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Um crime nunca é perfeito - Carlos Cedano


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Um crime nunca é perfeito
(SEGUINDO PISTAS)
Carlos Cedano

Marcelo Fontana, jornalista investigativo, atende ligação de seu amigo, o Delegado Fernando:

— Marcelo, preciso falar urgente com você. Sonia Marques está desaparecida há uma semana. Fomos ao apartamento dela e tudo estava em ordem, banheiro limpo, cozinha imaculada e parecia não faltar nada, acreditamos por experiência que ausência de Sonia corresponde ao tempo de seu desparecimento, mas estamos sem mais pistas.

Mais tarde os amigos se encontram na delegacia e Nando contou:

— Ontem de manhã apareceu aqui na delegacia o João Marques pai da Sonia, pisando forte, queria dar queixa do desaparecimento da filha ocorrido há seis dias e ainda exigiu que o caso fosse investigado com urgência. Disse que a filha costumava telefonar-lhe pelo menos uma vez por dia, o que não tem acontecido. Elaboramos o Boletim de Ocorrência que João Marques assinou, mas antes de partir rosnou com sua conhecida arrogância que esperava resultados rápidos. Por coincidência, ontem mesmo ligou uma pessoa e disse que tinha visto o corpo de uma mulher na beira de uma estrada. Partimos para o local indicado,  isolamos o lugar, tiramos fotos, encontramos documentos na bolsa junto com as chaves de um carro, cartões, um bom dinheiro e anéis nos dedos, não foi encontrado celular, agora podemos afirmar que Sonia foi assassinada! Evidentemente o motivo não foi roubo. Em três dias vamos ter os resultados da autopsia, continuou Nando e lhe entregou uma pasta com cópia dos documentos e fotos da cena do crime.

No dia seguinte cedo Nando liga para seu João comunicando a morte da filha e lhe pede que vá fazer o reconhecimento do cadáver no IML, caso positivo poderia retirar o corpo e o atestado de óbito. Logo depois recebe outra ligação, é de Marcelo, que lhe diz: Analisei os documentos que você me deu e são suficientes para iniciar nossa investigação,  proponho trabalhar o caso da Sonia da seguinte forma: você fecha logo o informe dos laudos forenses e começa já os interrogatórios que é uma fase chata e demorada, eu vou seguir as pistas do dinheiro e levantar os negócios de Sonia, ok?

Foram dois meses de trabalho intenso de Nando e da equipe. Foram interrogadas mais de vinte pessoas entre membros da família Marques, amigos, ex-namorados da Sonia e também o atual namorado, Beto Dias um surfista profissional. Os investigadores se defrontaram com negativas e resistências dos suspeitos, não respondiam às perguntas, mas aos poucos alguns falaram. Um dos caras se enrolou todo nas respostas e decidiram ampliar as investigações sobre ele.

Marcello lembrou que um ano atrás, quando namorava Sonia, ela lhe dissera que tinha recebido uma bela fortuna de seu pai, não era generosidade disse ela, era um modo de seu pai lavar fortes quantias de dinheiro vindas de seus duvidosos negócios e também uma forma de ganhar espaço junto a ela para influencia-la nas escolhas afetivas. Ele achava o Beto um fracassado e frouxo que só queria aproveitar-se de seu dinheiro. Mas, do que mais lembrava Marcelo era o entusiasmo dela pela Fundação que tinha criado, Sonia era formada como urbanista e queria desenvolver projetos habitacionais urbanos para populações de baixa renda, era seu maior sonho!

Marcelo chama sua assistente, também jornalista e muito hábil para levantar informações de pessoas envolvidas em casos policiais. Marcelo explica o caso de Sonia e lhe pede para levantar dados da situação financeira dela junto ao Banco Central. — Trata-se, disse Marcelo com ênfase, de ir fundo nos levantamentos, tenho muita confiança em seu trabalho.  

Enquanto isso Marcelo iniciou as investigações sobre as propriedades imobiliárias de Sonia para ter uma ideia mais exata de seu patrimônio. A preocupação dele era a mesma do Nando: com a morte de Sonia o patrimônio dela reverteria para o único herdeiro legal, seu pai! O acordo nupcial de seu João com sua mulher Rosana dizia que no caso de sua morte a herdeira continuaria a ser sua filha Sonia e dona Rosana receberia apenas uma pensão adequada além de ficar com a casa onde moravam. O acordo não apresentava brechas! Mas Sonia está morta e se João Marques também morresse, com quem ficaria o patrimônio total? Foi indagação de Nando, temo que seja com dona Rosana respondeu Marcelo.

