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A dama de branco - Fernando Braga



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A dama de branco
Fernando Braga

       Valério quando jovem, empreendera uma viagem à Europa e em Paris encontrou-se com uma amiguinha, que lá estava há seis meses, para estudar o idioma. Ela levou-o a conhecer os principais pontos turísticos e em um domingo, para assistir a uma missa negra, presente em poucas cidades do mundo. Aceitou por curiosidade.

        No momento da consagração do Cramunhão (demônio), Valério ouviu em seu cérebro, uma voz sussurrando que fizesse um pedido, que seria atendido. Não acreditava nestas “bobagens”, mas assim mesmo, pediu para ficar rico. E, não é que aconteceu!

       Logo após retornar a São Paulo, encontrou uma garota, que por ele se apaixonou, cuja maior qualidade era ser filha de um milionário, de milhões e milhões.  Foram morar em uma mansão, passou a trabalhar com o sogrinho querido, com uma retirada mensal assaz satisfatória.

       Nunca relacionou sua sorte com aquele encontro com o tal do Cramunha, com o qual sem saber, havia feito um pacto.

       O tempo passou, ele agora com sessenta anos, tinha a vida que pediu a Deus. Dinheiro, saúde, amigos, viagens para cá e para lá e até alguns encontros fortuitos, dos quais a mulher jamais suspeitara.

       Recentemente, passara a ter sonhos diferentes, onde via os números 7 e 3 passando, voando em sua frente e   às vezes, ao longe, uma voz cavernosa que repetia estes números e ainda, estranhamente, dizia:     Você agora é meu! Meu! Meu!...

       No começo acordava e se esquecia, mas depois, como havia sempre uma repetição destes sonhos, passou a achar estranho. Uma preocupação se instalou. Por que aqueles números? Porque aquela voz sempre dizendo a mesma coisa? Não comentava com ninguém, podiam achar que estavisse ficando doido!

       Procurou uma vidente conhecida, para que interpretasse os sonhos repetitivos. Ela lhe disse que 7 e 3 eram números místicos, conhecidos desde a antiguidade. Ficou tensa após ter relatado o episódio, agora bem distante, relacionado com aquela missa negra.

       Pouco tempo depois, dentro de uma noite fria de julho, associada a uma forte tempestade com raios e trovões, acordou sentindo muita dor do lado direito do abdômen,  cólicas cada vez mais fortes que desciam em direção aos testículos. Começou a urrar, suar copiosamente e apresentar vómitos. Levantou-se, andou e a dor não o deixava. Deitou-se novamente e pediu à esposa, agora acordada e assustada, que fosse até uma farmácia próxima e lhe comprasse comprimidos e ampolas de Baralgin. Ela saiu às pressas.

       Uns 10 minutos após ela ter saído, deitado, com dor irresistível, a porta do quarto se abre e aparece a figura de uma jovem, cabelos longos, traços delicados, vestida com uma camisola branca, que caminhou em sua direção. Ele ficou parado, assustado e ela inclinando-se, tocou o seu abdômen, no local principal da dor.

       Como que por encanto, a dor passou completamente. Com voz maviosa, disse:- Agora vá urinar no banheiro, não na privada. Ele levantou-se e foi.

        Ao urinar, saiu junto uma pedra pequena, do tamanho de lentilha. Coletou-a e guardou em um vidrinho. Voltou ao quarto para rever aquela figura impressionante, mas ela havia desaparecido.  Logo após, chegou sua mulher com a medicação e, ele sorrindo, cantando, mostrou-lhe o vidrinho com a pedra eliminada.

        — Foi um cálculo renal, disse. Nada comentou sobre a visita que tivera.

       Desde este acontecimento sonhava toda noite com aquela dama linda, vestida de branco, com olhos voluptuosamente azuis, que olhava-o com carinho, tocava seu corpo e sumia. Queria continuar o sonho, mas sempre acordava, muito frustrado.

       Meses após, ou melhor, no começo do mês de março do ano seguinte, novamente o sonho. A dama misteriosa reapareceu.

       Desta vez, não perdeu tempo e puxou-a contra seu peito, entrelaçando suas mãos às dela, juntando os lábios. Neste preciso momento ela levitou suavemente, levando-o consigo pelos ares... Tinha ele, a sensação de felicidade completa!

       No dia seguinte, a esposa ao tentar acordá-lo, percebeu que estava roxo, frio e não respirava. Estava morto!

       O legista confirmou a presença de enfarte do miocárdio.

       Aquela dama maravilhosa, nada mais era que, mais um disfarce do notável Cramunhão, que viera buscá-lo para sempre! Ele o havia avisado através daqueles números 7 e 3, míticos, (julho e março), que havia chegado a hora de receber a sua parte do compromisso pactual, firmado naquele domingo em Paris.

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