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PICANTE – O PAPAGAIO - Oswaldo Romano




PICANTE – O PAPAGAIO

Oswaldo Romano



Quem poderia prever os atos do Picante?

Seu dono, Cascalho,  era o único que, às vezes, adivinhava suas atitudes. Vislumbrava as palavras que o Picante iria soltar. Alguém passando, soltava:

— Malandro... outra muié?.

— Está só, coitada!

 Enfim, tinha seu vocabulário recheado.

Em muitas ocasiões Cascalho se antecipava, pedindo desde logo desculpas pelo que iriam ouvir.

— Não liguem para o papagaio - dizia.

O louro tinha imprevistas tiragens. Ficavam engraçadas ditas pelo seu raspado sotaque. Onde, depenado, mostrava uma pele vermelha como pimenta e corpo esquelético.

Seu dono andava preocupado. O louro cada vez mais, mostrava conhecimento e comentava tudo que acontecia em sua volta. Já não era aquela repetição de palavras próprias da raça. Sua pequena memória lembrava coisas passadas, incomodando Cascalho, e quem ele marcava.

Numa ocasião sua mulher passando pelo Picante, ouviu:

— Você ainda vai descobrir...

Ela parou, encarou o louro, insistindo que repetisse.

Picante movendo-se no poleiro de um lado para outro, disse:

—Loro apanha. Loro apanha.

—Você não perde por esperar, retrucou.

As vésperas do dia de Judas, Abadia, a mulher do Cascalho, sequestrou o Picante, levando-o no fundo do quintal, num antigo galinheiro:

— Agora fale palhaço de uma figa. O que você sabe? Fale?

— Loro não sabe de nada.

— Ah ééh... Você também não sabe de nada?

Abadia o pegou pelas pernas e com fúria arrancava o resto das penas que lhe sobravam, cantando: – Bem me quer, mal me quer, bem me quer...

Por fim, Picante foi solto no poleiro, olhou-se todo e disse:


— Louro está triste agora. Pelado. Pelado que nem a faxineira Maria que Cascalho trouxe aqui.

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