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CHERCHEZ LA FEMME - Oswaldo U. Lopes




CHERCHEZ LA FEMME
Oswaldo U. Lopes

        Hiroito já esperava pelo telefonema quando chegou à sua sala. Ouvira no rádio. Uma mulher fora assassinada no Shopping Center Norte. Caso esquisito. Pelo menos o território lhe era familiar. Andara muito por aquele Shopping quando era mais jovem. Imenso, tinha características próprias. Um andar só, o térreo, muito movimentado, para quem duvidava e achava que só havia riqueza nos Jardins, era de cair o queixo.

        Quem conhecia o norte da Cidade e sabia o que eram nomes como Tremembé, Casa Verde, Santana, Vila Guilherme, tinha uma boa ideia de como havia recursos, casas luxuosas e uma alta classe média fora da zona sul. O enorme complexo do Shopping que incluía o Lar Center era um reflexo certinho disso tudo.

        Bem não precisou esperar muito e o telefone tocou:

―Bom dia, delegado.

― Opa! Como sabe que era eu.

― Com esse crime no Shopping, já esperava pelo senhor.

― Pois se esperava ponha-se em campo. Está todo mundo alvoroçado. Até secretário anda aflito,  telefonando. Vê se faz alguma coisa e rápido. O Joaquim do 13º Distrito da Casa Verde vai junto. Você não é daquelas bandas?
― Nasci em Santana.

― Vamos ver se em casa você se sai bem!

― Já me sai mal, delegado?

― Se está procurando confete errou de dia. Resolve o caso que arranjo confete, serpentina e tudo mais que você anda querendo.

        Hiroito encontrou o Joaquim no próprio Shopping e escolheram um pequeno café para conversar. O crime fora cometido na noite anterior num dos restaurantes de maior movimento.  Uma senhora bem vestida e elegante, jantara na companhia do que parecia um jovem, também de roupas mais elaboradas que vestia terno e calça finos, porém usava um chapéu que tornava impossível qualquer identificação, mesmo considerando o número de câmaras que existiam no recinto e no próprio shopping.

        Cada um entrara no Shopping por sua própria conta. Ele por volta das 21h30min.  Provavelmente para o jantar. Ela entrara as 11h00min da manhã já que era uma conhecida dona de lojas finas, das quais uma importante filial ficava ali mesmo no Shopping.

        O encontro fora no restaurante onde D. Helena, já se encontrava numa mesa situada numa virada do canto o que os tornava meio que escondidos do tumulto geral do local.

        A hora do crime já fora estabelecida por dados de autopsia e pelas câmaras como sendo por volta das 22h30min. Mas, só deram pelo corpo imóvel sentado à mesa, quando o restaurante ia fechar lá pela meia noite.

        Cherchez la femme aqui estava difícil a própria femme já havia sido chercheada.  Engraçada essa expressão francesa, fora inventada por Alexandre Dumas, pai (aquele do Conde de Monte Cristo há mais de cem anos, em 1854, para ser preciso) numa história em que era falada por um policial e virara moda na policia e nos contos e romances que incluíam detetives.

        No Brasil era comum ouvir-se entre os investigadores a expressão:

“― Procura uma mulher, garanto que tem. ” Expressão bem sexista que atribuí às mulheres a causa dos mais variados crimes. Herança de Eva na certa. A maioria dos que a usavam na policia não tinha ideia nem de Alexandre Dumas nem do original francês. Machista não precisa de passaporte nem de Google.

        Se era causa de alguma coisa D. Helena estava morta e bem morta. O tiro fora dado de perto quase a queima-roupa. De grosso calibre com certeza, mas o que o que mais impressionava era a quantidade de explosivo que devia haver no cartucho.  A bala atravessara o corpo da mulher e fora se alojar na parede. A primeira noticia do IML falava em destroçamento da aorta e de sua raiz no ventrículo esquerdo. Morte como que de imediato.

        A balística ainda não fora concluída, mas era provável que o tiro tivesse partido de uma pistola com silenciador. Deve ser Glock como a minha pensou Hiroito. O tiro fizera barulho. Essa coisa de tiro silencioso só acontecia na TV. De fato, o que havia era um barulho como que da abertura de uma garrafa de champanhe, mas naquela hora e com o movimento que se notava nos vídeos, ninguém percebera nada.

        Se “Cherchez la femme” estava fora de questão, cui bono como falava o tio Ajiro que era advogado criminalista e chegado ao latim, caia bem. Quem lucrava com esta morte.

        Depois de dois dias, Hiroito reuniu-se de novo com Joaquim agora com mais elementos.

        D. Helena era uma mulher rica e decidida que ficara viúva muito cedo, com duas filhas pequenas. Não se encolheu, foi à luta e acabou dona de uma rede de lojas de roupas finas do tipo prêt à porter. Ganhou e ainda ganhava muito dinheiro. Tinha fama de generosa e pagava bem suas criativas modistas, bem como o pessoal de venda de suas lojas.

        Esse pessoal na certa não era quem podia lucrar com a morte dela. Cui bono não se aplicava a eles.

        Das filhas a mais velha, Heloisa era médica e se casara com a profissão. Era ainda jovem, mas tinha nome e sobrenome. Cardiologista infantil era frequentemente chamada por causa de doenças congênitas. Vivia de e para a profissão, não se dando sequer a encontros fortuitos com eventuais parceiros, colegas ou não.

        Eleonora, a mais jovem era totalmente diferente. Estudara arte e design e frequentava baladas onde, a mais das vezes, circulavam vário tipos de drogas, não sendo incomum o ectasy. Nesse meio conhecera Mário de idade próxima da sua e cujo meio de vida não era conhecido, mas suposto.

         Para grande tristeza da mãe, Eleonora resolveu se casar com Mário. A tolerância com os desvairos e atitudes rebeldes da filha, fizeram com que D. Helena patrocinasse uma festa de arromba.

        A ultima noticia que circulava nas baladas frequentadas pela dupla era que Mário se metera numa encrenca grande com fornecedores de droga e agora estava com a cabeça a premio, na base do ou paga ou morre.

        Hiroito detestava mexer com drogas, dizia que para isso existia o DENARC, mas homicídio misturado com drogas era prato quase que semanal. Ali estava um cui bono prontinho. Mário conseguira convencer a sogra para jantar e durante o próprio tentara o achaque. Repelido tentara se transformar de genro em herdeiro.

        Até a posse de uma Glock 40 fora possível rastrear, agora que se sabia que essa fora a arma do crime.

        Não fora um caso difícil era preciso reconhecer. Mas fora rápido. Em 72 horas já tinha a solução pronta e destrinchada para por no colo do delegado Fabricio. Ficou na dúvida se iria receber confetes e serpentinas conforme o prometido.

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