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O segredo do quintal - CONTO COLETIVO

CONTO COLETIVO


O segredo do quintal

Participação de: Dóris Therezinha Straneli Albero, Maria Amélia Favale, Silvia Helena de Ávila Ballarati (vinha), Maria Verônica Azevedo, e Ana Maria Maruggi.


Era uma cidade inexpressiva e silenciosa na beira da estrada. Havia poucas casas que se escondiam atrás do arvorio frutífero. Os homens transitavam usando chapéu e sapato de couro. As mulheres, perfume.

Numa das casas havia um quintal  muito grande de terra, e uma cozinha aonde o sol não chegava. E lá um automóvel estacionado na sombra escura de uma frondosa árvore, guardava um segredo.

Do carro ouvia-se um choro contido. Os homens que por ali passavam ao entardecer, se aproximavam movidos pela curiosidade. Dentro do veículo uma criança com uma caixinha de madeira onde se lia a inscrição I.N.R.I.

As mãozinhas dela mostravam aflição através de leve tremor ao segurar o objeto. Talvez a lembrança viesse ao seu pensamento e lhe trouxesse alvoroço.

Depois disso a pequena cidade ganhou fama, e a caixinha ficou exposta em lugar de honra na igreja,  onde podia ser vista por todos os fiéis.

A tal caixinha de madeira no altar da Igreja Nossa senhora das Mercês era uma verdadeira incógnita.

Anos mais tarde, quando de sua primeira viagem à Europa, a jovem senhora, devota da Santa, com fervor suas mãos tremiam ao segurar o terço e rezar com saudade dos anos passados e dos entes queridos, tão distantes.

A lembrança de sua história levou-a as lágrimas.

Afinal de contas foi naquele quintal da casa onde nasceu que tudo começou. Todas as brincadeiras sob as árvores eram inesquecíveis. Lembra com detalhe daquele dia em que foram brincar no canto do quintal, lugar escuro por conta de tantas árvores, e tropeçaram em algo duro que parecia querer brotar do chão de terra. Curiosa, a pequena menina começou a cavar e se deparou com uma pequena caixa de madeira bem conservada apesar do tempo e das condições. Tão temerosa estava de fazer algo proibido que decidiu abri-la em lugar seguro. Entrou rapidamente no automóvel  onde ninguém a encontraria. Entre o medo e a curiosidade lhe veio o choro inconveniente. Mas isso não a intimidou. Forçou a abertura do pequeno objeto, que não ofereceu resistência. E pode ver tratar-se de uma chave dourada com a inscrição I.N.R.I.

Com o estranho objeto nas mãos correu para a casa entrando alvoroçadamente na cozinha escura, tateou ligeiro até encontrar o interruptor de luz e o acionou. Lá estava sua vozinha sentada ao canto chorosa e pensativa. Mas ao ver a chave nas mãos de netinha, a velha senhora suspirou aliviada.

E a cidade que era inexpressiva e silenciosa à beira da estrada, Onde havia poucas casas que se escondiam atrás do arvorio frutífero. Onde os homens transitavam de chapéu e sapatos de couro. Onde a mulheres usavam perfume. Essa cidade agora tinha sua própria história.


Um comentário:

  1. Anônimo4/19/2017

    Ficou realmente bonito, pena não poder participar. PARABÉNS
    Oswaldo Lopes

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