Marcelo consultou os cartórios de imóveis e foi informado, mais de uma vez, que o advogado de dona Rosana já tinha solicitado três meses antes da morte de Sonia informações sobre seu patrimônio. Marcelo pediu copia dos mesmos documentos entregues ao advogado da madrasta Rosana,  e ficou boquiaberto com a quantidade de propriedades que Sonia possuía.  Respirou fundo porque ainda estava por conhecer o patrimônio financeiro.

Ligou para Nando para saber do andamento dos interrogatórios, que lhe disse estarem praticamente concluídos e que o principal suspeito, era aquele do primeiro depoimento enrolado, era mesmo o tal de Beto. Ainda vou interroga-lo outra vez, disse Nando, vou aperta-lo, ele sabe de mais coisas.

 — Ok, disse Marcelo, espero mais noticias.

Foi nesse momento que Nando lhe comunica que seu João tinha falecido repentinamente e a causa provável era infarto do miocárdio.

Seria outro homicídio? - pensou o jornalista.

Marcelo não ficou espantado com a descoberta de muita grana em conta corrente e nos fundos de ações de Sonia, mas a maior surpresa foi saber que todos os recursos passariam para a Fundação Sonia Marques, foi nesse momento que Marcelo se tocou que era urgente falar com o pessoal da Fundação, e para lá seguiu com sua assistente.

Tiveram boa conversa com o advogado da Fundação, que disse que Sonia decidiu doar sua fortuna dois meses antes de seu assassinato e que logo começou a tomar as medidas necessárias para transferi-la.

 — O processo financeiro está praticamente concluído e hoje deverá completar-se a operação com o acordo do Banco Central. Quanto às propriedades, disse o outro Diretor, foi um processo mais demorado e exaustivo, mas está no fim, esperamos conclui-lo numa semana...

— E quanto a possíveis interferências ou contestações judiciais? Perguntou ansioso Marcelo.

— Dona Sonia deixou testamento específico a favor da Fundação e a transferência foi iniciada por ela mesma e, além disso, os bens que recebeu de seu pai eram de caráter irrevogável e irretratável. -  foi a resposta do Diretor.

O jornalista pensou: gostaria de ter visto na hora a cara de dona Rosana e de seu advogado, quebraram a cara!

Na reunião no escritório de Nando. Nando contou que a porta de entrada para desvendar a trama foi Beto, ele entregou tudo direitinho e com detalhes que já confirmamos.  ele e o comparsa abordaram Sonia quando saia da casa de amigos tarde da noite. Usaram luvas, enforcaram-na e a levaram-na para o lugar onde foi encontrada, isso explica por que o carro da Sonia foi encontrado onde ela o estacionou. Com o material que temos podemos pedir a prisão temporária dos dois. O comparsa é liso e ainda não veio prestar depoimento.

— Me conta mais sobre esse comparsa Jamil. - pediu Marcelo.

— Quando ele era lutador de UFC, seu João o contratou como personal training, mas em realidade isso era fachada para ele vigiar seus negócios e espionar sua esposa. Virou homem de confiança de patrão e ganhou muito dinheiro, mas adorava cassinos e gastava muito além de seus ganhos, com o tempo se aproveitou da decadência física de seu patrão e virou amante de Rosana. Foi o casal que arquitetou a morte de Sonia com ajuda do Beto. Interrogada Rosana começou negando tudo dizendo que não sabia de nada, mas vencida pelas provas ela desabou e reconheceu sua culpa confirmando que foi Jamil quem matou Sonia. Ela estava no carro dele e testemunhou o enforcamento.

O telefone tocou na delegacia e Nando atendeu. Em seguido olhou para o amigo e disse:

— Marcelo, localizaram o ninho de amor de Jamil e dona Rosana, pelo que me disseram parecia a caverna de ali-baba, acharam joias da Rosana e muito dinheiro entre dólares e euros, Jamil já está preso e o caso está tecnicamente encerrado, disse Nando. Agora vamos preparar a peça de acusação dos três.

Saindo da delegacia Marcelo perguntou sobre a morte de seu João, que coincidência né?

— Você sabe melhor do que eu, disse Nando, que na nossa profissão não acreditamos em coincidências, mas isso já é outra historia.


Ambos riram e se despediram com a esperança de resolver outro caso juntos!

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