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UMA CARTEIRA SURRADA - Ledice Pereira


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UMA CARTEIRA SURRADA
Ledice Pereira

A tarde de verão levava as pessoas às ruas e às praças, umas acompanhando crianças em suas brincadeiras, outras colocando o papo em dia enquanto caminhavam.

Ivete costumava sair todas as tardes e, após a caminhada, sentava-se no banco da praça onde gostava de apreciar o revoar dos pássaros, que procuravam nas árvores lugar para se recolherem.

Ficava ali alguns minutos deixando que o pensamento a conduzisse a lugares distantes. Algumas vezes, só percebia que o tempo passara quando as luzes se acendiam anunciando a chegada da noite e aí ela avistava a lua que já reinava lá no alto.

Naquela tarde, tinha terminado os afazeres mais cedo e se dirigira para a praça quando o sol ainda ia alto. Sentou-se debaixo de uma arvore para proteger-se e ali ficou encantando-se com a criançada.

Avistou, então, um objeto escuro meio encoberto pelas folhas que formavam um tapete amarelado. Abaixou-se para examinar de perto, deparando-se com uma carteira masculina, um tanto descascada indicando que teria sido até valiosa no passado.

Curiosa, abriu, procurando algo que pudesse levar ao proprietário. Não havia dinheiro. Apenas uma foto amarelecida de uma jovem com cabelos presos, trajando vestido rodado, de cintura marcada, levando-a  a calcular que tivesse sido tirada lá pelos anos sessenta.

Havia também um papel dobrado inúmeras vezes, também amarelado, que custou a abrir, tantas eram as dobraduras. Uma carta!

A remetente assinava: Rosemarie.

Com dificuldade Ivete leu seu conteúdo. Algumas letras estavam apagadas, inclusive a data. Ivete pensou que parecia ter sido escrita com caneta tinteiro.

Outras letras borradas como se tivessem sido molhadas – Lágrimas?

Ivete tentava decifrar o que teria levado a jovem àquela despedida.

“Não me procure mais – dizia a carta. Você me decepcionou. Nunca mais quero vê-lo. Fique com ‘ela’.”

Essa carta guardada tanto tempo trazia uma triste história de amor e teria significado muito ao portador. Por onde andaria ele?

Ela tentou descobrir perguntando ao jornaleiro, ao pessoal da lanchonete da esquina, mas ninguém soube informar.

Colocou novamente a carteira encostada a uma árvore daquela praça, um pouco mais visível para que, talvez, aquele homem ainda apaixonado pudesse reencontrar-se com sua história.

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