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FORMIGAS NO MORRO - Oswaldo Romano


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FORMIGAS NO MORRO
Oswaldo Romano                                                              

        Quando a Cia. Paulista de Estradas de Ferro chegou até Saldanha Marinho, meu pai festejando esse maravilhoso transporte, comprou o Sítio Nena nas proximidades. Era grande, uma fazendinha. Prevalecia no município o cultivo da cana em razão da Usina da Barra estar perto.

        Claro que a cana dominava, porém ele era autossuficiente nas demais necessidades. Não abria mão de ter seus animais, seu pomar, e seu tanque de pesca logo depois da cachoeira.

        Adorava quando o percorrendo, coincidia com o trem cruzando suas terras.

        Numa das vezes, a caminho do morro Antu, encontramos a composição vencendo dormentes, espargindo vapor com seu apito e o som provocado a cada emenda dos trilhos. Meu pai, atento falou:

        — Sempre que ouço essa chegada, meus ouvidos criam uma melodia. Acho que é sertaneja, não consigo perceber qual.

        Eu ainda moleque não me contive:

        —Pai, eu sei uma.

        —Cante filho, então...

        —Toca fogo seu foguista,
                         Fia da Luta maquinista.

        O pai deu uma gostosa risada. Seguimos para nosso destino.  Procurávamos um escondido formigueiro que vinha a várias noites dizimando a horta da Nena.

         Mato rasteiro, nossos pés se escondiam no meio do capim touceira que com o vento constante nos morros, uivavam como lobo secando a lua.

        — Filho, ainda tenho na mente a danada daquela música. 
Preste atenção, fique em silêncio, vou me fechar e ver se me lembro.

        — Ok pai...

        Pai... Tem carroça nessa área?

        — Que eu saiba não, filho.

        — Escute, pai. O vento aqui agita as coisas, faz sons. Ouço longe um trotar de cavalos, parece carroça batendo caçamba vazia. Vozes perdidas dos cocheiros, nem sei de que lado vêm.

        — Filho. Há muito tempo, há muito tempo mesmo, este morro serviu de cemitério... antes que escureça, acho que está na ora de...

        — Pai. Que formigueiro, que nada. Vamos cair fora. Fui.

O filho desembestou morro abaixo.

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