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AVÓ SONIA - Carlos Cedano


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AVÓ SONIA
Carlos Cedano

Desde os oito anos Marcelinho passava os fins de semana na casa da avó Sonia, foi ela que lhe ensinou a plantar diversas espécies de flores: rosas, jasmins, gerânios, crisântemos e outras dependendo da estação do ano. O jardim estava sempre florido com diversas combinações de cores, até um pequeno número de árvores frutais podia ser encontrado, jabuticaba não faltava, nem maçã e tinha até um pé de lichia precoce que nesse ano começou a produzir. Mas seu maior orgulho era uma mesa num canto protegido do jardim, com vários xaxins de orquídeas.

Marcelinho ajudava Sonia nas tarefas de limpeza, semeadura, replantio, irrigação e adubação, não é pouca coisa a se fazer para se ter um jardim bonito dizia sempre a avó.

— Há quanto tempo cuida desse jardim, vovó?

— Desde que moro nesta casa. Cheguei aqui quando casei com vovô André, eu estava com vinte e dois anos, e agora estou com noventa, faça as contas, querido.

— Poxa! Sessenta e oito anos, que fantástico vó!

— Este jardim me ajudou a suportar a morte do André. Daqui saem flores para enfeitar nossa casa e a de tua mãe,  e também as que enfeitam o tumulo do vovô.

Marcelinho observava com atenção tudo o que dona Sonia fazia no jardim,  e aprendia rápido. Na duvida perguntava e a avó lhe dava as explicações com muito carinho. O tempo foi passando, Marcelinho praticamente já sabia tudo de jardinagem, até já tinha aprendido a enxertar flores com bom sucesso.  Um dia sua avó lhe disse:

— Meu neto querido, você me ajudou todos os fins de semana no meu jardim nos últimos nove anos, já aprendeu todo o que eu sabia além de ter lido todos meus livros de jardinagem. Sinto que você foi feliz todo esse tempo e...

— Minha vó querida disse Marcelinho, interrompendo-a delicadamente, ontem foi aprovado meu projeto para formar a horta na minha escola e também decidi fazer o vestibular para ingressar num Instituto Agronômico Paulista, quero aprender mais sobre flores e árvores frutíferas!

O rosto de dona Sonia se iluminou e a sensação de que sua missão neste mundo estava cumprida se instalou fortemente no seu coração. Foram juntos até a banca de orquídeas, Dona Sonia pegou um vaso com sua orquídea favorita, amarela, de haste comprida ao longo da qual se ordenam flores e botões (Philopolis Amarela), e a entregou para o neto dizendo:

— Cuide-a com carinho. Fale com ela de todo coração, ela te dará notícias das pessoas que ama e que já não são deste mundo, aos poucos você aprenderá a “ouvi-la”, tenha paciência!


Marcelinho levou o vaso para casa. Estava um pouco perturbado pelas palavras da avó. Dois dias depois veio a noticia de que ela tinha morrido. Teve uma morte serena como o apagar calmo de uma vela que se extingue lentamente. Morreu feliz!

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