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CONTANDO NINGUÉM ACREDITA - Ledice Pereira



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CONTANDO NINGUÉM ACREDITA
Ledice Pereira

Uma cidade fantasma?

Casas minúsculas circundavam a praça, cujas árvores prateadas pareciam de alumínio.

Faltava cor. As nuances de cinza iam do claro ao escuro, o que tornava o lugar mais assustador.

Sons indecifráveis gemiam de dentro das pseudo casas.

Um veículo, se é que se podia chamá-lo assim, aproximou-se do grupo que, entre surpreso e estático, quase foi atropelado. Não havia motorista.

Que lugar seria aquele? - Perguntavam uns aos outros, apavorados. Eram jovens, que ao terminar o ensino médio, haviam optado por uma viagem de cinco dias, para conhecer e explorar algumas praias virgens do litoral norte de São Paulo. Para isso, haviam contratado Felipe, um guia amador, que vinha se aventurando na área há apenas um ano.

Como haviam chegado ali, naquele povoado no meio do caminho?

Vários obstáculos os havia obrigado a desviarem do trajeto pré-estabelecido.

Figuras estranhas começaram a deixar as mini-casas, dirigindo-se à praça. Tinham o corpo prateado como se feitos de lata, e os rostos não eram definidos.  Emitiam sons metálicos. Seriam robôs?

Ignoraram o grupo visitante, juntando-se em volta daquele arvoredo rompendo sons ensurdecedores.

Os jovens tentaram correr, mas percebiam-se presos ao chão. Suas cabeças pesavam. Não conseguiam raciocinar. Tampouco podiam mexer os braços que estavam adormecidos, bem como a língua, impedindo-os de se comunicarem entre si.

Haviam programado um jantar nababesco num restaurante indicado por Felipe que ficava na cidade de destino já que, durante todo o dia, tinham comido apenas os lanches que trouxeram. Os estômagos roncavam.

Com os corações aos pulos e tentando, sem êxito, enxugar as lágrimas que insistiam em cair, rezavam para que os pés se soltassem e o   formigamento passasse.

Mas, nada. Aquela reunião continuava, indefinidamente, sem que pudessem pressentir o fim.

Felipe, que vinha aprendendo a enfrentar situações embaraçosas, ao perceber a escuridão do local, conseguiu alcançar sua potente lanterna, ligando-a e direcionando para o local da reunião.

Foi o que valeu. A luz provocou um efeito de espelho, fazendo-os refletirem-se, uns nos outros, atordoados. Um a um, aqueles estranhos seres foram caindo, ao mesmo tempo em que o grupo de jovens sentiu-se com os pés livres, voltando a mexer os braços e podendo se comunicar.

Sob o comando de Felipe, acenderam, ao mesmo tempo, suas lanternas, dirigindo o foco de luz para os estranhos minúsculos seres, o que permitiu que corressem até os carros e fugissem dali sem sequer olhar para trás.

Alguns sugeriram que desistissem da viagem e voltassem para São Paulo. Entretanto, a maioria decidiu continuar o plano inicial. Assim, chegaram com grande atraso ao tal restaurante. Sujos, esbaforidos e mortos de fome, tiveram que implorar ao dono que os servisse. O velho duvidou daquela história fantástica que contaram:

─ Não pensem que acredito nesse monte de mentiras. Só vou servi-los porque já tinha adiantado o prato encomendado e não quero jogar comida fora, mas moro aqui desde que nasci e nunca ouvi nada mais estapafúrdio. Vocês, jovens, têm uma imaginação!!!

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