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ANIKO - Carlos Cedano




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ANIKO
Carlos Cedano

Conheci Aniko trabalhando no mesmo escritório, ela era secretária executiva do presidente da empresa, falava quatro línguas: Inglês, espanhol, francês e húngaro, seus pais migraram da Hungria antes da guerra e se instalaram em Lima no Peru.

Foi numa festa surpresa para uma colega do escritório que nos aproximamos. Cheguei cedo à danceteria e o ambiente já estava “a todo vapor” com a animada música tropical, Aniko sentada com outras colegas, e eu a espera de uma música romântica que nunca chegava.

Animei-me, tirei-a para dançar e ela com um leve sorriso assentiu. Dançamos e conversamos durante quase toda a noite, mas não a convidei para sair outra vez por uma simples razão, viajaria numa semana para Europa, tinha sido aceito num curso de pós-graduação de dois anos com possibilidade de carreira universitária; de fato após concluir o pós-grado o reitor da faculdade me comunicou minha contratação como professor assistente na Faculdade de Comunicações e acabei ficando doze anos na Europa, mas pouco antes de voltar recebi convite para trabalhar em São Paulo – Brasil e aceitei.

Porém, antes de ir ao Brasil fui conhecer Áustria e Hungria, e algo bateu forte dentro de mim, sorri, tinha entendido minha escolha e pensei que se eu estava com trinta e oitos anos, ela com trinta e seis, talvez estivesse casada e não solteira como eu.

Hospedei-me num hotel perto da Ponte Széchenyi Lanchid e nesse primeiro dia caminhei pela Avenida Andrassy admirando e fotografando as belas mansões, e na altura do Parque da Cidade escutei que chamavam meu nome:

Quando me virei vi uma bela e sorridente senhora que me disse:

— Não se lembra de mim Roberto? Estou aqui visitando meus avós.

— Sim, como não vou me lembrar de você, Aniko?

A avalanche de sentimentos que nos invadiu falou tudo o que tínhamos guardado para dizer-nos um dia que não sabíamos se chegaria.  Beijamo-nos e nos acariciamos atraindo a curiosidade dos passantes, ninguém poderia imaginar que era a primeira vez que nos beijávamos com tanta paixão, o mundo desapareceu a nossa volta! Também choramos, rimos e saímos caminhando pela Avenida Andrassy de mão dadas.

Nos dias seguintes vivemos numa capsula do tempo, foram sete dias com uma pessoa que me mostrou coisas belas nessa cidade. Houve poucas palavras, poucas concessões às lembranças, só vivendo o aqui e agora, e se alguma coisa precisava ser dita deixávamos que os olhares, os gestos e o sorriso falassem por nos, nesses momentos até o silêncio encontrava suas próprias palavras!

Os lugares dessa fabulosa cidade também nos faziam aceder a novas emoções e sensações de beleza desconhecida quando as contemplávamos. Foi assim quando visitamos a Basílica de São Estevão, o Parque Vorosliget e quando atravessamos o Rio Danúbio pela Ponte Széchenyi Lanchid para visitar o Castelo de Buda (Palácio Real) e um dia depois contemplar a deslumbrante Budapest desde o Monte Gellért.

Os dias foram passando e chegou o da despedida, foi num belo entardecer num bistrô-café onde segurei suas mãos e disse:

 — Aniko, não será difícil ficar com você o resto de minha vida!

— Eu sei Roberto, mas eu sou casada e com três filhos que adoro, sabia que chegaria este momento, mas não queria estragar este interlúdio de amor, te amo muito e tua lembrança me fará feliz para o resto de minha vida, todo esse tempo foi maravilhoso e já estou impregnada pelo teu amor.

Caminhamos até a estação do trem e nos despedimos, sem compromissos nem promessas, com o coração triste,  é verdade, mas cheio de felicidade... São os paradoxos do amor!

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