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Visitante inconveniente - Ises A. Abrahamsohn

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Visitante inconveniente
Ises A. Abrahamsohn

 ̶  Manhê, seu amigo está aqui. Vem ver, ele veio fazer uma visita.

Samara não se lembrava de “amigo” nenhum. Apressou-se para ver de quem de tratava. Teve um sobressalto. Ela não conhecia aquele homem que estava na sua sala de mãos dadas com sua filha.

̶  Quem é você ? Como conseguiu entrar?

̶ Olá Samara, não lembra mais de mim? Votuporanga há oito anos. Isso te refresca a memória?

Samara estremeceu. O rosto estava diferente mas a voz não. Engoliu em seco.

̶  Ernesto o que faz aqui? O que quer?

O homem avançou pela sala encurralando-a contra a parede.

̶  O que quero você bem sabe. Mande a garota pro quintal!

Samara se abaixou até a criança que já percebia que o  visitante não era amigo coisa nenhuma. Obedeceu e saiu pela porta da cozinha.

̶  Sei o que você quer mas a sua parte no assalto não ficou comigo. Foi o Manoel que escondeu debaixo do assoalho na casa da mãe lá na cidade.

Ernesto chegou mais perto. Sabia que era mentira. O Manoel, com a faca na garganta, tinha confessado. Samanta ao largá-lo tinha levado junto a grana toda. Duvidou... Tinha obrigado o Manoel a  tirar os tacos do chão e achou o esconderijo. Vazio... Olhou em volta. Dos móveis só sobrara o essencial: um sofá, uma velha televisão, a geladeira e o imundo fogão. Tudo o mais  o infeliz já havia vendido. Lixo e garrafas de cachaça esvaziadas pelos cantos. O cara certamente não tinha mais nada.

̶ Sua ordinária! Não venha com essa. Já estive com o Manoel. Vocês viveram no bem bom um ano e  eu lá na cadeia gramando. E ainda passou a perna no idiota que era apaixonado por você.  Esperei todo esse tempo para pegar a minha parte. E você vai me dar já!

Samara tentou escapar, mas Ernesto a prensou contra parede. Sentiu o metal da faca no pescoço. O homem empurrou-a escada acima apertando a ponta da arma no vão das costelas.

̶ Sei que ainda tem a grana guardada aí!

Samara foi abrindo os armários que Ernesto revirava. Empurrou a mulher  para a cama e amarrou-a com o lençol.

̶  Vou retalhar seu rosto devagarzinho até me dizer onde está a grana!

Samara ficou apavorada. O dinheiro estava no banco, mas Ernesto não acreditou. Viu a lâmina chegar perto do rosto e gritou por socorro.  Um pontapé derrubou a porta do quarto e três policiais entraram com as armas em punho. Samara desmaiou. Ao voltar a si soube que sua esperta garotinha foi até a vizinha que logo chamou a polícia.


E o dinheiro? O dinheiro estava mesmo no banco e o crime não prescrevera. Samara e o ex-namorado Manoel pegaram seis anos pelo assalto à casa do juiz de Votuporanga.

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