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Firenze, nunca mais! - Angela Barros

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Firenze, nunca mais!
        Angela Barros

        O sol lentamente dava adeus ao dia quando Camila sozinha sentada no topo de uma colina sentiu o abraço de uma brisa morna acariciar seu corpo que estremeceu de prazer ao lembrar que estivera exatamente naquele mesmo lugar com Edoardo.

        Ah Edoardo! Italiano lindo. Chegou como uma tempestade de verão inundando minha vida, sem pedir licença e mergulhei de cabeça no verde esmeralda dos seus olhos, flutuei no doce balanço das suas palavras meigas ditas baixinho, ao pé do ouvido roçando minha pele.

        Peço a compaixão de vocês por me permitir essa paixão louca que me dei ao direito. Sim, sei, vocês vão perguntar como uma mulher madura, com filhos criados, quase avó se deixa levar por ruas tortuosas que fatalmente a levarão a um abismo? Responderei, não me recriminem, talvez vocês fizessem a mesma coisa.

        Vamos voltar no tempo, a um passado nem tão distante assim, fim de março, inicio da primavera na Itália quando o inverno se vai e as nuvens abrem as portas para o sol, a terra dá passagem para o desabrochar das flores que sorriem felizes enquanto os idosos e as mães com seus filhos saem às ruas enchendo praças e parques para festejar o fim do inverno.

        Depois de dois anos nadando num mar de lamentações pela perda do pai dos meus filhos, companheiros desde a faculdade, meu primeiro amor, foi nesse clima que cheguei à Mugello, na Toscana, pequena cidade próxima a Florença, pouco procurada pelos turistas, portanto, bem mais tranquila,

        Quando resolvi viajar sozinha para a Itália escolhi um lugar quase ermo, queria paz e sossego, sentar num banco da praça da cidade tendo como companhia um bom livro, comer apenas quando sentisse o estômago reclamar, caminhar sem rumo. Me perder nas nas ruas e nas horas descobrindo que o dia acabou quando o pôr do sol anunciasse o fim do dia.

        E foi neste estado de quietude, sentada nesse mesmo lugar que escutei uma voz chegando aos meus ouvidos perguntando se eu era brasileira. Respondi que sim, sem muito interesse, nem mesmo olhei para quem fizera a pergunta na esperança de que o intruso fosse embora. Que nada!

Eu adoro o Brasil. Estive no Rio de Janeiro, no carnaval ano passado. Adoro os brasileiros. As brasileiras são lindas e muito simpáticas! É mesmo? – respondi. Levantei os olhos para ver o dito cujo e meu queixo caiu. Uau, que homem!  Moreno, alto, porte atlético até, cabelos grisalhos, voz sedutora e um lindo sorriso. Devia ter cinquenta e cinco anos mais ou menos. Muito educado pediu desculpas por ter interrompido minha leitura, mas já era o terceiro dia que me via sozinha na praça, queria se aproximar, conversar, não teve chance. Hoje saí de casa determinado a me aproximar e invadir sua privacidade.  Se apresentou e me convidou para tomar uma taça de vinho. Aceitei.

        Fomos a um dos muitos restaurantes italianos com mesas na calçada, ali mesmo na praça. Ele pediu um vinho tinto Brunello di Montalcino. Como não sou iniciada na arte dos vinhos fiquei maravilhada quando o garçom trouxe a garrafa, taças especiais, um decanter e iniciou um ritual para servir o vinho que nunca tinha visto antes.

        Edoardo explicou de maneira carinhosa, sem nenhum tipo de afetação que o Brunellos di Montalcino é um dos vinhos da Toscana mais importantes da Itália, elaborado cem por cento com Sangiovese Grosso, amadurecido por no mínimo dois anos em barricas e seis meses em carvalho. Sendo da categoria Reserva deve permanecer dois anos em barricas e dois na garrafa antes de ser comercializado, único de origem controlada. Não entendi nada mas concordava com tudo e realmente o vinho era delicioso, descia como um luva antes dos seus aromas passearem por toda a boca.
       
        Quando percebi já escurecia, duas garrafas vazias de vinho jaziam sobre a mesa entre farelos de pão e restos de queijo. Tínhamos passado horas conversando animadamente quando nos levantamos. Eu meio tonta logo fui amparada por Edoardo que insistiu em me acompanhar até o hotel.
       
        Não me perguntem como, só sei que ao chegar ao hotel os braços do italiano já estava ao redor do meu corpo com meu total consentimento e assim fomos nos dirigindo ao elevador, nos corredores, a porta do meu quarto, ao beijo e a nossa primeira e louca noite de amor.

        E assim continuou durante duas semanas. Simplesmente não nos largávamos dia e noite em passeios pela redondeza. Edoardo me apresentando uma Toscana desconhecida pelos turistas, tudo é alegria e despreocupação. Passo dias sem dar notícias para os filhos.

        O tempo passa, minha viagem está chegando ao fim. Fazemos planos para nossos futuros encontros no Brasil. Eduardo promete que passará o verão comigo. Estou plena e feliz, outra vez encontrei alguém para amar.

        Até que em nosso último dia juntos saboreando o famoso vinho Montalcino em Firenze uma mulher aproxima-se da nossa mesa, sem pedir permissão, senta e pede uma taça de vinho. Olho para Edoardo, ele está petrificado. A mulher acende um cigarro despreocupadamente e com o olhar fixo no homem diz: você não vai apresentar sua esposa para sua amiga? Meu mundo cai. Levanto, ando sem rumo, vejo um táxi, aceno e entro sem olhar para trás. Nunca mais vi meu italiano!

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