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O FAROLEIRO FORASTEIRO - Maria Luiza Malina

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O FAROLEIRO FORASTEIRO                                                                          
Maria Luiza Malina

As madrugas incertas de noites escuras e precários equipamentos de bordo nos navios a vapor, aterrorizavam alguns marujos no aproximar de tempestades. Entre os náufragos nem todos se salvavam e, seguiam o próprio rumo.

Sam apenas Sam. Um solitário faroleiro aportado em 1873 na costa brasileira. De jeito rude pertencia à embarcação naufragada há poucos dias no litoral salvadorenho, trajava roupas de inverno rigoroso. Longo capote, camiseta listrada, um grande chapéu de couro desgastado lhe cobria a cabeça e as costas, algo estranho para o calor brasileiro; indumentária realçada com o gasto cachimbo, no lado esquerdo da boca, de ponta amarelada da cor dos poucos dentes que lhe restavam. Seu humor variava com a lua que, influencia nas marés. Mesmo assim poucas vezes era visto na região.

Na praia de Itapuã, com restos devolvidos pela maré e palhas de sapé, ergueu uma torre em dois andares; passava os dias olhando o horizonte procurando as lembranças submergidas ao observar os jangadeiros. Nas noites, a parca lanterna clareava a areia, sendo avistada ao longe pelos pescadores que no retorno o presenteavam com um peixe, pois acreditavam que ele os acompanhava na jornada, trazendo abundância na rede. Sobrevivia calado. Por vezes os ajudava no arrastão ou na companhia ao boteco a beira mar ouvindo berimbau. Jamais interferia em algum jogo caipira de dados, facada de pescada ou torneio de pinga. Rumores corriam por conta do farol improvisado por ele; local do Farol de Itapuã. Era gente boa, diziam.

O forte cheiro do tabaco marcava sua presença. Não se sabia a origem do bom fumo. De uma forma um tanto esquisita, certa manhã encontraram o cachimbo sobre no bar. Uns diziam que ele evaporou, outros que construiu uma jangada e saiu mar a fora. Outros que, deixou de fumar e que não davam um mês para reaparecer. Este mês jamais aconteceu. Era gente boa diziam.


Foi imortalizado por um artesão tal qual era em vida, magro, alto, com seu capote escuro, camisa listrada, de olhos azuis de um vazio terrível e distante, com o cachimbo na boca. Esculpido em madeira, pedra sabão, e no que mais inventassem, tornou-se uma lenda de forma que, ao se colocar fumo em seu cachimbo, este aceso trará boa sorte e vida longa – dizem que é possível ouvir o barulho de gaivotas enquanto a fumaça se envolve pelo ar. Era gente boa diziam.

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