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HOLLAND ISLAND - Ledice Pereira


HOLLAND ISLAND
Ledice Pereira



Ali eles viviam. Ali eles eram felizes. Ali eles tiveram suas filhas.

Uma ilha deliciosa de se viver onde todos se conheciam. Jefferson chegou ali por acaso, a convite de William, habitante da ilha. Depois levou Ellen para conhecer e ela se apaixonou pelo lugar.  Casaram-se e foram para lá. Compraram uma casinha. Preço convidativo.  Lá ficaram. Elizabeth nasceu dois anos depois. Mais tarde veio Ingrid. Formavam uma linda família feliz.

Os próprios moradores construíram escola, igreja, agência de correio. Viviam da pesca e da agricultura. Viviam uma vida pacata, em contato com a natureza.

Aos fins de semanas reuniam-se em grupos. Realizavam piqueniques,  festas, sempre com muita música. Todos tocavam algum instrumento.

Elizabeth cantava muito bem enquanto Ingrid tocava acordes no violão para acompanhá-la. Tudo ali parecia perfeito.

Sabiam que quando as meninas atingissem idade de cursar a Universidade, teriam que se  mudar para o continente. Enquanto pequenas, permaneceriam na ilha.

Os moradores começaram a perceber que o mar vinha aumentando o nível. 

Atribuíam ao derretimento das geleiras. Resultado do aquecimento global. Não podiam supor, entretanto, que o mar ficaria tão furioso, com ondas que chegavam a cobrir algumas casas localizadas à margem.

Os pais de Jefferson, que acompanhavam as notícias a respeito começaram a se preocupar e o convenceram a deixar a ilha, mesmo que fosse por um tempo limitado.

A família fez as malas e embarcou na lancha que tinha comprado, dirigindo-se a Baltimore City, onde viviam os pais de Jefferson.



Algumas semanas depois tiveram a triste notícia de que Holland Island havia sido engolida pelo mar furioso. Apenas uma casa mantivera-se de pé.

As meninas choravam e iam sendo consoladas pelos avós. Preocupavam-se com os amigos que lá deixaram. Aos poucos, souberam que todos estavam salvos. Tinham escapado a tempo.

A adaptação não foi fácil. A cidade era muito grande, tudo muito diferente. Já não podiam viver tão à vontade, pé no chão e pouca roupa. Jefferson teve que buscar um emprego na área de engenharia, profissão que exercera antes de se mudar para a Ilha. Helen, que era professora, conseguiu uma vaga para lecionar numa escola próxima, onde matriculou as meninas, que estavam com 10 e 8 anos.

Os avós tiveram papel fundamental na adaptação. Ele, marceneiro, construiu uma linda casinha de boneca e um balanço que pintou de vermelho com a ajuda das pequenas. A habilidosa avó confeccionou uma cortina xadrez para enfeitar a janelinha.

Logo, a casa se encheu de crianças que vinham brincar atraídas pela novidade.

A vida surpreende. Às vezes, é necessário enfrentar os obstáculos, vencendo-os com coragem. Eles, com a ajuda da família, conseguiram dar a volta por cima, recomeçando.

Jefferson, que quando foi morar na Ilha, abandonara de certa forma pais, irmãos, primos e tios, passou a olhá-los com outros olhos, respeitá-los e constatou que a família é o alicerce de tudo.


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