNO - Maria Luiza Malina



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MEU TEMPO DE ALUNO
Maria Luiza Malina


A correria era chegar em tempo de ouvir o sinal tocar espantando os passarinhos do pátio, para não deixar dúvidas – em fila indiana tomando à distância de um braço no ombro do companheiro – já era a marcação de respeito ao próximo, nada de empurrões.

Na sala de aula, os lugares eram os acertados no começo do ano, e isto raramente mudava, a não ser à pedido da professora ou de alguma mãe. O respeito seguia, ninguém se atropelava entre os corredores ou pegava com dedos ligeiros a borracha ou lápis de alguém. Caso faltasse algum material, tipo um apontador, eu levantava a mão e a professora cedia espaço a mim. Adorava fazer isto, era o momento em que ela me olhava nos olhos e eu me via refletido na sua alma, conseguia até mesmo adivinhar os pensamentos, confesso que corava e, ela percebia minhas obscuras ideias; ao escrever levantava rapidamente as pálpebras e, ela me fitava, rápida abaixava os olhos no caderno de chamada em cima da mesa, pontilhando leve a ponta do lápis. Eu a espiava e ela mim.

O silêncio era total, qualquer cochicho era mais alto do que o voo de um mosquito. Claro, havia o grupo do fundão da sala que captava os movimentos mais sutis e jogavam papeizinhos amassados pela sala. Ela via tudo e, era batata – eram os primeiros a lerem a redação.

Para conseguir ter uma nota alta, eu nunca fui o melhor da classe - isto era reservado às meninas – olhe só o que fiz; uma colinha sanfonada na mão esquerda e o dedão, tipo coçava a palma da mão, estava tudo lá; não que eu não soubesse a lição, mas a atenção desaparecia na frente da amada professora, eu só tinha olhos para ela. Ok. Tirei uma boa nota. Assim que ela percebia que alguém terminava a prova, ela o chamava com um gesto de mão. E lá fui eu. Não sabia onde colocar a colinha, segurava mais forte que podia. Entreguei com a mão direita. A esquerda estava atrás. Ela pediu que eu me posicionasse atrás dela para que ela pudesse controlar os alunos. Assim fiquei e pude ver claramente os dedões dos meus colegas mexendo e mexendo sem parar; mais se parecia a uma aula de flauta.

A vergonha foi muito grande. Ela sabia que eu colava. Nunca mais colei e nem tive pensamentos abstratos além dos livros. Passei a ser o melhor aluno da classe.  No final do ano recebi honra ao mérito.

Mas, será que era isso mesmo que eu queria? Ela foi o meu primeiro amor.

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