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É Santa, ou não é? - Angela Barros




É Santa, ou não é?
Angela Barros

      Você sabe a diferença entre turista e viajante? Turista é aquela pessoa que visita os pontos famosos das cidades que visita. Viajante foge dos roteiros turísticos tradicionais. Eu sou uma viajante a procura de lugares desconhecido do grande público


      Em janeiro de 2010, parti para mais uma viagem. Dessa vez meu destino era o Parque Nacional Talampaya, deserto vermelho formado por paredões de cento e cinquenta metros de altura, localizado no centro-oeste da província de La Rioja, Argentina.



Foi assim que ao anoitecer de um dia de verão cheguei na cidade de San Agustín Fértil,  a cerca de setenta quilômetros do parque. Cansada da viagem, assim que cheguei no hotel tomei um banho, desci até o restaurante para comer algo, e me joguei na cama.

      Sete horas em ponto da manhã seguinte toca o telefone, sem saber onde estava, atendo. Senhora, seu guia está aguardando! Pulo da cama, coloco o que seria meu uniforme pelos próximos dias, camiseta, bermuda, chapéu e tênis.  Tomo meu café da manhã correndo e parto ao encontro do Sr. Juan, que pede desculpas pelo horário e explica: depois das onze horas da manhã é impossível caminhar no parque, o calor tornase insuportável. E assim, fomos rumo ao parque.

      Depois de duas horas de visita, apesar de apenas pararmos nos lugares principais,  eu estava sedenta. O que achei exagero do Juan, logo prova-se verdade. O sol inclemente parece captar água no nosso corpo. Minha língua parece não caber na boca de tão seca. Com certeza meu experiente guia trouxe água num isopor com muito gelo no porta malas do carro.  Sr. Juan estou morrendo de sede, o senhor trouxe água, né? Não senhora, responde o maledeto. Vamos passar por algum lugar onde eu possa comprar? Não, senhora! E assim, depois de quatro horas percorrendo as maravilhas do parque, desidratada, volto para o hotel.

      Água, água, é só o que consigo balbuciar, caindo sentada na primeira poltrona que vejo. Depois de sentir a língua voltar a caber dentro da boca. Subo para o quarto. Tomo uma demorada ducha. Saio à procura de um restaurante para almoçar. Era cerca de meio dia. Logo percebo algo estranho, as ruas estão desertas, os restaurantes vazios. Sinto o suor escorrer pelo rosto, minha camiseta cola no corpo.

      Mais uma vez minha boca seca, olho em volta, nenhuma barraquinha com água para vender.  Arrasto-me de volta ao hotel. O recepcionista com um sorrisinho maroto no rosto diz: pois é madame, aqui por essas bandas entre meio dia e seis horas da tarde a melhor coisa a fazer é dormir. Dormir? Pergunto o que tem na cidade para conhecer além do parque, e ele responde: nada! Decido naquele instante: Aqui não continuo. Ligo para o meu guia, peço que providencie um carro com motorista, quero chegar em Mendonça o mais rápido possível. 

        Às catorze horas já estou na estrada com o Sr. Domingues, homem jovem, mas pelas  crateras que marcam seu rosto, parece um velho. Conversa vai, conversa vem, ele pergunta se eu gostaria de conhecer o santuário da Defunta Correa, Santuário de Vallecito

      Diz a lenda conta o homem que em 1840 a Argentina passou por uma terrível guerra civil entre os brancos descendentes de espanhóis e os poucos indígenas que ainda restavam no país. Deolinda Correa, não se conforma com o recrutamento do marido para a guerra e decidi segui-lo, levando nos braços o filho recém-nascido. Ao chegar na região do deserto próxima à província de San Juan, os mantimentos e a água da jovem mãe acabam e ela morre. O filho sobrevive bebendo o leite materno.

      Ao encontrar o bebê mamando no seio da mãe morta, o fenômeno é considerado o primeiro milagre da Defunta Correa. No lugar onde o corpo foi encontrado é construído um pequeno altar.

Com o tempo, o altar passa a ser visitado por todos que passam na estrada e transforma-se no Santuário Vallecito. Além disso, ao longo de outras estradas do país, os devotos constroem pequenos altares, nos quais os fiéis levam garrafas cheias d'água para oferecer a defunta. Defunto toma água?



      Apesar de ser considerada santa para seus devotos, a igreja católica considera o culto a defunta uma superstição. 

E agora, Papa Francisco? A defunta milagrosa do seu país, é ou não é Santa?


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