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A MULHER DO RIFLE - Ledice Pereira




A MULHER DO RIFLE
Ledice Pereira

Criticada por uns, idolatrada por outros, assim era conhecida Dona Edwiges.
Vivia só. Ela e Deus,  como costumava dizer.

A casa, se é que se podia chamar assim, mais parecia uma fortaleza, ou um museu de armamento. Paredes forradas de armas de todos os tipos, que herdara de seu pai.

Velho Edmundo era um delegado que todos temiam. Desfilava portando armas, com as quais defendia a região, dos invasores, vândalos e vagabundos.
A cidade, com ele, andava nos trilhos.

Edwiges aprendeu com o pai a manusear aqueles instrumentos e, quando de grave doença, o velho veio a falecer, mesmo sem ter cursado advocacia e, portanto, sem poder candidatar-se ao cargo de delegada, sentiu-se responsável pela segurança do lugar.

Ninguém brincava com ela. Era corajosa e tinha uma pontaria que todos ali temiam.

Até o novo delegado a respeitava e, muitas vezes, vinha, cheio de dedos, trocar ideias com a “mulher do rifle”, como era chamada, pois temia que ela fizesse justiça, literalmente, com as próprias. mãos.

Os vizinhos, entretanto, principalmente os jovens e crianças, a idolatravam. Perto dela, sentiam-se seguros e, a qualquer sinal de perigo, gritavam:
─ Socorro, dona Edwiges!

Imediatamente, a mulher aparecia sem medo, empunhando uma de suas armas.

Atendendo aos pedidos deles, passou a ensiná-los a manejar rifles e revólveres. Nem o delegado, nem os pais dos jovens poderiam tomar conhecimento daquele pacto.

Mas Edwiges envelheceu. As pernas ficaram mais fracas, as armas passaram a ter um peso maior, a vista começou a falhar.

Um belo dia, quando bandidos tentaram roubar-lhe o armamento, ela gritou o mais que pôde e aqueles que ela tinha ensinado a atirar, atenderam aos gritos e entraram, corajosamente, empunhando suas armas, além de facas e facões com os quais enfrentaram os atrevidos ladrões que, pegos de surpresa, fugiram assustados, sem levar nada.

Edwiges, agradecida, distribuiu as armas aos rapazes que passaram a fazer parte dos defensores da cidadezinha, com a aceitação e supervisão do jovem delegado.

A cidade ficou conhecida pela segurança e quando Edwiges morreu, um abaixo-assinado foi encaminhado à Prefeitura para que, em homenagem àquela mulher corajosa, passasse a se chamar Edwiges.

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