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Um amor de empregada - Fernando Braga


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Um amor de empregada
Fernando Braga

O casal não podia ter filhos, ele Marcos e ela Lucia. Aos 18 anos, ele foi operado de uma ectopia testicular, um pouco tarde para evitar que a produção de seus espermatozoides fosse baixa., resultando na incapacidade de poder engravidar uma mulher. Foi uma ignorância por parte de seus pais, que não o operaram antes. Mantinha, contudo, até um pouco exagerado, a libido.

Após cinco anos de casamento, nada de filhos. Ou adotariam ou ficaria por isso mesmo.

Admitiram Rosário, uma empregada que veio da Bahia, moça de uns 20 anos, clara e bem estruturada fisicamente. Saindo com alguém em um fim de semana, este alguém a engravidou e, que quando soube, sumiu. Com três meses de gravidez contou o fato à patroa, que ao comunicar ao marido, pediu para dispensa-la, pois os havia traído. Completou: -Traído nossa confiança!

 Eles sabiam que pela lei, não poderiam mandar embora uma empregada grávida.  Ficou nervoso, decepcionado, porque no íntimo sentia uma certa atração por ela, atração que não deixava transparecer. Várias vezes, olhou pelo buraco da fechadura quando ela tomava banho.

Não tinham filhos e, certamente, Deus havia providenciado este, através da Rosário.

Nasceu uma bela criança, que era tratado pelos patrões, como se fosse seu próprio filho. Conseguiram a guarda da criança com o beneplácito de Rosário. Chamavam-no   inclusive de filho.

 A mãe era cozinheira, arrumadeira, mantinha o mesmo status de empregada, mas ele Rodriguinho, foi para escola particular, frequentava o clube e todos consideravam-no filho do casal. Com 24 anos, Rodrigo, se formou em uma universidade.

Sua mãe continuava na mesma, trabalhando e vivendo na casa dos patrões, que a tratavam muito, muito bem mesmo, com toda condescendência, mas, por exemplo, o filho se sentava junto à mesa para as refeições, mas ela não.

O casal estava agora com 58 e 60 anos, tendo ela perdido toda sua beleza ao engordar muito e murchar. Ele, manteve o físico privilegiado graças ao esporte no clube, apenas tendo branqueado parte dos cabelos.

Um dia, ele deu um agarro na empregada, que cedeu. Havia há muito, uma atração mútua.  Sua mulher e o “filho”, não poderiam nunca testemunhar qualquer deslize de ambos, saber alguma coisa. Seria um desastre!

Com 62 anos, Lúcia notou que estava com dificuldade para lembrar nomes, palavras, compromissos e logo, meses após, todos os que com ela conviviam passaram a observar a mesma coisa. Já era a segunda fase do processo degenerativo, descrito pelo médico alemão, o Alzheimer. Encontros amorosos entre Marcos e Maria do Rosário, tornaram-se mais frequentes, pelo menos uma vez por semana.

A doença de Lucia caminhou rapidamente e após dois anos, apesar de tratamentos instituídos, ela tinha dificuldade até para conhecer familiares. Sua memória estava no fim da picada. Tornou-se absorta, vagava como zumbi, causando uma sensação de pena, em todos, particularmente em seu marido.

 Rodrigo arranjou emprego em uma firma internacional, que o enviou para a Alemanha, onde passou a viver com uma namorada brasileira, que fora junto.

 O patrão e a empregada podiam ter uma vida comum, a patroa não estava nem aí para perceber. Colocaram uma cuidadora para a mulher e assim, ficavam livres para alguns programas a mais. Por enquanto, os familiares não podiam saber, seria uma traição à esposa doente. A cuidadora manjava tudo, mas fazia boca de siri.

Quando sua mulher morreu, ele tinha 67, Rosário 54 anos e não havia mais razão para encobrirem a situação.

 É claro, que muitos comentários maldosos surgiram, mas, e daí? Nada tinha mais importância, nada deviam a ninguém e há muitos anos se desejavam!

 Quando o “filho” soube, comentou com a namorada: - Eu já manjava os dois há muito tempo. Coitada da tia Lucinha!


Rosário e Rodrigo, seriam futuramente, os únicos herdeiros da família, o que era muito, para aqueles que todas as  chances tiveram, através do casal Marco e Lucia.

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